Capítulo 3

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Fiquei alguns instantes em silencio até que ouvi passos na capela. Pelo som e o ecoar parecia de uma mulher. Sinto que ao seu ritmo se vem aproximando de mim. Ajoelha-se e pede a confissão. Era a esposa do Alcaide-mor. Informou-me apressadamente do perigo que estava a correr. Foi amante deste homem que tinha por missão buscar. Porém, ele estaria preso nos calabouços do Tribunal do Santo Ofício. Era um perigoso agente ao serviço de Espanha, que se infiltrou na sociedade Conimbricense como lente de Filosofia, na universidade. Conheceu-o por volta de 1645, logo apos o fracassado cerco de Elvas, e com o tempo foi descobrindo que mantinha muitos contactos com mercadores holandeses. Um dia, enquanto dormia, descobriu correspondência com o selo do Rei Filipe IV. Assustada confessa ao marido que a castiga e a manda enclausurar no Convento de Santa Clara, «até que a alma fique purificada».

A perspicácia do espanhol pressentiu que foi descoberto tendo fugido para a Serra da Estrela.

A vergonha da perda da honra do Alcaide-mor, tornou este caso num problema passional, querendo vingar a infâmia com a morte na fogueira deste mensageiro de satanás. A perseguição ao dito espião começa por todo o Mondego até que finalmente o apanham escondido na casa dos Pina Aragão e Costa, em Linhares da Beira. Esta família sempre esteve conotada com os monarcas espanhóis tendo, no entanto, prestado fidelidade a D. João IV.

A determinação do Alcaide-mor em mandá-lo queimar ultrapassou o poder do próprio Arcebispo de Coimbra, tendo a sua guarda o entregue no Tribunal do Santo Ofício com uma carta ao Juiz de Instrução que não hesitou no designado Auto de Fé a pena capital por heresia e estar possuído pelo demónio: queimado na praça publica!

A pobre mulher nada mais diz, contendo um choro de sofrimento e terminando que graças à influência do Arcebispo e do meu Tio, junto do Alcaide-mor, conseguiu ser libertada da clausura. Levanta-se e sai.

Sem dúvida que nada convinha ao Reino este homem ser morto. Era conveniente falar com ele e tentar sacar informações que podem salvaguardar a segurança do Reino e evitar uma nova guerra.

Espero mais um pouco até que chega o Tio Francisco com uns paramentos de frade. «Tens de te encobrir com isto. Esconde a espada, as botas e o chapéu. Este é o meu confessionário e os teus pertences aqui estão seguros»

Intriga em CoimbraOnde histórias criam vida. Descubra agora