"Eu vivo no mundo com medo do mundo me atropelar.
E o mundo, por ser redondo, tem por destino embolar.
Mas desde que o mundo é mundo, nunca pensou em parar."

- Toda vez que eu dou um passo, Siba

***

Louis acorda já agitado, não dá um minuto, levanta da cama. Ele estica os lençóis, escova os dentes, vai para a cozinha, dá bom dia pra Mark e as irmãs, faz seu café, volta pro quarto, põe a roupa do estágio (casual, mas não tão casual). Rápido e eficiente.

Merda. Café na blusa. Tudo bem. Ele troca de blusa. E derruba café nessa outra. Foca, Louis, foca. Outra blusa. Pronto. Agora sim. Blusas e cafés são velhos rivais, na concepção de Louis. O café é do mal, querendo espalhar seu domínio por todas as superfícies. Café Truman. Da doutrina. Louis ri sozinho.

Ele grita pra Lottie que está pronto e corre para pegar a mala, vai para a porta da frente, tropeça no caminho. Poxa.

"Vamos?" Lottie coloca uma jaqueta e saí de casa.

Os dois caminham juntos pelas ruas de Londres todas as manhãs até a Companhia. Louis gosta de observar os humanos, seus jeitos, conhecer melhor. Não é como se eles fossem muito diferentes de si próprio, na verdade. Mas é interessante pra criar estratégias. Estar atento. Muito atento.

Atento em uma criança atravessando a rua com um idoso, Louis esbarra em uma mulher.

"Ai, desculpa!"

"Louis, sobre ontem," ele não quer falar sobre ontem, mas Lottie continua, "eu sei que você não fez por mal. É óbvio. Só que tem um limite, entendeu? Tipo, não que você não se esforce, eu sei que sim, mas... talvez um pouco mais de foco."

"Eu foco!"

"Eu sei que sim." Lottie pausa um pouco, procurando as palavras. "Talvez você esteja abordando errado? Não sei. Pensa sobre isso. É que, por você ser um pouco... desajeitado, não sei. Deve ter um jeito de concertar isso."

Concertar isso.

Bom.

"É, deve ter." Louis continua a observar as pessoas. Estratégias. "Deve ter. Eu vou melhor, okay? Eu vou procurar um manual de desajeitamento. Desajeitamento, engraçado, não? Super engraçado. Enfim. O manual. Deve existir..." Lottie está fazendo aquela cara. Aquela com o sorriso meio forçado. Ah, não. Sem essa sobrancelha franzida, essa leve piedade "...eu vou fazer alguma coisa. Deixa comigo. Ei, tudo sob controle, certo?"

Ela não fala nada, olha para ele mais um pouco. Louis continua encarando a multidão.

Do meio da multidão, Louis consegue identificar no mínimo duas fadas-do-dente por meio da cor dos olhos, sempre violeta. Ele sabe que devem ter, na agitação, mais seres que não consegue reconhecer.

Volta o foco para a irmã.

"Eu não tenho 6 anos, Lottie."

"Eu sei."

Louis quase pisa em um cocô de cachorro no meio da calçada. Quem foi o porco.

Chegam na empresa, passam o cartão de entrada na catraca, autorizados. No elevador, Lottie sai no quinto andar, o das missões regionais, sem se despedir, enquanto Louis para no sétimo.

Ele anda até onde fica sua mesinha, encostada na parede e comprimida com outras mesinhas, todas dos estagiários. O andar de Louis pertence a, basicamente, arquivos. É o que ele e Niall e outros ajudantes fazem praticamente o dia inteiro: vão de um andar a outro, de uma sala a outra, levando arquivos e recados e às vezes um café, organizando tudo em fichários e pastas.

O Que Aconteceria Se Isso Acontecesse (l.s.) - longficOnde histórias criam vida. Descubra agora