Capítulo 02 - Reunidos

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Mery

          - Flameeeeu – gritou Mery, de frente para uma porta fechada - já são quase dez horas. A reunião vai começar e você precisa estar lá! – Mery insistia naquele mesmo dia frio, 14 de fevereiro de 1937.

          Mery possuía uma voz bem jovem e aguda, porém não era irritante, era estranhamente agradável, como se fosse afinada ou algo assim. Ela tinha 1,61 cm de altura, não era baixa demais nem alta demais, seu cabelo tinha uma raiz lisa, porém depois das orelhas ficava ondulado. Ela cortava seu cabelo um pouco abaixo dos ombros, mas como enrolava ele ficava um pouco acima dele. Em sua raiz eram castanho bem claro e em algumas partes ela tinha o cabelo preto e em outras o cabelo era branco. Ela estava com uma roupa que gostava muito, um moletom largo, branco, ela raramente colocava a touca, calças de lã e pantufas bem confortáveis.

          A porta abriu e dela saiu um homem que aparentava ser mais velho, tinha 1,78 cm de altura, possuía olhos negros muito serenos, usava um cavanhaque e seus cabelos curtos eram penteados para trás. Fios já brancos, tanto em seu cavanhaque quanto em seu cabelo revelavam sua idade, embora ele tivesse algumas rugas, possuía muito charme, era um homem muito elegante e educado. Geralmente era visto utilizando terno preto e sapato sociais de couro. Mas o que mais chamava a atenção naquele homem, é que ele possuía um semblante desanimado, desfocado, que não condizia com sua aparência. E essa combinação, produzia uma presença impossível de ignorar.

          - Desde quando você dá a mínima para as reuniões? – Flameu disse, a pergunta o fazia parecer curioso, mas seu tom de voz sereno e ponderado, dava um ar de desanimado e tudo, quase como se fosse apenas uma obrigação social perguntar certas coisas. Estava arrumando a gola de sua camisa enquanto saia da sua sala.

          - Me ofereceram uma janta completa para amanhã, se eu fizer você ir na reunião – Mery disse, Flameu havia fechado a porta e ela estava caminhando lado a lado dele.

          - Um jantar completo? Uau! – e para completar, sarcasmo, a variação entre ele e o desanimo completo, faziam Flameu ter um escudo emocional enorme, ninguém sabia bem o que ele estava pensando e o que ele queria.

          - Não que você se importe, mas as pessoas daqui estão preocupadas com você sabe, reuniões como essa são importantes para a nossa segurança – Mery sempre dava um jeito de se beneficiar, a palavra "nossa" podia ser substituída por "minha".

          - Tudo bem, eu te prometo Mery, que não vou deixar nada acontecer a você – ele caminhava devagar pelos corredores – já que está valendo um jantar completo, eu vou ir. Já iria de qualquer jeito, mas aí, você diz que foi você quem fez isso acontecer e me dá um pouco da sua comida depois.

          - Fechado, olha, eu sei que eu geralmente ignoro tudo que está acontecendo, mas eu estou com medo de termos que sair daqui – Mery se mudou para aquele lugar a quase vinte anos atrás, morar ali já fazia parte de quem ela era – e eu quero que a gente continue aqui.

          - Às vezes mudanças são necessárias – nada nesse mundo irritava ela mais do que quando o Flameu começava a agir como se o destino fosse cuidar deles, quando ficava sem fazer nada durante o processo.

          - Não! Não são não, eu gosto de morar aqui, todos nós amamos esse lugar – Flameu estava prestando atenção, era raro, quase inédito a Mery demonstrar interesse em algo – eu vou ficar na reunião com você, quero ter certeza de que você vai nos defender.

          - Claro, claro, faça como quiser – disse Flameu, parecia que ele ia dizer algo mais complexo, ou pelo menos que estava pensando algo mais complexo.

ANIMA - O cão de guardaOnde histórias criam vida. Descubra agora