O garoto dos olhos de tigre.

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MEU NOME não é Susan...

Minhas palavras ecoaram pelo quarto escuro, chocando-se contra as paredes, reverberando e se desmontando em um milhão de pedacinhos, menores que um átomo. A confissão estava por toda parte, por cima das cômodas, por baixo da cama, escapando pela sacada, voando através da noite.

Não existia nenhuma forma de recolhe-lha, então permaneci em silêncio.

Jungkook estava próximo a mim. Seu rosto era iluminado apenas pela luz prateada da lua, que difundia-se através da porta aberta, formando um perfeito triângulo de luz em meio ao quarto. Seu rosto felino estava exatamente ao centro desse triângulo, enquanto eu me escondia na penumbra. Jungkook era um rapaz bonito, eu já havia me atentado. Seu rosto era suave, embora possuísse um maxilar marcado e anguloso, como se estivesse preso na transição entre ser menino e um homem. O cabelo era relativamente grande e ondulado, do tipo que os garotos cultivam para ver as garotas animadas toda vez que passam a mão por eles. Os lábios eram pequenos e febris, e os olhos, seus olhos eram a parte mais interessante de todo o rosto, conseguiam ser enormes e minúsculos ao mesmo tempo, com uma curva dramática unindo a linha d'água a pálpebra lisa e sem dobras atenuantes.

Normalmente, ele seria o tipo de cara com quem eu me sentiria desconfortável por ter de conversar, mas não podia evitá-lo. Ele era o namorado da garota que eu fingia ser, e bem, agora ele sabia de toda farsa...

Jungkook aproximou-se de mim, uma distância totalmente aceitável, caso eu fosse Susan. Eu senti um impulso de me afastar, mas não gostava de demonstrar fraqueza a homem algum, mesmo estando de fato assustada.

Enquanto o garoto me analisava, fiz uma lista mental unindo tudo o que sabia a seu respeito, e ao de Susan. Eles namoravam, havia fotos suas por todo o quarto, então Susan o amava... ou pelo menos amava a vista. Sr. Armstrong parecia não compartilhar da mesma empatia, mas pelo pouco que sabia sobre pais, eles costumam odiar qualquer um que se aproxime de suas filhas. Sra. Armstrong, parecia concordar com o marido, mas ela era gentil demais para fazer qualquer coisa além de estrangular um sorriso em seu rosto bonito. Contudo, Jungkook estava com minha mochila, poderia ser ele o responsável por aquela mensagem ofensiva, poderia ser ele o responsável pelo desaparecimento de Susan e poderia ser ele o único interessado em continuar com o teatro.

— O que quer dizer com isso Susan? — Finalmente perguntou. Ele estava sério. Não havia o menor resquício da velhacaria que eu havia notado que o acompanhava.

As partículas de minha confissão penderam-se sob o quarto novamente, aguardando atentamente minhas próximas palavras. Existia uma chance, uma chance de voltar atrás. O bilhete sobre a cama parecia em neon. Se antes ele me pareceu elegante, agora ele berrava.

SE NÃO QUISER QUE EU ENTERRE SUSAN VIVA.

ENTERRE SUSAN.

VIVA.

SE VOCÊ NÃO QUISER.

MELHORE O TEATRO.

MELHORE.

PUTA.

Estava em minhas mãos. Alguém colocou a vida de outra pessoa em minhas mãos. Agora, além de tentar salvar a minha vida, eu teria que tentar salvar a de Susan?

— Eu te fiz uma pergunta! — Jungkook continuou urgente. Estávamos o mais próximo que duas pessoas poderiam ficar uma da outra, na vertical.

Eu poderia dizer a verdade a ele, se Jungkook fosse o responsável, Susan seria enterrada viva. Ou então eu poderia mentir, mas qual seria uma desculpa apropriada para alguém dizer que não é quem deveria ser?

𝐔𝐦𝐚 𝐝𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐞𝐜𝐢𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞𝐫 •𝐉𝐮𝐧𝐠𝐤𝐨𝐨𝐤• [𝑯𝑰𝑨𝑻𝑶𝑺]Onde histórias criam vida. Descubra agora