0.3 𝓘𝓷𝓯𝓮𝓬𝓽𝓪𝓭𝓸𝓼

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PRESENTE
16 de maio de 2019, Inglaterra.
Já fazia mais ou menos 1 mês desde que a pandemia havia se alastrado, as ruas estavam desertas e o único som que era ouvido era dos grunidos terríveis dos infectados. Octávia olhava da janela do 17º andar tentando encontrar seu novo amigo, Julian, que havia saído para pegar suprimentos em um pequeno mercado que se localizava muito perto do prédio onde estavam alojados. Era um bom lugar, parecia seguro por ser alto e não chamava atenção dos infectados com o choro do bebê, mesmo sendo terrível descer todas as escadas, pois a luz tinha sido cortada fazia pouco tempo, mas ainda assim, Julian achava melhor encontrarem outro lugar porque o mercadinho estava ficando vazio, Octávia e o bebê tinham sorte de Julian os ter encontrado, ele apareceu no momento certo. Ela estava preocupada, o bebê estava tossindo a noite toda, esperava que fosse uma simples gripe ou algo parecido, Julian também estava preocupado, já havia tentado de tudo para fazer parar mas de nada tinha adiantado.
Octávia ainda tinha pesadelos com o dia que aquele pobre repórter levou um tiro na cabeça em rede mundial, porque depois disso as coisas só pioraram. No primeiro dia ela e Olivia tentaram se manter seguras dentro de casa, a cidade não era grande por isso imaginaram que demoraria mais tempo até chegar a elas, "mas chegar o que?" sempre se perguntavam. Era um medo irracional de algo que nem sequer sabiam o que era, os sinais de tv haviam sido todos cortados, não tinham notícias de mais nada, a única coisa que ainda as dava pingos de esperança eram as emissoras de rádio ou as notícias na internet, claro que a maioria era de teóricos da conspiração falando sobre o apocalipse bíblico ou que a natureza estava tentando se vingar de todos os humanos por acabar com o planeta, não acreditavam nisso mas havia algo de muito ruim acontecendo. As pessoas estavam adoecendo e o governo estava em silêncio, manifestações eram feitas todos os dias em frente ao palácio da rainha, mas de nada adiantava. Olívia era uma mulher sozinha, a família morava em outro país, não tinha marido nem filhos, o que fazia com que ela passasse o tempo todo com Octávia, agora mais ainda. As duas foram muito amigas no colegial e Olivia foi a única pessoa que ficou do lado dela durante a gravidez, as duas eram como irmãs separadas no dia do nascimento. Ela era inteligente, achava que era algum tipo de vírus que estava assolando o continente, já havia acontecido antes e tentava se manter positiva pensando que logo os médicos resolveriam isso mas a maneira como a cidade estava quieta assustava e descia nossas esperanças, será que ninguém viria? Ninguém saia de casa com medo, alguns já haviam feito estoque de mantimentos já esperando o pior, outros não ligaram muito para o que estava acontecendo acreditando que logo tudo passaria. Olívia achou melhor elas ficarem em casa e pedir comida por aplicativos, e foi o que fizeram.
Alguns dias já tinham se passado porém nada tinha mudado, estava tudo silencioso, silencioso de mais, os supermercados e farmácias não atendiam mais os telefonemas e não abriam mais as portas, nesse momento se perguntaram se não era uma boa ideia ter feito como os vizinhos e ter estocado comida. Era uma manhã ensolarada na Inglaterra e como todos os dias Olivia foi ao quintar regar as plantas que se negava a deixar morrerem, ela achava que a acalmava e deixava sua sanidade mental um pouco melhor, o que Octávia duvidava porque vez ou outra ouvia a amiga falando com suas rosas. O vizinho, Carter, fazia o mesmo, mas nesse dia parecia diferente, alguma gripe forte o tinha atingido, estava com olheiras profundas e uma tosse muito forte, sua pele estava amarelada e a voz rouca. Ele tentou puxar assunto mas Olívia não quis se aproximar muito só dando um aceno gentil ao vizinho, por quem tinha uma certa queda, ele acenou de volta seguido de uma tosse terrível que assustou ela, "espero ser apenas uma simples gripe" indagou Olívia para si mesma, depois entrou em casa e teve a ideia de ir as ruas procurando alguma farmácia aberta, se essa gripe fosse contagiosa ela não gostaria que o bebê pegasse.

