Capítulo 4

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Avalio o resultado da pauta na tela do computador e me permito um pequeno sorriso satisfeito ao perceber que estou ficando cada vez melhor naquela função. Com uma última checada, encaminho o e-mail para Alex e suspiro aliviada por ter feito aquela tarefa pela primeira vez sem a ajuda de Hannah, que até poucos dias ainda tomava para si as tarefas mais complicadas que meu cargo exigia.

Eu me perguntava se Alex tinha exigido isso ou algo assim, por não confiar totalmente em mim.

Não que ele tivesse alguma reclamação a fazer do meu trabalho.

Contrariando todas as expectativas – inclusive as minhas – estou me saindo muito bem na Black Investiment.

E para meu total assombro, estou gostando disso.

É algo novo para mim, essa satisfação. Essa vontade de aprender para fazer cada vez melhor.

Eu nunca tinha sido assim. Quer dizer, talvez eu tenha sido um dia.

Se buscar bem lá no fundo do meu ser, em um lugar onde se guarda as memórias mais escondidas, eu encontre uma outra Nina. Uma Nina que gostava de estudar, de tirar boas notas. De ver o rosto feliz da minha mãe quando soletrava certo uma palavra nova.

Mas aquela Nina tinha morrido e no lugar dela surgiu outra versão. Uma que ainda se esforçava para fazer o certo. Mas não porque se sentia feliz. Mas sim para agradar. Para tentar sentir-se menos incapaz na frente dela.

Este pensamento faz meu estômago embrulhar e empurro a memória indesejada de novo para aquele lugar escondido.

Um lugar que não gosto de visitar. Nunca.

— Ainda aqui, Nina?

Levanto o olhar e Alex está parado na minha frente.

Demora alguns segundos para que eu me recupere do abalo que sua presença me causa.

Chega a ser um tanto constrangedor essa perturbação bizarra que faz com que eu perca o prumo por alguns instantes, afinal, já faz pouco mais de um mês que trabalho para Alex Black.

O vejo surgir todo dia, passando pela minha sala e vestindo um de seus ternos caros. Os cabelos sempre estão bagunçados pelo vento frio de fim de outono e ele acena a cabeça e junta a isso um bom dia seco que eu respondo baixinho, ainda abalada, e sempre com a certeza que ele nem escutou.

Como era previsto, ele passava bastante tempo entretido em reuniões, na empresa ou fora dela. E para meu desassossego, por enquanto nenhuma viagem fora agendada, como tive esperança. Assim, quando não estava fora, ele estava na sua sala, há poucos passos de distância. Poucas vezes me chamou até sua presença, o que era um alívio, e quando me chamava, era objetivo em suas ordens, me dispensando em seguida.

Mas mesmo assim, bastava para eu voltar para minha sala com as pernas trêmulas de uma perturbação irracional.

No começo, Hannah estava ainda comigo e chegava a rir de mim, achando minha comoção um tanto exagerada, afinal, Alex era "um cara legal".

Sinceramente, eu não sei onde ela via isso.

Ok, Alex não é um tirano ou algo assim.

Porém, depois da maneira que ele me tratou no meu primeiro dia, eu pensava exatamente isso.

Mas com o passar dos dias, apesar de continuar sendo um tanto frio e distante, além de muito exigente e sempre pronto a me lançar broncas secas quando não tinha sua vontade atendida, o que aconteceu algumas vezes, já que eu era nova na função e era absolutamente normal me equivocar de vez em quando, nunca fora injusto, ou grosso. Na verdade, havia um certo controle em suas ações, e até em sua voz, que chegava a ser perturbador. Mesmo quando ele expunha sua insatisfação, não elevava o tom de voz.

Black  - O lado escuro do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora