IV ELLIE

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Hello, amoras.











— Você tem vinte e quatro horas! — A voz dele não saia da minha cabeça.

Estou sentada no chão da cozinha, pensando nas alternativas que não existem. Meses antes, recorri ao banco para um empréstimo, que quase não consegui pagar devido as contas absurdas e os remédios que minha mãe necessita.

A Buffet Enchanté era meu sonho de menina, adiei tantas vezes por conta das obrigações familiares, porém, dois anos atrás decidi investir e finalmente, esse sonho saiu do papel. E, tudo estava correndo bem, até a Vaisberg ser vendida e desmembrada, me deixando sem o principal cliente. Apesar, de ter contratos para casamentos, chás de bebê e batizados, eram poucos e acabaram.

Isabela Martinez parecia ser a solução perfeita, tratamos por e-mail e ela pareceu gostar das minhas escolhas para o coquetel e o jantar de noivado de um governador importante. Por esse motivo, não hesitei em assinar o contrato de exclusividade para trabalhar com ela por um ano. Meu desespero era tamanho que não me importei com a multa exorbitante e a ameaça de ser processada. Meus funcionários estariam garantidos e meu sonho, salvo.

Entretanto, nada vem de mão beijada!

Quando Leon Hard entrou na sala, quase tive um ataque. Doze anos sem vê-lo, sem ter notícias e ele aparece bem pleno e autoconfiante em um terno caríssimo. Minha mente só conseguia pensar nas palavras do pai dele:

Eleanora, querida! Caia na real, achou mesmo que Leon fugiria com você? Para viver na pobreza? Se realmente o ama, não o sujeitaria a isso! — Sua risada de escárnio ainda causava repulsa em meu estomago. — Além do mais, meu filho está a caminho de seu novo lar: As forças armadas.

Ele não faria isso! Leon me ama!

Leon ama a vida boa que leva! Ele tinha duas escolhas e já sabemos qual foi! Agora, se aparecer aqui novamente ou chegar perto da minha família, demitirei aquele seu pai inútil!

Passei meses chorando por ele até meus pais se separarem e minha mãe apresentar instabilidade emocional. Os anos seguintes foram um borrão, meus dias eram divididos entre trabalhar, cuidar da minha mãe e deixar meus irmãos longe de confusão.

Leon sabia da minha condição financeira, ele preparou tudo direitinho para me atirar na cova dos leões. Não havia saída! Ele queria que eu fosse sua amante por um ano. Minha cabeça era pura confusão.

O telefone tocou me assustando. Encarei o aparelho sobre a bancada morrendo de medo de ser ele, não havia respostas a dar, meu destino estava traçado. Ele parou de tocar, respirei aliviada por exatos três minutos, e então, recomeçou.

Levantei em um salto.

— Eleanora — Minha voz treme.

— Já tem uma resposta? — Um calafrio percorre minha espinha —Responde querida, estou louco para o próximo passa.

— Vai se foder, Leon — Exclamo sem querer, cubro minha boca com a mão.

— Será um prazer, querida — Ele ri. — Quando quiser.

— Quando vacas aprenderem a voar.

— Estou saindo do trabalho, você tem quinze minutos para se arrumar. Vamos jantar. — Leon ordena desligando o telefone.

Minha mente demora a registrar a conversa. Leon Hard está a caminho da minha casa? Ai, Deus! Como ele sabe meu endereço?

Largo o celular sobre o balcão e vou pra o banheiro, estou um trapo, quase não dormi despois do encontro com ele e não sei se voltarei a dormir tranquila até tudo isso acabar. Tomo banho com cuidado para não molhar o cabelo, já que não teria tempo para secar. Mal tenho tempo para enrolar a toalha no corpo quando a campainha toca. Caminho na ponta do pé para não molhar o chão mais do que o necessário, me amaldiçoo por não ter colocado um olho mágico na porta.

— Abre a porta, Eleanora. — A voz dele parece sempre estar emitindo um comando.

Pobre Leon, se acredita que irei aceitar tudo facilmente, está totalmente enganado. Destranco a porta, mas não puxo a corrente de segurança.

— Acabei de sair do banho — Informo mostrando o mínimo possível — Espere ai mesmo. — Falo fechando a porta na cara dele.

— Eleanora! — Ele grita, mas corro para o quarto e o ignoro.

Abro meu guarda roupas procurando algo descente para vestir, bufo irritada por não ter algo a altura do ego dele. Opto por um vestido preto, o mesmo que usei no funeral do meu pai, três anos antes.

Um sorriso inunda meu rosto, era exatamente isso que Leon Hard merecia! Solto o cabelo e o escovo o suficiente para deixar os fios ordenados. Um salto baixo e quadrado serve para completar o look. Uso corretivo e pó para esconder as olheiras causadas por ele e aplico um gloss clarinho nos lábios.

— Nossa, se arrumou em tempo recorde. — Elogia quando abro a porta, mas não o deixo ver o interior do apartamento.

— Podemos ir? Quando antes começar, antes terminará! — Resmungo indo para o elevador.

— Não precisa ter pressa para se livrar de mim — Sua voz é sedosa — Logo estará se deliciando e implorando por mais!

Decido ignorar sua fala, meus nervos estavam em frangalhos ao pensar em sexo com ele. Leon sempre foi um amante generoso e delicado, mas os tempos mudaram e essa sua nova faceta não me parecia nada agradável.

O carro dele é um daqueles modelos esnobes, bem típico. Abro a porta sozinha e o aguardo entrar também. Leon não fala comigo até estarmos diante do restaurante mais chique de Sydney, o amaldiçoo por não ter me avisado para me arrumar melhor. Ele sorri diante do meu nervosismo.

— Vamos, Eleanora, ninguém reparará em você — Leon sai do carro e escancara a porta o passageiro, seguro sua mão estendida para sair do veículo.

Ele entrega a chave para o manobrista, tocando a base da minha coluna, Leon me conduz para a área comum do restaurante.

— Senhor Hard? Sua mesa está pronta — Um funcionário sorridente informa. — Por favor, me sigam.

Sinto as cabeças virarem quando passamos pelo salão do restaurante, Leon intensifica seu toque em minhas costas e sussurra próximo a minha orelha.

— Não se preocupe com eles. — Ergo a cabeça, arrebito meu nariz e continuo andando.

Somos conduzidos para uma parte privada do salão, existem outras pessoas ali, porém, em número menor e em mesas afastadas. Deixo Leon fazer os pedidos, afinal, não conseguirei comer mesmo.

— Relaxa Ellie — Leon é tão engraçado. Pede para relaxar, mas sabe que usando o apelido que me deu, me desestabilizará.

— Podemos ir direto ao assunto? — Questiono sentindo o ar faltar.

— Como quiser, querida. — Ele sorri, mas não alcança os olhos.

— Preciso que entenda uma coisa — Ele acena com a cabeça para que eu continue — Eu o mandaria para o inferno com a sua proposta, se não estivesse desesperada.

— Você já o fez! — O sorriso morre nos lábios pecaminosos dele — Quero ouvir as palavras da sua boca.

Meu rosto queima, meu peito dói, mas reúno coragem para dizer em voz alta.

— Aceito ser sua amante — Praticamente cuspo as palavras para fora!

Leon sorri, o deleite estampado em seu rosto.

Minha vontade era jogar verdades na cara dele, mas ele poderia mudar de ideia me deixar na mão. Não! Eu sondarei o terreno e só então, o confrontarei!

| DEGUSTAÇÃO | Julgada | Os Hard IIOnde histórias criam vida. Descubra agora