XIII - Um favor

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POV Sina Deinert

De manhã, assim que acordei, pensei sinceramente em desistir e quando cheguei naquela clínica nojenta, cheguei à conclusão de que realmente não devia ter saído de casa, mas mesmo assim um lado meu ainda insistia em ficar. Eu sei, sou completamente contraditória.

Quando sentei na sala de espera e parei para analisar todas as mulheres que haviam naquela sala me senti tonta, por pensar que tantas vidas seriam jogadas fora, mas quem era eu para julgar já que faria o mesmo?!

Enquanto esperava minha vez pensei tantas vezes em ir embora que chegou uma hora que o desespero foi mais forte e comecei a chorar agoniada, não conseguia entender a batalha interna que havia dentro de mim e muito menos porque não havia ido embora ainda. Fui ao banheiro e lavei meu rosto, uma mulher entrou de repente e sua feição era seria, completamente fechada. Sua barriga já estava consideravelmente grande, não me segurei e acabei a questionando.

- porque resolver abortar depois da sua gravidez estar tão avançada? - perguntei e ela me olhou um tempo, achei até que não iria responder, mas se pronunciou.

- tive uma filha a pouco tempo e fui burra de engravidar novamente, mal estou conseguindo lidar com a pirralha que tenho, imagine se tivesse mais um?! Demorei para chegar na decisão, porque afinal todos da minha família falam que não é a coisa certa, mas quem vai cuidar das crianças sou eu, então vim resolver isso de uma vez. - ela disse e entrou em um dos boxes.

Sai do banheiro desnorteada e em vez de sair de lá, voltei a me sentar na sala de espera. Todos diziam que não era a coisa certa a fazer, mas quem teria todo o trabalho era eu! Certo que eu não tinha outro filho como aquela moça no banheiro, mas eu tinha meu emprego, que me consumia por completo e não teria tempo para uma criança. Se eu tivesse esse bebê, ia acabar esquecendo meu trabalho, colocaria ele na frente de tudo, minhas prioridades mudariam e ele acabaria com a minha rotina, mas quem eu estava querendo enganar?? em compensação seria a pessoa que teria um pouquinho de mim, da forma mais linda, com certeza teriamos uma conexão fora do normal, senti-lo dentro de mim seria inexplicável e eu viveria momentos únicos!

E já fiquei em dúvida de novo!

Não deveria ter que ser tão difícil assim, mas não é só minha vida que está em jogo, além disso envolver outras pessoas também. Quando me dei conta já estava em prantos novamente e senti raiva de mim mesma, por ser tão boba e estar chorando sempre ultimamente.

Quando de repente senti alguém beijando minha cabeça e quando fui olhar quem era e vi que se tratava de Noah senti que isso só poderia ser um sinal, o universo estava tentando me dizer algo, porque quando o vi as dúvidas foram embora e eu soube que deveria ter o bebê, mas não por mim, sim por ele, que só teria essa chance! Mas para isso eu teria algumas regras!

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Quando chegamos em minha casa, coloquei o carro no estacionamento e Noah ficou do lado de fora dentro do carro dele. Depois de estacionar meu carro fui até lá fora e o chamei pra entrar, que aceitou meio relutante.

- eu pedi que você entrasse, porque agora que decidi que terei o bebê e o entregarei a você precisamos combinar como vão ser as coisas. Não ache que vou parar de trabalhar ou coisa do tipo, nem que farei aquelas aulas chatas de parto, mas como não tenho vontade de ser cortada, vou fazer parto normal! - disse me sentando no sofá assim que entramos.

- bem, você ja parece saber de tudo, não tem o que dizer! -ele disse sorrindo. - vamos fazer tudo como você preferir, estou muito feliz que você esteja sustentando a gravidez, mesmo isso não sendo algo que você já tenha imaginado.

- eu percebi que não era justo com você e com o bebê fazer o que eu estava prestes a fazer, mas preciso te pedir um favor.

- o que você quiser! - ele falou sério.

- eu não quero saber nada sobre a criança, quando ela nascer claro, e o que eu poder evitar saber agora também. - eu ainda não queria um filho, as pessoas romantizavam muito a maternidade, eu não quero ser mãe.

- você não quer se envolver de nenhum jeito então?! - ele perguntou com uma cara que parecia com tristeza.

- exatamente isso, não quero saber o sexo e também não vou comprar nenhuma roupinha ou coisa do tipo com você. Quando o bebê nascer vou amamenta-lo apenas no pôs parto e depois tirarei o leite e te mandarei. - disse decidida. Não podia correr o risco de criar um vínculo com aquela criança.

- ok, se é assim que você quer! Mas saiba que eu não me importo se você acabar se apegando ao bebê, muitos filhos têm pais separados.

- eu sei, mas não quero ser mãe, já disse! - não significava que porque eu estava grávida e daria à luz aquela criança, seria a mãe dela.

- se você prefere assim, a decisão é sua! - ele falou e depois ficamos em silêncio, não tinha mais o que falar! - então, eu já vou indo, vou marcar a primeira consulta e entro em contato com você!

- certo, muito obrigada, ficarei no aguardo! - disse e fomos em direção à porta.

- sei que disse que não pararia de trabalhar, mas vê se não fica pulando refeições, você tem a mania chata de ficar presa no escritório e acabar não comendo e isso não vai fazer bem ao bebe. - ele disse sério.

- faz muito tempo que você não acompanha mais minha rotina, eu posso ter mudado. - disse na defensiva.

- e mudou? - ele perguntou com a sobrancelha arqueada.

- não, mas isso não significa nada. Vou tentar não pular as refeições pelo bebê. - disse revirando os olhos.

- muito obrigado! - ele sorriu, beijou o topo da minha cabeça e saiu.

Fiquei na porta da minha casa até ele entrar no elevador e quando fechei a porta, sorri, eu sabia que tinha tomado a decisão certa, só precisaria mudar algumas coisas na minha rotina, mas eu já tinha feito mudanças mais radicais por coisas que não valiam a pena, então isso não seria nada!

Sorri com esse pensamento, não conseguiria explicar como mudei de ideia tão "rápido" nem se quisesse, mas sabe aqueles momentos em nossa vida que a gente só sabe que algo precisa ser feito?! Quando Noah me olhou naquela clínica eu voltei alguns anos e consegui resgatar a importância que isso tinha para ele, e eu sabia que entre nós tudo até poderia ter acabado por minha causa, mas ele era meu primeiro amor, ocupava um espaço na minha vida importante demais, então eu faria isso por ele, me resguardando ao máximo para não me apegar ao bebê.

Tudo isso de gravidez e ser mãe envolvia expectativa demais e eu sabia que não atenderia nenhuma deles, então só colocaria na minha cabeça que era um favor, estava fazendo um fazer a um amigo antigo, eu não tinha mais um relacionamento mesmo e uma parte da minha vida estava meio "livre" agora, eu conseguia fazer isso né?! Qual o mal de fazer um favor a alguém?!

"Que os ventos corram ao nosso favor!"

Just Us - Noart/Sinoah✨Onde histórias criam vida. Descubra agora