um simples jantar

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” Quem com ferro fere, com ferro será ferido, a pior traição é quando vem de um amigo"

  O fato de hoje eu ser uma pombo gira, não apaga como errei em vida e também não muda o fato de eu não me arrepender dos meus atos enquanto encarnada, afinal se não fossem meus erros, será que hoje eu seria uma entidade? Será que teria que aprender com os meus erros ensinando os outros a como não confiar em qualquer pessoa que lhe diz coisas boas com um sorriso no rosto, eu estaria vindo em terra ensinar a mulheres como eu, que amor próprio vale mais do que um amor vazio? Pois é dona moça então, não, eu não me arrependo.

                                                                                             ●●●



— Helena, eu não estou me sentindo bem - ofegou.

— Ora, comi da mesma comida que você Mari, deve ser a pimenta, ja vai passar - falei sorrindo

  Aos poucos a criada foi perdendo as forças, seu rosto de corado passou a ficar pálido, ela tentava respirar, por diversas vezes tentou se levantar, mas o seu corpo não reagia... seu olhar me pedia misericórdia e ajuda.

— Me..ajude... o que... vo..cê fez.. co...mi..go? - falou enquanto tentava respirar

— O que eu fiz com você? E o que você fez comigo? Você se quer pensou em mim Mariana? Pensou? - gritei - VOCÊ NÃO PENSOU! EU TE DEI CASA, TRABALHO, EU ACHAVA QUE ERA SUA AMIGA, E VOCÊ, SUA CRIADA IMUNDA, VOCÊ NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE, ENFEITIÇOU O MEU MARIDO, E SE DEITOU COM ELE??

  Os olhos da vagabunda, começaram a lacrimejar, e dentro de mim a satisfação começou a surgir, ela buscava ar e não conseguia, eu sorri, seu corpo desfaleceu em cima da mesa.

  Era tarde, eu precisava arrumar aquela bagunça, apagar meus rastros daquela cozinha, retirei meu prato, os copos, joguei a comida fora, deixei na mesa apenas o copo caído e o corpo morto e debruçado sob a mesa. Eu subi para o quarto, coloquei a camisola mais bonita que eu tinha, de cor vermelha e tecido de cetim. Soltei os meus cabelos e me deitei na cama, eu precisava do meu marido naquela noite, precisava do fervor de nossa relação sexual, tê-lo dentro de mim. Tentei esperar por ele, mas o cansaço e me tomou, eu dormi.

— HELENA, ACORDA, HELENA POR DEUS - acordei com meu marido sacudindo meus ombros.

— Hã... o que houve?  - perguntei.

— È a Mari, ela esta caída na cozinha, ela não responde, ela não responde helena - ele falou entre os soluços.

   Choro? Ele estava chorando? Só podia ser um sonho...
 
— Já chamou o doutor ? Já chamou alguém?- perguntei enquanto me levantava da cama.

— Sim, eu chamei - ele respondeu.


  Descemos juntos para a cozinha, e lá estava o corpo daquela mulher repugnante, sem vida. Meu marido estava desesperado, ele não conseguia olhar para ela, seus olhos ainda estavam abertos, as moscas posavam sob seu corpo, e eu me perguntei diversas vezes onde estaria aquela alma miserável, esperando que naquele momento estivesse queimando no fogo do inferno, que é para onde vão os traidores.

  Não demorou muito para que o doutor chegasse, atestaram a morte dela, e levaram seu corpo, meu marido já estava mais calmo, naquela noite ele contou que esqueceu as chaves da porta da  frente e precisou entrar pelos fundos da casa. Acredito que seu desespero foi por encontrar ela, ele parecia desnorteado.



                                                                        ●●●

  Os meses se passaram, viver ao lado de Martin nunca foi fácil, ele sempre foi um homem sistemático, cheio de manias,  mas em compensação não dava opinião nas coisas de casa. Qualquer coisa que eu decidisse em relação a nossa casa estava bom para ele, assim que Mariana foi enterrada, arrumei uma nova criada, a velha Rosa, era uma senhora de meia idade, com dotes culinários maravilhosos, eu não precisava me preocupar com compras, com organização, Rosa era muito mais do que eficiente, era o que eu sempre precisei naquela casa.
  Na primeira após a satisfatória morte da criada, meu marido parecia desolado, ele não falava, não comia direito, não dormia, foram dias difíceis, mas ele tinha a mim! Preparei uma garrafada para ele que iria cortar o efeito do feitiço que aquela mulher havia feito para ele. Na segunda semana ele já estava de volta, me acordava aos beijos, com carinho, até mais do que fazia antes. Na quinta semana em diante, ele deixou de chegar em casa cedo e as perturbações começaram.
  Meu marido chegava tarde, embriagado, dia após dia. Ele me evitava na cama e eu não conseguia entender isso, Martin  só sabia chegar e dormir, eu vivia sozinha dentro daquela casa, me perguntando onde estava meu marido e se ele se quer voltaria para casa naquela noite.



  As portas da entrada bateram de longe ouvi a voz dele:



— INFERNO - esbravejou enquanto subia as escadas.

  Martin entrou cambaleando em nosso quarto, ja era manhã, ele exalava conhaque, seus olhos estavam inchados e avermelhados, ele se sentou na cama, tirou os sapatos com dificuldade.

— Você não vai se banhar?

— Eu só preci... - ele não conseguiu continuar a frase, e regurgitou tudo o que havia ingerido.

— Levante-se, vá para o banho - falei enquanto puxava ele pelos braços - amanhã você vai ficar em casa, chega de bebedeiras.

