Depois da tempestade

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*

— Devíamos ter ido também! — Verne se queixou para Fantin.

Era a terceira vez que o badir repetia a frase em um curto espaço de tempo e a mestra trincou os dentes, revoltada. Queria mandá-lo calar a boca. Na verdade, queria mandá-lo fazer coisas menos suaves, quiçá ir para um lugar nada agradável, usando expressões que até mesmo o soldado com a boca mais suja daquele reino acabaria corado por ouvir.

Entretanto, não o fez, pois compartilhavam a mesma angústia. Contudo, não tinha tempo para se entregar a ela.

— Elas estão bem. — Obrigou-se a dizer com voz tranquila e confiante, antes de complementar: — Não sinto agitações no laço que nos une, desde a tarde de ontem.

Com o canto do olho, viu o rosto dele relaxar, enquanto dava um pequeno suspiro. Ainda assim, ele indagou:

— Tem certeza?!

— Se eu tenho certeza?! — Fantin estacou diante de portas duplas, cuja madeira exibia o trabalho esmerado de um artesão. — Pareço alguém que tem certeza absoluta de alguma coisa?

— Você acabou de dizer...

— Sei bem o que disse, Lorde. Mas o fato de sentir algo, me incomoda tanto quanto não sentir. — Inflou as bochechas, antes de explicar. — Estão todas vivas, é tudo que sei.

Não interessava a Fantin informá-lo sobre a tristeza e sensação de desespero que a invadiram, durante toda a noite e eram oriundas das companheiras. Aquilo estava atormentando-a e deixar o lorde sabê-lo só iria piorar as coisas. Pousou o olhar em Laio. O auriva os seguia de perto, desde que regressou para o palácio com ela e Tamar, no dia anterior. Ele planeou regressar para casa quando a bibliotecária partiu para Valesol, contudo Fantin disse que o trabalho dele ainda não tinha acabado. Então, quedou-se por ali, como se tivesse assumido as funções de um protetor. Entretanto, a realidade era outra. Virnan tinha planos maiores para ele, e cabia a Fantin informar isso aos homens por trás daquelas portas. À partir daquele momento, Laio era um dos comandantes do exército florinae.

Os guardas que ladeavam a entrada, apressaram-se a abri-la e os dois homens se mediram com o olhar, antes de seguirem a mestra ordenada para o interior do antigo salão de reunião do conselho ancião.

Agora que todas as ordenadas tinham se ligado às tucsianas, não havia mais a necessidade de manter segredo sobre elas, visto que ninguém poderia usar as armas, enquanto suas donas estivessem vivas. Sendo assim, Fantin carregava as lanças curtas, presas às costas. Ela as fez tomar uma forma menor para facilitar o transporte.

— É um absurdo! — Se queixou um dos comandantes, quando Fantin explicou a presença do auriva.

Uma ligeira discussão se iniciou entre os militares e Diomar, primeiro comandante do Leste, focalizou os três recém-chegados com ódio declarado.

— Ah, por favor, me poupem dessa idiotice de limites e castas! — Fantin rosnou.

A explosão causou certo assombro entre os homens, que estavam acostumados aos modos discretos e gentis de Tamar e Melina, com quem frequentemente tratavam. Mesmo quando eram grossos, as duas agiam com paciência e delicadeza.

— Estou pouco me importando para a cor das suas peles e olhos. Ao inferno com isso! — Fantin concluiu.

— Escute aqui, humana...

— Escutem vocês!

Ela pousou as mãos na cintura, tentando, sem sucesso, encontrar um pouco de paciência para continuar.

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde histórias criam vida. Descubra agora