- Acha mesmo seguro, Olívia? Não sabemos o que tem lá fora - falou Octávia preocupada.

- Não ouvimos nada a praticamente uma semana, se tem alguma coisa não deve ser tão ruim assim, vou usar uma máscara só para me previnir, Carter parecia doente como sua vizinha da frente - disse Olívia pegando uma máscara que havia na caixa de primeiros socorros da casa - eu volto já - e saiu rápido dando as costas para a amiga.

A ideia de ficar sozinha com o bebê preocupava Octávia, mas era para o bem dele então ela preferiu apenas concordar e tirar um cochilo.
Octávia é acordada com muitas batidas repetidas na porta e corre para ver o que era, as vezes ainda tinha esperança de que fosse seu marido. Era Olívia, ela estava com o braço cheio de sangue e correu para dentro de casa trancando a porta e se jogando no sofá.

- O CARTER ME MORDEU - disse Olívia gritando e tentar recuperar o ar da corrida que tinha feito até em casa, ela foi uma ótima corredora na escola - eu estava a caminho da farmácia e encontrei ele, mas estava agindo estranho, como se estivesse sonâmbulo ou algo parecido - disse com os olhos cheios de lágrimas e apertando forte o braço, Octávia correu para cozinha para pegar bandagens e um antisséptico enquanto ouvia a amiga falando, incrédula de que aquilo realmente tinha acontecido - foi muito estranho Octávia, na hora eu só pensei em correr e ele correu atrás de mim.. - Olívia foi interrompida com o som de um empurro contra a porta - meu Deus do céu nos ajude - falou pulando do sofá e indo para trás.

Octávia pegou um abajur que era a única coisa perto o suficiente para pegar com rapidez, outro empurro é dado na porta mas agora com mais força, quase a quebrando. As duas estavam imóveis e a única coisa que se passava na cabeça delas era o medo daquele ser o final. O bebê começa a chorar no quarto fazendo com que o que estivesse empurrando a porta ficasse com mais raiva e quebrasse de vez a porta de madeira marrom que era a única coisa que separava elas daquilo. A imagem era terrível, era Carter, mas não parecia mais ele, o doce olhar do gentil vizinho havia se transformado em algo vazio e escuro, não havia mais humanidade em seus olhos, apenas ódio, sua coloração era estranha, quase não havia mais cabelo em sua cabeça e seus olhos estavam brancos, como se estivesse cego. Ele ignorou completamente as duas e correu para o quarto onde o bebê estava chorando cada vez mais forte, Octávia não pensou duas vezes e bateu forte com o abajur em sua cabeça, o fazendo cambalear pela sala, seu olhar frio olhou diretamente para direção de Octávia, Olivia interviu imediatamente jogando a cadeira nele como tentativa de ganhar mais tempo, Octávia correu para a cozinha pegando uma das facas de corte que eram de seu marido, enquanto Olívia corria para o quarto para proteger o pequeno bebê que chorava muito. Quando Octávia se vira, Carter está atrás dela e sem pensar duas vezes Octávia investe com a faca na direção de seu peito, dando várias investidas. Carter cai morto no chão e em seguida Octávia cai sentada de joelhos, cheia de sangue e chorando como nunca havia chorado antes, não gostaria que ninguém a visse fragilizada assim nunca, muitos pensamentos se passavam na cabeça dela e ela os colocou para fora em forma de vômito, não sabia o que tinha acabado de acontecer e morria de medo do que estava a vir. Ela corre para o quarto e Olívia está sentada na cama abraçada no bebê, Octávia entra no abraço e as duas começam a chorar. Octávia pega seu filho no colo e começa a arrumar uma mochila de roupas.

- Precisamos sair daqui imediatamente, meus pais não moram longe e eles moram afastados da cidade, vamos para lá agora - diz Octávia com certeza, nunca havia tido tanta certeza na vida, independente do que a amiga dissesse ela iria embora, agora para ela o que contava era a sobrevivência do seu filho.

Olívia apenas concordou e começou a pegar coisas pela casa e ajudar Octávia, o momento é seguido de uma crise de tosse vindo de Olívia, mas ela não tinha tempo para pensar nisso agora, precisavam sair dali.

Olá :) espero que tenham gostado e qualquer comentário é muito bem vindo <3

Journey of DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora