Colocando o capuz e acompanho o meu tio até ao coche, este ordena o cocheiro: «Para o Paço Episcopal». Durante o trajeto o Tio Francisco explica-me que a minha vinda já era do conhecimento do Alcaide-mor. Não estava em segurança porque não havia intenção de me entregar o criminoso. O próprio Alcaide quer a todo o custo que esse homem fosse para a fogueira. Mas era importante salva-lo. Deve ter informações importantes sobre a movimentação da espionagem holandesa e espanhola.
Não demorou muito a chegada até Sua Eminência. Agradeceu muito a minha presença. A missão de o levar para Lisboa era do interesse da Igreja e do Reino. A coroação da Nossa Senhora da Conceição pela Rainha D. Luisa, foi marcante na aproximação da Igreja Portuguesa à dinastia de Bragança.
Fiquei, no entanto, impressionado com o que ouvia. Este espanhol acabou por ser convencido pela família Pina Aragão e Costa a entregar-se e a colaborar com Portugal. Não interessava a Espanha e a Portugal uma nova guerra. E os holandeses apenas pretendiam expandir-se para o oriente beneficiando do Porto de Lisboa, por ser bem mais perto.
O Episcopado não tinha influência no Santo Ofício. E esta instituição tinha fortes laços com Espanha. A solução seria convencer o Juiz a absolver o criminoso. Mas como?
O Arcebispo de Coimbra sempre foi um critico à soberania de Castela e aos abusos da Inquisição Espanhola. Tendo uma guarda, ordenou que durante a noite se ateasse um fogo nas traseiras do tribunal e no meio da confusão se libertassem todos os presos. Eu ficaria com a missão de apanhar o espião e levá-lo para Santa Clara onde um coche do episcopado nos levaria para Lisboa. A nau que me transportou servia para passar o rio para a outra margem e seguiria apenas com a tripulação para Lisboa. Assim, mesmo que a guarda na barra Figueira da Foz intercetasse a embarcação, de nada servia.
Tudo correu como previsto, trazendo o dito para Lisboa por terra e recendo a bênção do Patriarca.
Soube com revolta da traição do embaixador português em Haia, tendo desertado para Madrid e levado todo o espolio da representação diplomática. Foi então nomeado, pelo Secretário de Estado do Reino, o seu substituto. Apenas pedi que este espião me acompanhasse e lhe fosse atribuída uma credencial diplomática.
E assim graças a este homem, que tinha o propósito de prejudicar Portugal, acabou por me ajudar por conhecer as fragilidades nos Estados Gerais (o poder executivo dos holandeses), e conseguir a paz reavendo Portugal os territórios na América e Africa, sem se ter disparado um tiro, tendo perdido, no entanto, as do Oriente.
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Intriga em Coimbra
Historical FictionUma estória de espionagem entre Portugal e Espanha, passada em Coimbra, em vesperas do acordo de paz da guerra da Restauração, em 1668. Mateus de Galvão foi o eleito por El Rey de Portugal para que a paz prevalecesse.