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Clara

O Carlos chegou da casa da Ju e mal falou comigo, estava com uma cara de poucos amigos.

— Que chato, esse meu irmão! Poderia ao menos me esperar terminar o banho para dar boa noite! — falo sozinha.

Não sou louca, mas como moro sozinha há bastante tempo, criei esse hábito de conversar comigo mesma. Depois da separação me senti muito solitária, porém, hoje amo a minha companhia e nem lembro mais como era ter um homem, que se dizia ser “um marido” em casa.

— Estranho o Carlos dormir cedo, geralmente conversamos até tarde quando ele está aqui. — Abro a porta do quarto de hóspedes onde ele dorme como um anjo — dormindo é um santo!

Fecho a porta e vou para o meu escritório, tenho alguns contratos para revisar antes de dormir. Odeio trazer trabalho para casa, mas, foi necessário. Entre uma cláusula e outra começo a ficar sonolenta e consequentemente vem os bocejos. Recosta a cabeça sob a mesa na intenção de descansar as vistas, mas acabo dormindo.

😴

Ligo para o Luís Fernando que me atende grosseiramente, falando baixo, com a justificativa que está em reunião.

— Tchau! Quando estiver desocupado te ligo! — ele diz e ouço um silêncio.

Olho para a tela do smartphone que ainda corre os minutos da chamada, na pressa ele não desligou o celular.

— Vem princesa, estou te esperando! — meu marido fala carinhosamente, mas ele nunca falou assim comigo, nunca gostou de melação, segundo ele isso era coisa de adolescente.

— Já estou indo, bebê! — uma voz feminina desconhecida ecoa.

Depois disso parecia que liguei para um puteiro. Escutei em silêncio meu marido dizer palavras que nunca foram proferidas para mim, enquanto a mulher felizarda gemia com a satisfação que o meu parceiro nunca me fez sentir.

Fiquei paralisada até a hora que ele chegou, como se nada tivesse acontecido.

— Boa noite, amor! Ainda está acordada? — tenta me beijar e viro o rosto — Ah! Clara vai me dizer que está chateada porque não pude te atender mais cedo? A reunião era importante!

— Tão importante que você esqueceu de desligar o telefone! — observo o Luís Fernando ficar pálido — Ouvi tudo!

— O que você ouviu? Fale! — ele diz nervoso.

— Você quer mesmo, que eu narre seu momento de luxúria com a sua amante? — digo firme.

— Posso explicar, você sabe que nossa relação não é mais a mesma. — ele pausa, está nítido que está escolhendo as palavras para consertar o erro.

— Engraçado que quando eu te falei isso, você disse ser coisa da minha cabeça. Que nos amávamos e isso que importava em uma relação!

— Algum dia faltou amor para você, Clara?

— Não só o amor como também o respeito! — digo indignada.

— Me desculpa, eu deveria ser mais cuidadoso! Isso não acontecerá mais. — ele vai para o banheiro.

— O que você quis dizer com o “serei mais cuidadoso”? — vou atrás dele.

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