A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.
Ensaio sobre a Cegueira,
José Saramago.→🏝←
Jennie estava sentada em sua cadeira de balanço no jardim. Admirava as flores coloridas que faziam um arco para enfeitar o balanço. Se balançava suavemente, aproveitando o vento que batia em seu rosto naquele dia nublado. Vestia um pijama folgadinho laranja e sua pantufa amarela.
Sentia paz naquele momento. O silêncio reinava naquele dia sem cor, nem os passarinhos que tanto ficavam por ali, estavam presentes hoje. Abandonaram Jennie naquele dia. E apesar de Jennie gostar da companhia dos bichinhos, precisava ficar sozinha e em silêncio.
Ouvia passos na grama verde e olhou rapidamente para trás, com o coração acelerado.
Os monstros sempre resolviam atacar quando estavam em paz, sem medo e em silêncio. E Jennie nunca vai se esquecer disso.
Entretanto, era apenas Lisa que veio visitar a amiga. Jennie sorriu, mas não sabia se estava animada para ter a amiga nesse exato momento consigo.
— Bom dia, flor do campo. — Lisa falou e sorriu. Sentou-se ao lado da amiga no balanço e beijou sua bochecha.
— Bom dia.
Lisa suspirou e olhou para o arco de flores, em seguida segurou na mão de Jennie e acariciou a mesma com seu dedão.
— O que vai fazer hoje? — Lisa perguntou com o cenho franzido, em seguida, jogou sua cabeça para trás e encarou as flores, parecia pensativa.
— Provavelmente, ficar aqui sentada, sem fazer nada. — Deu de ombros. — E você?
— Ficar aqui sentada, fazendo nada com você.
— Teve pesadelo? — Percebeu a cara melancólica da amiga.
Lisa fazia essa cara por dois motivos: ou porque realmente estava triste, ou havia tido pesadelos. A garota assentiu positivamente e apertou sutilmente a mão alheia, confirmando.
Lisa engoliu em seco, em seguida comprimiu seus lábios e respirou fundo.
— Sonhei com a aranha novamente. Dessa vez, ela não matava o Nam... Matava a mim. Ela arrancou meu braço, mastigou ele e o jogou no chão. Depois, enfiou uma perna na minha barriga e com o tarso dela, retirou meu intestino... — Olhou o chão. — Ao menos, acho que era um intestino... E então, acordei. — Respirou fundo novamente e fechou seus olhos, como se quisesse relembrar as imagens que o sonho continha.
O pior de tudo, era que Lisa tinha aracnofobia. Depois do que viu na ilha, sua fobia havia piorado — o que não era de se surpreender — e desde então, passou a ter pesadelos com aranhas gigantes. Aranhas que não eram fruto de sua imaginação, ou seus sonhos querendo pregar uma peça... Elas eram reais. As aranhas gigantes, existiam e Lisa ficou cara a cara com elas.
Jennie balançou a amiga, para fazer-la abrir seus olhos e não lembrar do pesadelo que teve. Seria cruel lembrar do mesmo. E visto que Lisa já suava as mãos e sua respiração ofegava, Jennie ficou sem saber o que fazer.
— Está tudo bem agora, ok? Estou aqui. — Entrelaçou as mãos, em seguida trouxe a mão de Lisa até a altura de seus lábios e delicadamente, beijou-a.
Lisa abriu seus olhos marejados e olhou à sua volta. As flores bem coloridas e distribuídas pelo jardim traziam calma. O balanço de madeira bem revestido, com pinceladas de branco e diversas espécies de flores — principalmente margaridas — traziam a sensação de estar no paraíso. As árvores verdes que se movimentavam conforme o vento, mostrava-lhes que a vida estava em movimento, estava seguindo conforme conseguia. Alguns pássaros voavam silenciosamente pelo vasto céu nublado.
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Lost Island
General FictionTarde da noite, Jennie decide aceitar o honroso convite do Capitão Suho para se juntar à expedição na Ilha Perdida. Ela só não esperava que esta seria sua última noite sem pesadelos.