VI - é por você que canto.

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Pode tudo transformarPode tudo se perderPode o mundo virar contra mimAconteça seja lá o que forCada dia que passarEu quero ainda muito maisSeu amorÉ por você que canto

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Pode tudo transformar
Pode tudo se perder
Pode o mundo virar contra mim
Aconteça seja lá o que for
Cada dia que passar
Eu quero ainda muito mais
Seu amor
É por você que canto.

É Por Você que Canto (The Sound of Silence) - Leandro & Leonardo.

1998 – Janeiro.

Acordei sozinha na cama e, ao desligar o alarme barulhento do despertador, percebi que mais uma segunda-feira havia chegado.

Caminhei sonolenta até o banheiro, parando em frente a pia para lavar o rosto.

Havia me acostumado a pouco tempo com o reflexo da mulher refletida no espelho manchado com pequenas gotículas de pasta de dente. Ela era radiante, os olhos brilhavam, o sorriso recusava-se a deixar a face, até mesmo minha postura havia mudado ao longo dos anos.

Era a imagem de puro contentamento, paz, felicidade.

Iniciei a minha rotina matinal após fazer minha higiene básica, caminhando até o box do banheiro. Abri a água morna e deleitei-me quando a mesma bateu em minha pele nua, atenuando o frio daquela manhã. Era a temporada mais chuvosa e fria de Goiânia e o vento que consegui se infiltrar pelas frestas da pequena janela do apartamento fazia-me estremecer.

Comecei a cantarolar uma música baixinho enquanto terminava de molhar todo o meu corpo, perdendo a concentração quando ouvi a porta do banheiro se abrir sorrateiramente e ser trancada logo em seguida.

— Bom dia, meu amor! — a voz animada de Fernando chegou em meus ouvidos por trás da porta do box. — Acordou cedo...

— Sabe que detesto acordar depois das 9h da manhã. — respondi depois de molhar os cabelos. — Não consigo aproveitar bem o dia.

— Você parece uma senhora de 60 anos quando diz isso. — reprovou-me, rindo em seguida.

Revirei os olhos infantilmente, o acompanhando a risada.

— Mas é você que anda reclamando de dor nas costas ultimamente. — provoquei-o.

Abri uma fresta do box, e observei meu marido apenas com um short de tactel, em frente ao espelho, virando o rosto de um lado para o outro, conferindo se a barba tinha crescido o suficiente para tirar. Ele não era adepto do visual barbudo e, diferente da maioria dos homens, ele fica muito melhor assim.

Vislumbrei-o de perfil, perdendo o fôlego, como nas outras milhões de vezes que eu o olhei, na beleza que ele possuía.

Podiam-se passar os anos, mas eu sempre seria completa e irrevogavelmente apaixonada por ele, como se estivéssemos nos primeiros dias de namoro.

— Vem tomar banho comigo? — pedi manhosa, quase com um ronronar.

Fernando parou de se olhar no espelho, voltando-se para mim. Assisti, divertida, o mesmo estancar no lugar, seus olhos passeando por toda a extensão do meu corpo visível pela fresta que havia aberto e abrir um sorriso de covinhas recheados de intenções ocultas.

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