✎Die or live?

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Uma senhora que conheci ao acaso dizia que a vida é feita de fases, essas que vão te testar e fazer você se virar do avesso, mas vai passar, e verá que tudo valeu a pena....é claro que isso só deve valer para algumas pessoas já que o universo faz questão de fuder com a minha vida, e olha que ele não pagou nem um jantar antes esse desgraçado.

Desde mais nova a morte sempre me pareceu amigável, acolhedora, e algo me diz que tirará toda essa eterna dor que me remoe por dentro cada dia mais.

Não sei o que há do outro lado, céu ou inferno, uma segunda vida, uma segunda chance, entre outras mil histórias que pessoas não se cansam de inventar. Eu não sei, não tenho certeza de nada, quando eu encontrar meu fim não sei o que estará a minha espera, mas algo me diz que será quentinho e aconchegante, o oposto dessa vida gélida de tons frios.

Mais um fim de tarde, me encontrava na famosa Golden Gate, observando o por do sol, belo para muitos, eu simplesmente o odeio, na minha adolescência o baixar da luz do dia significava que o pior estava por vir, como se tudo já não estivesse ruim o suficiente.

Queria morrer.

Quero morrer.

Nada mudou.

A vida parece desgostosa ao ver minha tranquilidade, e da seus toques para que tudo volte ao seu caos irritante o quanto antes.

-O que faz ai? Pode cair do jeito que está.... - Me assustei ao ouvir uma voz masculina romper meus pensamentos, o universo ousou interromper até mesmo meu provável trágico e memorável fim.

-Quem me dera. - Disse em um tom "sonhador", imaginando mais uma vez a cena de meu fim

Ficamos em silêncio, apenas observando os tons quentes se misturarem naquele imenso céu, até que o rapaz, que na minha opnião era bem mais belo calado, resolveu abrir a matraca, e eu poderia jurar que ele começaria a cospir arco-íris e unicórnios na primeira oportunidade.

-O por do sol não é lindo? - Antes mesmo que eu percebesse ele se encontrava sentado ao meu lado, de olhos meio fechados devido ao seu sorriso que fazia com que eles praticamente sumissem, sentindo a leve brisa bater de encontro ao seu rosto, ele parecia tão feliz, como pode alguém assim existir? Parecia não ter problema algum.

-É repugnante- A frieza em minha voz pareceu congelar o rapaz que por um segundo perdeu o equilibrio, mas logo o recuperou e virou seu rosto para mim como se me estudasse e quisesse ler meus sentimentos.

Naquela ponte, meus ventos pareciam mais propícios a me empurrar de tal altura até que meu corpo fizesse ploft de encontro a água, e então deixaria as correntes pesarem sobre mim, sem lutar.

Ao contrário de mim o rapaz parecia ser amigo de seus ventos, que ao em vés de o empurrarem o mantinham são.

Eu apenas esperava. Esperava o por do sol perfeito, para que meu trágico fim fosse ao menos memorável aos olhos dos outros, mas eu nunca o encontrava, pareciam todos iguais e cinzas, cada vez mais frios ao meu ver.

O sim tinha de ser lembrado, não queria ser lembrada como "a garota que se suicidou por ter perdido tudo que tinha em tempo recorde", mas sim como "a garota que deixou-se ser levada pelas águas do rio no mais belo e laranja por do sol" me soava mais poético, pensando bem as duas me soam engraçadas, não é como se alguém fosse dar atenção suficiente a minha morte para que algum dia fosse lembrada dessa forma, eu não tenho ninguém que possa sentir o mínimo de falta da minha compania.

O mais próximo que chegaria disso provávelmente seria o senhor que me entregava frequentemente comida chinesa, já que nem mesmo cozinhar eu sabia, o quão inútil você é Camille.

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