Maxine

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Marie saiu de trás da árvore sob a qual se escondia com Melina. A luta tinha acabado. A maioria dos axeanos estava morta ou incapacitada de lutar. Aquele pedaço da estrada havia se tornado um verdadeiro campo de batalha e o cheiro da morte começava a lhe chegar, junto com um mau presságio.

Virnan segurava a adaga diante do corpo do Comandante Loyer. Havia tanto sangue em suas vestes e face, que somente os olhos se destacavam dando a certeza de que era a guardiã. A mestra focalizou o rosto aterrorizado e sem vida do homem. Os olhos esbugalhados e as mãos ainda em volta do pescoço na tentativa de pararem o sangramento que a guardiã lhe causou quando rasgou a garganta dele com a lâmina da adaga.

Não era a primeira vez que via a morte em um campo de batalha, mas foi a primeira em que quis vomitar após assistir as desgraças que os homens podiam causar a si mesmos. Principalmente, porque algumas daquelas mortes vieram pelas mãos de Virnan.

A respiração da guardiã externava o cansaço que a tomava.

— No fim, não posso fugir de quem sou. — Ela sussurrou, olhando para a adaga que gotejava o sangue do comandante.

Era como no sonho que Marie teve, ela estava banhada em sangue. A única diferença era o tamanho dos cabelos que, nele, eram curtos e cortados bem acima das orelhas.

— Eu sou a morte que caminha sobre este mundo — ela continuou a falar, causando um arrepio nas amigas que a cercavam.

De certo modo, Fantin concordava. Quando ela matou o soldado que atacou Alina, não havia nenhuma emoção em seus olhos. Era como se fosse apenas o "fim". Ao mesmo tempo em que a temeu, também se encheu de admiração e recordou a conversa que tiveram na estalagem. Ela matou aquele homem para proteger Alina e continuou matando para proteger os outros. Não lhe escapou que só escolheu os atacantes que ofereciam risco aos seus amigos, exceto, o comandante.

Marie se aproximou. Estava assustada, claro. A ver matar em sonho era bem diferente do que assistir a realidade, mas ela ainda era a mesma mulher por quem se apaixonou. Aquela que derrubou suas barreiras e rigidez, a mesma por quem atravessaria um mundo para resgatar. Tocou-lhe o queixo, a forçando a erguer o olhar.

"Se você é a morte, gostaria de morrer em seus braços." A puxou para si, emocionada.

— Vamos embora! — Lorde Verne rosnou, ainda mantendo-se atento a possíveis reações por parte dos axeanos sobreviventes, mas estava claro que eles nada tentariam. Além disso, assistir aquelas duas juntas lhe deixava irritado, como se houvesse algo entalado na garganta.

O mago Anton se aproximou. Lançou um olhar para o corpo do comandante e franziu o cenho, como se achasse que foi uma morte merecida. Fez um gesto para indicar que não oferecia perigo a nenhum deles. Mancava e mantinha a mão pressionando o ombro direito, onde havia sido atingido pela espada que Virnan lhe atirou.

— Perdão, Domna. — Disse ele, com voz arrastada e grave. Usava um tratamento respeitoso, dedicado às mulheres nobres de seu reino.

Virnan abriu os olhos. Tinha se perdido na paz que o abrigo dos braços de Marie lhe trouxe. Por um momento, esqueceu o que tinha acabado de acontecer. Mas a realidade a chamava de volta e afastou-se da amiga, depositando um olhar desconfiado sobre o homem, que voltou a mirar o corpo de Loyer, antes de se curvar.

— Perdão — repetiu.

A curiosidade firmou-se nos presentes, mesmo entre os inimigos feridos. O mago endireitou-se. As cicatrizes na face não permitiam definir sua idade real. Ainda que os cabelos fossem completamente brancos, tinha o porte de um homem de meia idade com músculos rijos como os de um adolescente. A pele possuía uma tonalidade semelhante à de Virnan, mas os olhos eram de um negro intenso.

A Ordem: O Círculo das ArmasOnde histórias criam vida. Descubra agora