Capítulo 3

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A chuva que cai naquela manhã é tão forte que não consigo enxergar um palmo à frente do nariz, mesmo assim, continuo a correr, como se minha vida dependesse disso. Como se assim pudesse deixar para trás não só as marcas do meus pés do chão, mas também todo o horror que carrego dentro de mim.

E desta vez, quando o vejo surgir ao longe, faço o mesmo que fiz na outra manhã. Dou meia volta para correr em direção contrária.

E como naquela manhã, meus pés me traem, porém, desta vez, o estranho está ali, segurando meu pulso e me impedindo de cair.

Mal consigo respirar enquanto nossos olhares se atraem e se prendem.

— Nina? — ele diz meu nome e algo se quebra em mim. — Nina?

Quando ele repete vejo que os olhos dele não estão mais nos meus e sim olham para onde sua mão segura meu braço.

Não em cima da roupa.

Direto na minha pele.

Manchada de sangue.

Sangue em meu pulso. Sangue em minhas mãos que pinga no chão e é levado pela água da chuva.

Sinto meu coração doer.

Com a respiração falhando, abaixo o olhar para meu peito e tem sangue sobre minha blusa também.

Vem direto do meu coração.

Meu coração está sangrando.

Acordo com o som do despertador e sento-me na cama, ainda sem ar.

Meu olhar aflito percorre os pulsos limpos, toco meu peito como se ainda fosse encontrar sangue.

Deito-me novamente, obrigando minha respiração voltar ao normal.

Os sonhos não são novos.

O sangue mancha meus pesadelos há tempos.

Quase fazem parte mim.

Mas o que me intriga e assusta é a presença de Alex Black neles.

Isso é novo.

Isso é diferente.

Quase me faz desejar estar sonhando de novo.

Uma hora depois enquanto percorro a mesma calçada rodeando o parque e passo pela spirit of music, a estátua solitária em frente o parque, ele surge saindo da rua adjacente.

Por um momento, sou tomada pela memória do sonho e de novo sinto aquela mesma vontade de dar meia volta e correr em outra direção.

Porém, obrigo-me a continuar em frente, no mesmo ritmo, sentindo a expectativa pesar em meu estômago.

Ele vai falar comigo?

Mas meus medos – ou desejos – são infundados, pois o corredor, ou melhor, meu chefe, assim como todos os outros dias, passa por mim, com apenas um aceno discreto de cabeça, onde mal vejo seu rosto coberto pelo capuz, seguindo seu caminho, como se não tivesse deixando uma espécie de energia impregnada no ar, como corrente estática que faz com que eu me vire, observando sua figura até desaparecer.

Quando chego ao escritório, ainda está cedo, Hannah ainda não está por ali, quando me sento na minha mesa, aproveitando para checar a agenda de Alex e encaminhar todas as pautas das malditas reuniões para que ele não tenha motivos para me repreender de novo.

Fico imaginando se ele já estará a caminho agora.

O que será que ele faz depois de sua corrida matinal?

Black  - O lado escuro do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora