A garota que tinha segredos demais.

124 13 36
                                    


NÃO ME LEMBRO DE nada, foi o que eu disse.

Sr. e Sra. Armstrong me olhavam perplexos.

— Como assim não se lembra de nada?  — Perguntou Atena.

Estávamos no escritório de Ryder, no primeiro andar da mansão dos Armstrong. Eu sentada em uma das cadeiras para visitas, Ryder em sua poltrona e Atena de pé, ao lado do policial que recolhia meu depoimento.

Aquele era o único cômodo escuro da casa, as paredes que não eram cobertas por enormes estantes de livros pretas, eram pintadas de cinza escuro. Havia molduras grandes e lustrosas com certificados, prêmios e tudo mais que Sr. Armstrong se orgulhava o suficiente para ostentar, assim como um enorme quadro de sua família, na parede por detrás de sua mesa de carvalho, com uma majestosa cadeira de estofado vermelho, como se ele fosse um rei ou algo assim. Na pintura Ryder e Atena estão de pé, ao lado de uma poltrona, aonde Susan estava sentada. Era realista e perfeito, mas não era uma fotografia, era uma pintura feita a mão. Nenhum deles sorria na imagem, estavam eternizados de forma fria e deslumbrante.

— Minha última lembrança antes de acordar na praia, é de estar na festa. Eu estava com minhas amigas, nós estávamos nos divertindo e então... nada. Não me lembro ao menos de ir embora. Eu sei que desapareci por uma semana, mas eu realmente não me lembro.  — Disse exatamente o que ensaiei até a exaustão em frente ao espelho.

— Você deve se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa  — disse Ryder. Eu apenas neguei.

— Em seu exame toxicológico foram encontrados escopolamina, cetamina e flunitrazepam, essas substâncias, junto com o álcool, podem comprometer a atenção e a memória — explicou o policial. Atena suspirou pesarosa, mas não parecia novidade para ela, os médicos já deviam tê-la alertado, assim como outros sinais que encontraram em meu corpo. Acredito que a mãe Susan soubesse, assim como eu, o que a junção daquelas substâncias significava: Alguém havia me dado um "Boa noite Cinderella". Fingi surpresa ao ouvir aquilo, mas não estava de fato. — Com o passar dos dias, talvez se lembre de mais alguma coisa.

— Bom, isso seria ótimo, afinal vocês não têm nada... — Sr. Armstrong protestou aborrecido. Seu olhar lançava figas de gelo diretamente sob o coração do policial. — Uma semana se passou e vocês não encontraram uma mísera pista sobre o paradeiro de Susan.

— Querido... — Atena interveio incomodada. — O importante é que Susan esta de volta e esta bem!

— Vamos continuar investigando, Sr. Armstrong. Não vamos descansar até finalizar este caso. — Garantiu o homem. — Se lembrar de qualquer coisa, por mais simples que seja, por favor, entre em contato, senhorita.

Eu assenti.

Atena acompanhou o policial até a porta, me deixando com Ryder. Entre todos os que conheci desde que acordei como Susan, Ryder era o que eu menos gostava. Ele parecia exatamente com o estereótipo do homem rico e desagradável, uma farpa por debaixo da unha da América. Ele era jovem o suficiente para ser apenas um herdeiro de alguma família rica desde a colonização do Novo Mundo, mas ainda assim possuía seus quarenta e poucos anos. Sempre de terno e gravata, cabelo bem arrumado e sapatos lustrosos.

Sr. Armstrong encostou-se em sua poltrona e acendeu um charuto. Eu não sabia o que fazer, então apenas acompanhei seu olhar.

— Até que isso se resolva, querida, vamos precisar adotar algumas medidas de segurança — começou.

— Quais medidas? — Minha voz oscilava, mas ele não pareceu notar.

— Nada de sair sozinha, nada de festas, nem de viagens, apenas se for comigo e sua mãe. — Disse categoricamente. O charuto pendia entre os dedos de sua mão esquerda, a fumaça perfumada criava uma nuvem sobre a sua cabeça. — E aquele garoto, o Jeon...

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 08 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

𝐔𝐦𝐚 𝐝𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐞𝐜𝐢𝐬𝐚 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞𝐫 •𝐉𝐮𝐧𝐠𝐤𝐨𝐨𝐤• [𝑯𝑰𝑨𝑻𝑶𝑺]Onde histórias criam vida. Descubra agora