O dom do Conhecimento

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"Chorar, chorar pra que? Você vai me pagar tudo o que me fez sofrer"

Acredite moça, quando eu digo que alguém se cega por amor é verdade, vocês enquanto encarnados não se permitem enxergar o que acontece em sua volta. Você só enxergam o que querem e ponto, não tem algo ou alguém que mude sua opinião. É como diz um ditado bem antigo "o pior cego é aquele que não quer ver".


                                                                      ●●●



— Vamos, não quero que ninguém saiba que estive aqui! - falei ao colchero, que arrancou com seus cavalos em direção a casa de minha mãe.

  Eu não posso chorar. Eu não vou chorar, Mariana desde pequena teve ciúmes de mim, talvez seja por que sua mãe passava mais tempo comigo... ainda me lembro do dia em que ela disse durante uma briga com a mãe que a "filha branca dela, era mais importante", esbravejou pedindo para a velha a esquecer, afinal ela só tinha uma filha..

  Martino me amava, era um homem atencioso e carinhoso, o inicio de nossas vidas juntas foi bem conturbado, mas superamos isso juntos, não era possível que ele fosse capaz de me trair... a não ser que...

   Mariana conhecia tudo o que eu conhecia, todos os segredos, todos os banhos e todos os encantos que sua mãe havia nos passado. Maria a velha escrava que havia me criado veio de seu país com uma grande bagagem de conhecimento dentre eles haviam feitiços, banhos, venenos, preparados, garrafadas, e tudo que havia de mistérios entre o mundo dos encarnados e desencarnados. Durante toda minha vida ela ensinou tudo a mim e Mariana, ela dizia que eram os escolhidas pelos deuses, que deveríamos ter esse conhecimento e usar quando fosse necessário, e levar a frente para as próximas gerações.
  Só que agora a minha ficha caiu, Mariana nunca gostou de mim, sempre quis me prejudicar, e eu nunca entendi o porque.


                                                                              ● ● ●

   Era fim de tarde quando adentrei a casa de meus pais, o cheiro de café vinha no portão, a casa grande e branca parecia vazia e sem vida, até as flores que sempre deram vida a entrada da casa estavam murchas, peguei minhas malas e fui em direção a grande porta, lá estava meu pai, seu rosto parecia triste, assim que bati a porta ele olhou em minha direção e uma lágrima solitária escorreu em seu rosto, ele tentou disfarçar mas outras lagrimas caíram, ele não precisava me dizer nada, subi as escadas correndo o mais rápido que consegui, a porta no fim do corredor parecia nunca chegar. A criada saiu na soleira, ao me ver abaixou seu olhar e eu nem precisei perguntar.

   Lá estava, minha velha mãezinha, pálida e sem vida, morta como suas flores do lado de fora da casa... meus joelhos cederam e eu me vi caindo em frente a cama, já não havia mais forças para conter as lagrimas, eu nunca senti uma dor tão grande, era como se uma parte minha tivesse ido embora junto com ela.

—  Judite, por nossa Senhora, me diz que é mentira - falei entre os soluços. — isso não pode, não pode acontecer!!


—  Dona Helena, levante-se, você precisa se acalmar - disse a criada, com uma voz embargada tentando segurar o choro.

  Judite me ajudou a levantar, e me sentou numa cadeira próximo a cama de meus pais, o choro parecia que nunca passava, uma dor que cortava meu coração em varias partes, eu não sei descrever ao certo, mas talvez tenha sido a única vez que realmente senti uma tristeza profunda, a ponto de querer ir embora junto com minha mãe. A criada me deu um copo d’agua, com as mãos tremulas eu bebi, e a cada gole que dava eu tentava acordar do que me parecia um pesadelo.

—  Eu acho melhor a senhora descer para a sala, o doutor Henrrico esta vindo, para levar ela... - assenti com a cabeça, Judite me ajudou a levantar e me levou até a sala.

  Meu pai continuava lá, sentado, vazio, olhando para as paredes e procurando nelas o sentido em algo..

—  Papai...eu... pai... é um pesadelo? ela não se foi... - disse á meu pai, correndo para seus braços.

                                                                                        ● ● ●

   Era fim de tarde quando Doutor Henrrico chegou, acompanhamos ele até o quarto onde ele iria atestar a morte da minha querida mãe, lá estava ela, ainda pálida e sem vida, realmente não era um sonho, muito menos um pesadelo...ela realmente estava morta, e não tinha como voltar atrás, os ajudantes do medico subiram para levar o corpo dela, foi ai que vi que não teria mais minha mãe ao meu lado. Desci as escadas e dei de cara com meu marido sentado na sala, com um semblante preocupado ele veio em minha direção.

— Querida, eu vim assim que soube - falou me tomando em seus braços.

  Seu abraço naquele momento não era o que eu queria, mas era onde eu me sentia protegida - eu não esqueci o que vi mais cedo, mas naquele momento a dor de perder minha mãe era maior do que a de ser traída pelo marido e aquela que eu pensava ser minha melhor amiga - ao sentir seus braços me envolvendo as lagrimas e o choro irromperam novamente, um misto de sentimentos que eu não sabia explicar.
— Eu estou aqui- disse meu marido - não chore, você precisa estar calma para ficar junto de seu pai.

     Me soltei de seus braços e respirei fundo para me recompor, ele tinha razão eu precisava ficar bem, pelo meu pai. Sequei as lagrimas e fui em direção a cozinha, eu precisava de um café forte, a noite seria longa.
  


      O céu estava acinzentado. O cemitério é onde o orgulho se acaba, onde  tudo o que você conquistou fica para trás, onde só se leva o corpo, pois a alma ja esta em algum lugar bem distante  de nós, eu havia me esquecido o quão mamãe era conhecida na cidade, pessoas que eu nem lembrava o nome vinham me prestar condolências, amigos da família que não víamos a ano choravam perante o tumulo. A cada terra que caia em cima do caixão, mais meu coração se apertava. Martin ficou ao meu lado desde de a hora que chegou na casa dos meus pais, era nítido a sua preocupação, ele tinha seus defeitos, mas era um bom marido... 


  Passamos cerca de 30 dias na casa de meus pais, fora o suficiente para eu colocar a minha cabeça no lugar e entender tudo o que aconteceu no dia da morte da minha mãe. Os primeiros dias foram difíceis, meu pai não dormia, não se alimentava, cheguei a pensar que iria perde-lo, com os dias ele foi e reerguendo. Martino ficou todos esses dias conosco, nos dando todo apoio, foi um verdadeiro companheiro, desde que nos casamos ele nunca foi tão atencioso, carinhoso, amoroso e prestativo como nesses últimos dias, nesses dias enxerguei o homem pelo qual me apaixonei, que me fazia feliz todos os dias desde o nosso casamento.
  Cheguei a conclusão de que ele me amava, e era um bom marido, no começo pode ter sido difícil, não nos conhecíamos tão profundamente, mas com o tempo ele foi se mostrando uma boa pessoa e eu sabia e devia reconhecer isso. Tenho certeza de que a Criada havia o enfeitiçado, ela sempre teve ciúmes de mim com sua mãe, eu a considerava como uma irmã, crescemos juntas, foi a única “amiga” que tive na infância, apesar das diferenças financeiras... Quando ela se tornou minha criada, ela passou a agir diferente, parecia incomodada, desconfiada, ela com certeza tinha uma queda por Martino, mas nunca teve capacidade de enlaçar um homem tão bonito e importante como eu... Não me restavam duvidas , ela usou um dos preparados de sua mãe para enfeitiçar meu marido. Isso não ia ficar barato, eu tive os mesmos ensinamentos do que ela, o que ela sabia fazer com as mãos, eu aprendi a desfazer com os pés! A velha Maria, sempre me disse que eu tinha mão para curar e derrubar...
   As malas estavam na sala, meu pai estava indo para a casa de seus irmãos na cidade litorânea, e eu estava indo de volta para minha casa. 

— Fique com Deus, e você cuide bem da minha filha!

— Não se preocupe, ela é meu tesouro e não vou deixar nada acontecer com ela - disse Martino

— Adeus papai, te amo! - falei o abraçando e o vendo entrar em sua carruagem.


— Vamos Helena? Eu ainda tenho que ir para o trabalho.

— Vamos querido!


