Capítulo 18

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Virgínia levou a xícara de café aos lábio, recostada na janela, observava os pastos de seus pais e ao longe a bela cachoeira onde Antoine havia a salvado de um afogamento. Tal pensamento lhe entristecia, mas todos os fatores resultavam naquela decisão de afastamento.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo bater de botas na madeira do piso. Era Miguel.

—Bom dia, senhorita!— O homem cumprimentou. Seu cabelo estava bagunçado devido a cavalgada de Vilinha até a fazenda, isso o fazia esbanjar mais charme.

Virgínia respondeu o cumprimento e continuou imersa em seus pensamentos, enquanto observava a fazenda de seus pais.

—Preciso de uma cela nova.—Miguel a importunou novamente— E alguns venenos para matar ervas daninhas do pasto.

—Faça uma lista, por favor, e me entregue em meu escritório— a mulher estava, de fato, com a cabeça nas nuvens— Passarei o dia lá.

Miguel a observou, imersa em seus pensamentos, ela nem parecia a mesma Virgínia Alcântara mesquinha que ele conhecera há alguns dias. Ela mais se parecia com uma mulher sonhadora e determinada, que se importa com as trivialidades da vida, ele via vida nela. Os cabelos castanhos estavam caídos sobre o ombro e a camisa azulada contrastava com seus belos olhos azuis, que mesmo distantes, eram capazes de tirar o fôlego de um homem maduro e vivido...

—O que está olhando?—Virgínia se virou e depositou a xícara na mesa entre eles.

—O que?— Miguel pigarreou.

—Você estava me encarando. 

—Desculpe...Eu não estava...

Virgínia empinou o nariz:

—Não tem trabalho a fazer?

—Já vou indo— respondeu de forma rude, lembrando-se da personalidade da mulher. 

O homem se virou e Virgínia o viu partir. Era um homem jovem e belo, os cabelos negros desgrenhados eram seu charme, usando aquelas calças apertadas e a camisa recém passada ele poderia mesmo conquistar o coração de qualquer jovem. Mas, Virgínia não era jovem e com certeza não era boba de cair nos encantos de um homem como aquele, ela não caíra nem nos encantos de alguém como Antoine, ainda desviava os pensamentos quando pensava nele. O que ela e o padre tiveram foi intenso, mas a racionalidade devia prevalecer acima da emoção, e assim permanecer. 

...

Antoine havia madrugado para fazer orações e passaria a semana fazendo vigília, a fim de purificar seu coração. No fim de semana iria para a capital, confessar-se.

Tomava um café da manhã que ele mesmo havia preparado quando escutou alguém abrir a porta. Era Juan, o garotinho entrou e se juntou a ele no café.

— Você tem aula hoje?— O padre perguntou engolindo uma colherada de ovo mexido.

—Tenho sim, padre. Rosinha está preparando o almoço para mim— respondeu com a boca cheia de comida.

—Você ainda vai almoçar? 

—Vou ué!

O padre riu e lhe afagou a cabeça.

— O que veio fazer aqui, Juan?

—Nada, só tomar um café contigo e conversar...

Antoine amava aquele garoto.

— O Ludovico tem cuidado bem de você?

—Sim, ele me trata muito bem. Comprou roupas novas pra mim e tudo mais, às vezes—ele fez uma pausa para engolir— eu fico envergonhado pelo tanto de coisas que ele me dá. 

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora