Capítulo 8

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Joana entrou no quarto grande e encontrou Virgínia aos prantos. Deixou as roupas que estava segurando cair no chão e correu para próximo à patroa.

Virgínia viu Joana se aproximando e escondeu a carta que estava em suas mãos. 

— Senhorita? O que aconteceu?— Joana sentou-se ao lado dela na cama.

—N...nada Joana— respondeu Virgínia soluçando— só...s...só sauda...saudades de casa...

Joana abraçou Virgínia, que desabou em seu ombro como uma criança. 

Após alguns minutos Virgínia se afastou do abraço de Joana e a encarou:

—Joana está tudo bem, pode voltar ao seu trabalho, não quero lhe atrapalhar minha querida— sorriu falsamente e Joana percebeu.

—Você não está bem Virgínia! Eu...

—Vá Joana! Você tem muito o que fazer— respirou fundo— não se preocupe comigo, estou bem.

Joana apenas assentiu e levantou-se da cama com um suspiro. Pegou as roupas no chão que deixara cair e, antes de sair, olhou mais uma vez para a patroa que era mais que alguém que pagava seu salário, era uma amiga. Balançou a cabeça negativamente ao ver a mulher sentada na cama chorando e saiu.

Antes que pudesse chegar ao tanque de lavar roupa se deparou com Túlio que chupava uma laranja despreocupado.

— Tá fazendo o que aí Túlio?

O homem assustou-se, pois não havia visto Joana se aproximar:

—Joaninha minha gata! To chupando essa delícia aqui— ele levantou a laranja— peguei no quintal, a senhorita Virgínia tem belas laranjas— o homem riu pela frase de duplo sentindo.

Joana fez cara feia para ele.

—Ah Túlio se já fez o que tinha pra fazer pode ir embora!

—Calma Joaninha, foi brincadeira, você gostava das minhas brincadeiras até alguns anos atrás— ele aproximou-se de Joana, o suficiente para ela sentir o cheiro de cavalo e suor que emanava dele.

—"Gostava", no passado, agora você é um homem velho e devia...

—VELHO? Você...  me respeite! Eu não sou velho mulher, você me magoa assim.

Joana olhou para ele com desdém.

—Sai Túlio! Tenho muita coisa pra fazer. Pelo cheiro você já deve ter cuidado dos cavalos, então vai caçar seu rumo.

—Eita que todo mundo tá de mau humor! Só porque é segunda, que peste! Primeiro a Virgínia tomou as cartas que eu trouxe com toda força possível, e agora você com esse mau humor...

—Cartas?

—É, o carteiro deixou no Joaquim, eu fui lá pegar pra moça.

—Ah, isso explica muita coisa— disse ela consigo mesma— eram de Portugal?

—Sei lá mulher! Eu sou lá homem de ficar olhando carta dos outros...

—Tá bom Túlio, pode ir embora. Obrigada pelos seus serviços, agora cai fora!

Túlio se aproximou de Joana e disse em seu ouvido:

—Tchau Joaninha!

Ela virou-se repentinamente pela proximidade do homem de seu corpo, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Túlio colou os lábios carnudos nos delas.

Joana se afastou e, não pensou duas vezes, soltou a mão no rosto de Túlio com toda força possível.

—SEU CANALHA!—Ela esbravejou.

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora