ii. lion's dance.

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R O B B.

- Ouvi dizer, quando pequena, que os deuses antigos ainda são cultuados aqui, no Norte. – disse Dorcas observando a gigantesca arvore coração que parecia encarar-lhe de volta.

Estavam no pequeno espaço de seu pai onde a gigantesca árvore vermelha acalentava-os na fria noite. Dorcas parecia surpresa, admirada e curiosa em relação à religião dos primeiros homens; ouvira muitos detalhes duvidosos nos bares de Porto Real, sobre feitiços imperdoáveis, rezas vulgares e rituais tão antigos quanto a luz do dia.

- O Norte perpetua muitos costumes antigos, minha dama. – Robb ainda atrelava a leoa a sua corja, mas não negava sua admiração pela primeira e única mulher a fazer parte da Guarda Real desde sua criação. O boato sobre o Rei Robert confiar sua vida a Lannister chegará até o Norte meses antes, talvez até tivessem consumado seu cargo, mas Robb não iria questiona-la.

Seu porte confiante e consciente o rememorava Visenya, a guerreira irmã e esposa de Aegon O Conquistador. As canções ditavam suas vitorias até os dias de hoje, e talvez todos os poetas estivessem errados, afinal. Robb apanhou-se imaginando uma batalha entre ambas guerreiras; apostaria em Dorcas mesmo nunca tendo visto-a lutar.

Sua postura era invejável, suas curvas assemelhavam-se ao mais perfeito dos afluentes, seus louros cachos caiam feito cascata da trança já embaralhada, seus olhos rugiam como o leão do estandarte de sua casa. Dorcas era o próprio leão dourado, com garras afiadas e mortíferas.

- Nunca conheci alguém abençoado pelos deuses milenares, se quer saber. – Respondeu a garota incerta, ainda observando cada folha avermelhada como se pudesse ouvi-las na ventania congelante.

Seu olhar era agressivo, impetuoso e intimidante, mas Robb reconheceu medo no tom de voz de Dorcas.

- Seus deuses e os meus são muito parecidos. – Robb parecia acreditar honestamente em sua fala, que Dorcas julgava eminentemente ridícula.

- Tem de ser muito tolo para acreditar nisso, lobo Stark.

- Nunca disse que não era, minha dama. No que acredita?

Dorcas aproveitou para sentar-se lentamente sob o lamaçal de barro e neve, limpando seu vestido sem muita paciência.

- Na fé dos sete, é claro. São meus deuses, que me protegem a todo tempo. – Sua voz imponente ganhara um novo tom em segundos; a menina sussurrava, como se questionasse sua própria resposta. Robb nada disse.

- Meu pai sempre diz que nada pode nos proteger a não ser nos mesmos. Devo supor que sou meu próprio deus, assim dizendo. Mas como poderia sequer considerar suas palavras? Sou filha de Tywin Lannister, afinal.

Robb permaneceu calado, digerindo suas palavras. Conhecera Dorcas há menos de quatro horas e já conseguia contar em seus dedos a quantidade de faces que a menina obtinha ao falar sobre fé, guerra, trono, e agora família.

E assim permaneceram, por minutos ou horas, sequer se importava; a companhia da menina lhe agradava mais do que pudera imaginar.

Até ouvirem passos apressados e descompensados em direção a onde estavam, como costume Robb logo tocou sua espada e preparou seus músculos, mas percebera que era apenas a jovem Elia, confidente dornesa que Dorcas trouxera consigo de Porto Real.

- Pelos deuses! Procurei-lhe por todo lugar, mulher. – Sua aparência era tão suave quanto a de Cersei ou Jaime. Delicada e gentil em seu andar, sequer parecia a dona dos passos apressados que colocaram Robb em alerta. – Me perdoem! Que cabeça a minha, céus. Não quero interromper a conversa de vocês.

Dorcas apenas riu desacreditada, levantando impetuosamente e fazendo um movimento curto com seu pescoço para chamar a atenção do príncipe.

