A nau conseguiu entrar no estuário da Figueira, vencendo a corrente do Rio Mondego que nasce na Serra da Estrela, atracando horas depois no cais da Portagem, em plena cidade Coimbra. Avistei a torre da Universidade que como um farol para a navegação enobrece a paisagem desta cidade. Ainda consegui ouvir os carrilhões a bater a retirada para os estudantes irem para as aulas.
No cais da Portagem estão imensos navios e barcaças atracadas. Muitas vêm das Beiras carregadas de madeira, vinho e azeite, através da navegabilidade do Mondego. Sem dúvida que para mim foi uma surpresa. Nunca imaginei tanta embarcação atracada.
A Praça da Portagem era um corrupio de gente de todas as profissões, arcas, baús, mulheres com cestos na cabeça, mendigos, prostitutas, enfim até os guardas do Santo Ofício não faltavam. Já tinha ouvido falar do movimento desta cidade, mas nunca imaginei esta riqueza de imagem, de som e de vida.
A minha vinda a Coimbra é ao serviço de El Rey. Decorria o ano de 1657, e trago uma carta assinada por Sua Majestade, para entregar ao Alcaide-mor. Aquele selo lacrado escondia uma verdade desconhecida. Pelo que entendi nos corredores do palácio de Vila Viçosa, um perigoso subversivo terá vindo de Espanha e chegado a Coimbra através de uma destas embarcações.
A situação estava tensa com a Holanda, onde os Comissários Holandeses que vieram a Lisboa felicitar o novo Rei de Portugal, D. Afonso VI, apresentam uma declaração formal de guerra ao Secretario de Estado português. Um risco de aliança entre a Espanha e a Holanda era patente, tornando vulnerável novamente a nossa independência. As principais causas prendiam-se com os territórios ultramarinos que na sua maioria foram quase todos ocupados por holandeses.
Ainda antes da subida pela encosta do quebra costas resolvi ir a uma tasca comer qualquer coisa: broa e um copo de vinho, numa confusão nunca vista. As gargalhadas das prostitutas e contendas entre os artesãos eram ensurdecedoras. Quando paguei, e deixei a propina, a moça sorriu-me agradecendo com um «querido». O choque de idades trouxe-me alguma azia do vinho que bebi. Tinha idade para ser minha neta!
Começo então o calvário da subida até ao Palácio do Alcaide-mor. Trepo pela encosta com o peso dos botins e da espada, transpirando como um mouro no deserto. Mesmo a brisa que se faz sentir pouco ou nada me refresca. O suor escorre como lagrimas de uma viúva inconsolável.
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Intriga em Coimbra
Fiksi SejarahUma estória de espionagem entre Portugal e Espanha, passada em Coimbra, em vesperas do acordo de paz da guerra da Restauração, em 1668. Mateus de Galvão foi o eleito por El Rey de Portugal para que a paz prevalecesse.