    A minha casa cheirava lavanda, assim que entrei em casa me deparei com flores e café na sala de entrada, meu marido fora direto ao trabalho, seriamos somente eu e Mariana.
  Respirei fundo, era hora de encarar os fatos.

—Mari? Você esta ai?
— Ah, oi, estou aqui na cozinha, senhora - respondeu.

— Não me chame de senhora - falei, enquanto ia em direção a cozinha.

—  É força do habito, me desculpe. Sinto muito pela sua mãe, era uma mulher maravilhosa! - falou indo em minha direção de encontro a um abraço. - Eu sei como é difícil, já passei por isso... no que precisar estou aqui.


    FALSA!

— Obrigada - falei enquanto me afastava. — vai ficar tudo bem.. eu preciso aproveitar a minha casa, meu marido, tire o dia de folga, volte só a noite para o jantar, quero ficar sozinha.

— Tudo bem, irei visitar meu pai na fazenda, e de noite estarei aqui!



                                                                                  ● ● ●


  Enquanto Mariana não voltava tive tempo para usar os ingredientes suficientes que tinha em minha casa.

Água
4 colheres de sopa de raiz de lírio (ou musgo de carvalho)
4 colheres de sopa de sal marinho
4 colheres de sopa de ferro em pó preto
4 colheres de sopa de óleo de olíbano ou mirra
4 dentes de alho
Uma pitada de manjericão
Uma pitada de sálvia
Óleo de lavanda ou baunilha
5 grãos de milho seco
5 sementes de gergelim
5 paus de canela
5 cravos
5 pimentas da Jamaica
5 nozes


  Já estava tudo pronto, deixei o jantar pronto, naquela noite meu marido iria trabalhar para compensar os dias que ficamos fora, seriamos só eu e Mariana. O cardápio do nosso jantar era a comida que sua mãe sempre fazia quando estávamos tristes uma com a outra, galinha ao molho, arroz, feijão preto e farofa, e diga-se de passagem eu amava!
   A porta dos fundo se abriu, e lá estava ela, radiante feito a lua, como se tivesse encontrado um pote de ouro na primeira encruzilhada que passou. O seu semblante ao me ver na cozinha, sentada e com a mesa de jantar posta, foi a coisa mais satisfatória da noite, ela estava assustada. Mas não deveria, era só um jantar...


— É, boa noite? - indagou

—  Boa noite Mari, como foi o passeio? Seu pai está bem? - perguntei

—  Ele está bem sim, bem cansado, mas faz parte da idade.

—  Sente-se, meu marido não irá voltar para casa hoje, então fiz um jantar especial para nós duas! Veja só, a comida que sua mãe fazia para nós.
 
  Ela me olhou espantada e sem entender, mas mesmo assim se serviu e sentou-se comigo. Esperei ela dar a primeira garfada para perguntar:

— O que achou? Eu sei que não sou uma ótima cozinheira, mas dei o meu melhor. Sua cara não está muito boa... - observei

— Esta... POR NOSSA SENHORA HELENA, TEM MUITA PIMENTA - falou enquanto ficava cada vez mais vermelha

— Oh meu Deus, me desculpe, tome, beba um pouco de suco - falei num tom preocupado, enquanto colocava um pouco de suco no copo para ela.

  Mariana bebeu o suco, a vermelhidão de seu rosto passou, e agora era só esperar o veneno fazer efeito, em poucos minutos, ela começaria sufocar e estaria morta, não ia ser mais uma ameaça ao meu casamento!
 









NOTAS DA AUTORA:

amores, não me matem kkk eu sei que demorei durante 2 anos para voltar a escrever, estou um pouco enferrujada, preciso melhorar mt na minha escrita, mas prometo que não vou sumir por mais dois anos.
Assim que decidi voltar a escrever, descobri que minha historia havia sido plagiada e publicada neste site.
Quero deixar claro que a historia que escrevo me foi contada pela própria entidade e o enredo criado é de total propriedade intelectual MINHA, portanto a historia original de uma das pombo giras da falange 7 ENCRUZILHADAS, só será contada nesta conta. Quero agradecer a todos vocês, espero que tenham gostado deste capitulo... e ah não se esqueçam de comentar!!

Beijinhos e até o próximo capitulo!

A Dama das 7 encruzilhadasOnde histórias criam vida. Descubra agora