  Quando me dei conta ele estava chorando, e me pedindo perdão por ter se tornado um monstro, comecei a banhar meu marido, enquanto ele chorava, eu nunca o vi tão vulnerável quanto aquele dia.  Após o banho levei ele para o quarto de visitas do outro lado do corredor. 


— Me desculpe - disse ele após retornar a sobriedade.

— Não precisa se desculpar, eu preciso entender o que esta havendo com você.... - falei.  — você não era assim, você sempre foi um homem concentrado.

— Muito trabalho, eu estou sobre carregado.. - falou

— Então fique em casa alguns dias - falei enquanto acariciava o seu rosto.

— Ficarei - ele falou.


  Lentamente seus dedos começaram percorrer meu corpo, seus lábios encostaram nos meus, tentei protestar mas ele me impediu, seu toque era suave e dócil — Preciso de você - sussurrou entre os beijos, que me causaram um arrepio, que da nunca foi passando por todo meu corpo. Me vi agarrada por um corpo firme feito rocha, eu não queria, queria conversar, mas o desejo foi mais forte, eu não queria que ele parasse.
Ele colocou suas mãos por dentro da camisola que eu usava, e me puxou mais para perto, senti um calor se espalhando pela minha pele.

— Não - murmurei com a minha boca colada a dele, mas não foi o suficiente, Martin inclinou sua cabeça e me beijou novamente, aproveitando a oportunidade para me erguer e encaixar seu quadril no meio das minhas coxas.
  O latejar que eu sentia, só aumentava, foram semanas sem ter meu marido, e agora ele estava ali, pronto pra mim, sua boca acariciava meus mamilos, de uma forma como ele nunca havia feito, me fazia revelar todo o desejo que estava reprimido.

— Querido - falei enquanto ele descia mais com a boca — Por favor.

Seus lábios encontraram o local do meu corpo que mais suplicava por ele. Foi mais forte do que eu, o empurrei para o lado e montei sobre ele, eu precisava daquilo, queria tê-lo dentro de mim.
  O desejo estampado nos olhos dele me fez estremecer, fui obrigada a me mover lentamente e tornar aquela noite eterna. Mordi meu lábio inferior, sentido a penetração ir cada vez mais fundo,  ele me preenchia por inteiro, sua rigidez me fazia perder o folego.

— Ah - ele grunhiu, passando as mãos em minhas costas enquanto chegávamos juntos ao nosso ápice.

 
                                                                              ●●●


  Pois é, moça as coisas pareciam ter melhorado na minha união, as noites de bebedeira diminuíram, ele passava menos tempo em seu trabalho, eu passei a ajudar mulheres perdidas na igreja. Com o passar do tempo ele passou a me acompanhar na caridade que fazíamos, levávamos roupas, comidas. Eu costumava ir a cada 15 dias, já ele ia uma vez por semana, pois recolhia uma grande quantidade de coisas com os amigos do trabalho.

Uma noite, eu esperei meu marido chegar em casa para irmos juntos a igreja, ele demorou, e não chegou. Decidi ir sozinha, pois a igreja não ficava muito longe de nossa casa.
Naquela noite, as estrelas não estavam no céu, somente uma grande lua que iluminava toda a vila. As ruas estavam vazias, não era tarde, mas poucas pessoas saiam a noite. Nas ruas, só se viam homens, e mulheres perdidas, prostitutas.
As portas da igreja estavam fechadas, mas nos fundos se ouviam as vozes das pessoas que iam buscar alimentos e roupas. Passei pela porta fazendo o sinal da cruz como sinal de respeito e me dirigi aos fundos da igreja.

—  Boa noite Padre, a sua benção - falei

—  Deus lhe abençoe filha - o padre responde - o que faz aqui sozinha essa hora?

— Vim entregar essas coisas - mostrei a sacola. —  Martin esteve aqui?

—  Não minha filha, ainda não passou por aqui, mas se passar eu o aviso que esteve aqui.

—  Não precisa padre, eu ja estou voltando para nossa casa, ele demorou pra chegar...e eu não queria deixar de honrar meu compromisso, então decidi vir sozinha. Mas já estou indo, até logo falei.

— Certo, tome cuidado.


  Assenti, e fui de encontro a saída da igreja, as do outro lado da rua havia um casal. Ou melhor havia um homem casado e uma mulher da vida, eles estavam se tocando no meio da rua, uma completa depravação. Ele passava as mão no rosto da mulher e ela sorria, completamente disposta a satisfazer aquele homem, por sorte a lua se moveu e consegui enxergar o casal. A mulher era ruiva, alta, e eu a conhecia, ela sempre ia na igreja em busca de mantimentos para sua família, era uma mulher bem cuidada, porem não tinha condições de se sustentar e vendia seu corpo para sobreviver. O homem estava todo vestido de preto, era um homem de poder, ele usava uma capa que também era preta... e eu o conhecia, aquele homem deixou sua mulher sozinha e a trocou por uma qualquer da rua... ele era meu homem, era meu marido.

  Eu poderia atravessar aquela rua e interromper tudo o que estava acontecendo, eu esperei lagrimas e não as tive, segui andando em direção a minha casa, era a melhor coisa a se fazer, ir para casa e o esperar.

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  Eu espero que você leve para a vida, o que vou dizer agora, moça, o lobo sempre se veste com pele de cordeiro.




Notas finais:

Não me matem, quero opiniões 💃🏼

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⏰ Última atualização: May 23, 2020 ⏰

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A Dama das 7 encruzilhadasOnde histórias criam vida. Descubra agora