NA MANHÃ ANTES DO acidente, eu estava completamente ferrada.O sr. Hastings, com seu bigode salpicado por cinzas de cigarro, havia se aproximado muito do meu rosto, segurando meu cabelo com força suficiente para arrancá-lo, para me dizer isso. Sua cabeça vermelha pulsava, como um dedão prensado.
— Eu não vou me esquecer disso — ele ameaçou em um sussurro assustador.
Se ele não iria esquecer-se da noite anterior, muito menos eu. Primeiras vezes são de fato inesquecíveis, ainda mais quando se trata da primeira vez em que se vê alguém morto.
Gostaria de dizer que estava levando tudo numa boa, mas a verdade era que Hastings me deixava apavorada. Eu cobria todo o pânico com sarcasmo e respostas afiadas, mas era em vão, ele podia sentir o cheiro do medo se desprendendo de minha pele toda vez que estava por perto.
— Você não vai se safar dessa — continuou ameaçando.
Ele deveria estar se referindo a garrafa de champanhe que eu acertei em sua cabeça. Foi uma completa idiotice, mas se ele tivesse desmaiado como eu esperava, eu estaria livre naquele momento e não encolhida no sofá da sala, sendo ameaçada por aquele homem asqueroso.
Você deve estar se perguntando quem é sr. Hastings, certo? Ele é o pai da minha "família" acolhedora. Eu acredito que existam boas pessoas acolhendo crianças órfãs por aí, apenas não tive a sorte de cruzar com nenhuma delas.
Não importava o que fizessem comigo, não existia no mundo alguém que se preocupasse o bastante para me salvar.
Se me dissessem naquela manhã, antes de Hastings me jogar em seu porta malas, antes de seu carro despencar para o oceano, aonde tudo aquilo me levaria, eu teria rido, afinal, aquela noite não poderia terminar de outra maneira, que não fosse com minha morte lenta e dolorosa. Era com isso que eu contava, apesar de tentar manter a fé. No entanto, lá estava eu, deitada em uma cama de macia, embora não deixasse de estar morta, Susan foi quem saiu do mar, April ainda estava lá, e para todos os efeitos, era melhor que continuasse assim.
Segunda-feira, 10:32.
Hospital Saint John's, Cidade de Santa Mônica, Los Angeles - Califórnia
Quando abri meus olhos, ainda não conseguia me mover. Eu sabia que estava em um hospital, já estava desperta antes mesmo de conseguir enxergar o teto branco radiante. As lembranças me atingiram lentamente, subindo pelos meus dedos, me forçando a ficar alerta, mas o ambiente a minha volta denunciava que ainda estava longe de "casa". Os hospitais de Inglewood não eram silenciosos e perfumados como aquele. E o nome de Susan Armstrong vez ou outra era mencionado, mostrando que a farsa continuava.
Podia ouvir alguém ao meu lado, uma mulher. Ela chorava e acariciava meus cabelos. Falava ao telefone por breves minutos atualizando alguém sobre os avanços clínicos de "Susan".
Ela ainda dorme!
Vi seu dedão do pé se mover!
Ela está respirando!
Nunca antes alguém se animou tanto por eu ter um corpo humano que funcionava perfeitamente bem.
— Você acordou! — A mulher disse, quando viu meus olhos abertos. Não consegui responde-la, então ela continuou. — Você está segura agora, não se preocupe. Mamãe está aqui com você.
Mamãe? Eu pensei.
Nesse momento notei duas coisas interessantes, a primeira era que eu era uma babaca completa, Susan estava em algum lugar, talvez precisasse de ajuda, mas por minha causa, ninguém a procurava. A segunda era: o quão parecidas nós éramos para sua própria mãe confundi-la comigo?

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𝐔𝐦𝐚 𝐝𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐞𝐜𝐢𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞𝐫 •𝐉𝐮𝐧𝐠𝐤𝐨𝐨𝐤• [𝑯𝑰𝑨𝑻𝑶𝑺]
FanfictionSusan Armstrong é tudo o que uma garota almeja ser: Linda, inteligente e estupidamente rica, além namorar o cara mais quente de Lutheran High School. Tudo é perfeito em sua vida, tirando o fato de que Susan esta morta, ou pelo menos era o que todos...