➬Neide!

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O arco-iris após a tempestade, o pote de ouro encontrado no fim, digo e repito quantas vezes for necessário, isto é   b a l e l a.  A vida é uma droga, uma eterna tempestade de neve que nunca vai melhorar, apenas te iludir com os brotinhos que insistem em nascer no meio de todo aquele branco e gelido inverno.

A semana se passava arrastada, me encontrava praticamente fundida ao meu sofá, séries que antes nunca pensei se quer em assistir por ser ocupada demais, terminei em tempo recorde, devorando potes e potes de sorvete, que estado deplorável Camille.

"Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras."

E esta meus amigos, é mais uma das frases de nosso sábio Shakespeare, mais uma frase que retrata a mais pura verdade.

Quanto mais eu me remoia por meu passado, mais desastres me aconteciam, apesar dos dias por enquanto estarem "tranquilos", eu já sofria antecipadamente pelas contas que chegariam e eu provavelmente não teria mais dinheiro para paga-las.

Talvez eu devesse apenas apagar meu passado, vender tudo e recomeçar uma nova vida em um novo lugar, do outro lado do mundo de preferencia, não, é tólice, nosso passado é algo impossivel de apagar, faz parte de nós, dolorido demais para se esquecer tão simplesmente.

Eu segui o conselho de Enzo, iria a maldita viagem, seria um desperdicio de dinheiro deixar as passagens guardadas no fundo da gaveta, apenas lembrando-me de um sonho que não pôde ser vivido, um passado doloroso.

Não é novidade o pensamento fixo de não ter dinheiro suficiente para me entreter na viagem, pensando nisso anúnciei uma das passagens por um preço razoável, claro que no anúncio coloquei alguns de meus requisitos.

É óbvio que se eu tivesse que dividir grande parte do meu tempo com alguém -que eu nem sequer conhecia diga-se de passagem - apenas para não ter grandes custos eu teria sim minhas exigências.

Primeiro: não podia ser um homem, já estava farta deles.
Segundo: não podia ser uma velhinha rabugenta, de rabugenta já basta eu.

E é claro que também estabeleci regras, como por exemplo: sem expectativas de virarmos melhores amigas do mundo todo, dividiriamos apenas os custos e nada mais, também já me encontrava farta de amizades com data de válidade.

Enfim, apesar de todos meus pontos e vírgulas, alguém aceitou meus "mimimis" e eu estava indo encontra-la agora para discutirmos tudo melhor.

-Okay que eu estou no fundo do poço, mas eu não preciso expor isso para o mundo. - Conversei comigo mesma observando meu reflexo, cai tão baixo que de terninhos chiques fui para um  moletom gigante cheio de respingos de sorvete e pasta de dente, sem falar no meu cabelo que não me surpreenderia em encontrar algum bixinho vivendo no meio daquele ninho.

Fui tomar um banho, para ao menos fingir que ainda era uma pessoa descente que se importava com o estado do cabelo.

Graças ao meu antigo emprego, grande parte do meu guarda roupas era composta basicamente por terninhos, saia ou calça, das cores mais vibrantes até as mais funebres, mas sejá lá qual fosse meu escolhido sempre passava a mensagem de uma mulher bem resolvida e séria, ora que grande ironia, uma enorme mentira.

Depois de me vestir devidamente, apanhei minha bolsa que estava jogada em um canto desde o trágico dia que perdi meu emprego, e enfim sai de minha caverna.

-Bom dia senhorita Bellini, indo trabalhar? - O porteiro do prédio me comprimentou ao ver-me sair do elevador.

Queria xinga-lo por tocar em um assunto ainda tão delicado para mim, mas não o culpo, ele não sabia de nada, e para ajudar eu usava as mesmas roupas que costumava usar para trabalhar, pensando bem, não me lembro de sair de casa com alguma roupa que não fossem meus terninhos.

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