Antoine passou sua camisa e vestiu um casaco de linho. O dia estava frio, havia chovido a noite inteira e o clima ameno lhe causava um conforto familiar. Ele saiu da casa e inspirou o ar fresco da manhã, um sorriso de contentamento se fez em seu rosto.
O padre estava indo fazer uma visita ao Armazém do Joaquim, para resolver um problema antigo, de uma dívida, supostamente, deixada pela paróquia. Ele sabia que enfrentaria grandes problemas nos próximos dias, mas sabia que Deus ficaria do seu lado no que fosse justo.
Vilinha estava em sua normalidade, algumas mulheres varriam a rua, crianças corriam por ai enquanto não chegava o momento do banho antes da escola. O armazém já estava cheio de homens fedendo a estrume de vaca e suor, afinal, eles iam para o povoado assim que ordenhavam seus gados e ali se demoravam até o horário do almoço. Mais tarde, voltavam e bebiam uma saideira da noite.
Antoine entrou no bar, mas não tapou o nariz como as pessoas costumavam fazer. Pelo contrário, ele sorriu em cumprimento para todos os homens que ali estavam, estes que olharam espantados pela presença ilustre de um sacerdote num local como aquele. Joaquim limpava o balcão sujo a sua frente quando viu Antoine se aproximar e o cumprimentou:
—O que deseja aqui, padre?—Ele perguntou distraído.
—Um padre não pode simplesmente encher a cara as vezes?
Os homens soltaram gargalhadas com a resposta do padre, inclusive Joaquim.
—Claro que pode! O que vai ser? Vinho ou a branquinha?
—Branquinha!—Antoine disse, brincalhão. Mas, acenou com a cabeça em negação quando o velho fez menção de pegar a bebida— Não estou aqui para isso, seu Joaquim.
—Pois não? O que é então?
—É sobre aquela dívida que você veio me procurar no inicio do ano...
Joaquim coçou a cabeça, pensativo.
—Preciso ver os recibos da compra. O senhor os tem, não é?!
—Eu...aammh....aah...tenho—o homem estava nervoso—Estão aqui.
Ele subiu em um banquinho e retirou um caderno empoeirado da prateleira atrás do balcão. Em seguida, folheou o caderno e entregou-o ao padre.
Antoine olhou as anotações a sua frente e fez um muxoxo.
—Vocês estão subestimando minha inteligência?
Joaquim virou o rosto para o lado, não encarando o padre.
—Essa assinatura aqui—ele chamou atenção do velho—tem alguma coisa escrita por debaixo dela, não tem?
—Eu...eu não sei de nada, padre...
—Claro que não! Eu sei exatamente quem fez isso!—Antoine estava irritado—Não se preocupe, Joaquim, a divida será paga...
—Olha, padre, eu sei que é errado ficar cobrado coisas de religiosos, mas...
Antoine o silenciou.
—Não! Não é errado! Errado é o que fizeram com o senhor.
Joaquim deu de ombros, e Antoine sentiu pena do pobre homem, que só queria viver e pagar suas contas em paz.
...
Virgínia entrou na caminhonete e esperou Joana entrar. A mulher estava organizando algumas verduras na carroceria para levar a Vilinha, a fim de entregar um pouco à senhora Almeida. Assim que ela entrou, as duas seguiram viajem, com cuidado, pois a estrada estava enlameada.
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Padre Antoine
RomanceVilinha é um simples povoado de Goiás, após a morte do padre Pontes, um novo padre é destinado para fazer o serviço religioso do local. Este novo padre é Antoine, um antigo morador do povoado e filho de uma das senhoras mais ricas da região. Antoine...