- Elia, este é Robb Stark. Está é filha de Oberyn, princesa dornesa Elia Martell.

Logo Robb a reconheceu das historias que seu pai contava quando era pequeno; do saque de Porto Real, do infeliz fim a mulher a quem Oberyn lhe nomeara como homenagem.

- É um prazer conhecer-lhe, minha dama. – Robb apressou-se para dar um selinho em sua mão direita, como fora aconselhado fazer. Robb ouvira falar sobre seus cabelos avermelhados, olhos banhados em mel que faziam o sol sumir em inveja, e sobre sua beleza avassaladora, mas Elia não tinha nada de dornesa. Imaginara sua pele escura, cor de ouro valiriano, mas a mulher a sua frente era tão pálida quanto os criadores de dragão que invadiram Westeros há trezentos anos. Sua pele era clara como o mais branco dos papeis, seu jeito gracioso e estonteante rememorava-lhe Cersei em todos os possíveis sentidos.

- É um prazer, Lorde Stark. Ouvi muito bem a seu respeito, senhor. – respondeu a menina com timbre tímido e acalento em suas palavras. – Dorcas, é urgente. Seu pai está procurando-lhe.

Antes que Dorcas pudesse levantar-se, Robb agarrou seu ante braço cuidadosamente e sussurrou em seu ouvido:

- Tywin Lannister não deve ser o mais religioso dos homens, mas devo concordar com o que disse. Confiaria minha segurança a ti, se pudesse.

Dorcas tentou suprir seu sorriso que forçava sair, mas não conseguiu. Seus dentes perfeitamente brancos iluminaram seu rosto enquanto deixava Robb a sós, com seus deuses e crenças.

D O R C A S.

- Não serei sua moeda de troca! Diga ao velho barrigudo que minha resposta é não! – Gritei ao sentir a ponta dos meus dedos queimarem ao ódio que meu coração implodiu ao ouvir o que meu pai tinha de tão importante a tratar.

Tywin permaneceu calmo, sua expressão inalterada e sua essência sombria ainda assombrava seus olhos profundos.

- Não seja burra, Dorcas. Ele é seu rei, e se um dia realmente acreditou que Robert a ofereceria uma vaga na Guarda Real, temo não ser uma Lannister. Não somos uma casa de tolos, minha filha. Se quer que Westeros dance a música dos Leões, preciso que pense um pouco afundo no que lhe foi oferecido.

Sequer conseguia pensar propriamente; meu ódio era tanto que sentia minhas entranhas borbulharem em revolta. Como pôde? Oferecer-me como um acalento político, uma moeda de troca. Não bastava oferecer Cersei a um rei patético, tinha de me jogar na corja dos lobos como um presunto vencido.

- O senhor sabe muito bem que não serei uma Lady, que não passarei meus dias e noites bordando e dando crias a Robb Stark! Fui treinada para batalhar no campo com o senhor, papai. Com Jaime.

Lagrimas impetuosas ameaçaram cair de meus olhos. Tão nova, tinha toda uma vida para lutar pela minha família, minha honra, e perpetuar a incontestável supremacia Lannister. Sequer pensara, mesmo em meu maior pesadelo, casar-me antes dos 20.

Pego a Irmã Silenciosa, minha fiel e única amiga que matara mais do que se possa contar; de aço valiriano, com couro Dothraki e rubis Targaryen encrustados, o cabo era como um velho conhecido. Saio do quarto de minha irmã como agua corrente; não iria, jamais, deitar para deixar que homens de meia idade decidam seu destino. Sou forte o bastante para escrever minhas próprias palavras, e não existe rei capaz de me alcançar.

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⏰ Última atualização: May 15, 2020 ⏰

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𝗹𝗶𝗼𝗻 𝗯𝗹𝗼𝗼𝗱 ↯ r. starkOnde histórias criam vida. Descubra agora