Capítulo 03 - Si ge jiben dian

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Raphael Löngides

Ele se encontrava saindo da residência que havia invadido, ele e o Pedro já haviam encontrado o corpo e ele entendeu que apesar das atitudes duvidosas, ambos só queriam ajudar. O homem ficou sem chão, e não é para menos, ele perdeu quase toda sua família, restando apenas uma filha, a mais nova, ele havia decidido que publicaria tudo o que sabe no dia seguinte e então se mudaria de Leeds. Raphael ficou com eles um bom tempo conversando e decidindo os próximos passos, depois decidiu ir a pé para sua casa. Ela caminhava devagar, ele não tinha a menor ideia de onde seu segurança estava, muito menos se estava vivo.

Raphael havia desacelerado, ele sentiu o chão em baixo de seus pés, as vezes esquecemos de sentir essa sensação, mas naquele momento, ele sentia cada detalhe se seu pé na palmilha de seu sapato e seu sapato por sua vez, firme ao chão. Ele teve uma nova chance de encontrar algo, e ele perdeu a oportunidade, a maioria das pessoas vive sua vida toda sem encontrar nada sobrenatural, mas parece que ele era fadado a sempre chegar muito perto. Obviamente, ele estava perto, mas agora só restava a opção de ir para casa e dormir.

Raphael sempre foi um menino diferente, ele não ligava para o fato de não participar das atividades sociais da sua família, suas lembranças começam entre seus quatro e cinco anos de idade. Desde muito pequeno ele já entendia bem sua situação, seu pai, irmão e a mãe deles eram todos britânicos, cabelos escuros, alguns castanhos, pele clara. Ele recebia afeto, brincava com seus irmãos, a mãe deles o tratava com carinho, mas todos tinham um certo receio dele. Desde pequeno, ele esperto demais, entendeu sua delicada situação social cedo demais, fácil demais, Raphael não chorava, pelo menos não na frente das pessoas, ele ajudava todos e dava ideias sempre para tudo melhorar. Muitas noites ficou acordado ouvindo seus pais brigarem por falta de confiança, sabendo que a existência dele era uma eterna prova de que seu pai não é confiável.

- Sabe, eu quero fazer algo grande - disse Raphael com quinze anos de idade para seu pai, era madrugada, o casal estava com um clima bem pesado. Raphael sabia que seu pai ficava na varanda e foi lá falar com ele.

- Ah, é mesmo? - um leve susto, surpresa pelo menino demonstrar interesse em algo, e um bom humor - vai estudar em algum lugar para isso?

- Não, quer dizer, eu não sei - ele estudava numa escola mais simples, e seus irmãos numa outra escola melhor - talvez eu estude algo, vou estudar a vida toda, mas não sei se tem lugar para mim numa academia.

- Parece que você pensou muito no assunto filho - seu pai parecia genuinamente feliz - sabe, eu deveria ter perguntado sobre isso antes. Por que eu não perguntei sobre isso antes?

- Aaah, sei lá - Raphael disse com ar um pouco sarcástico, como se só não quisesse dizer o que pensou.

- Ha ha ha - ele riu, seu pai estava de fato mais velho, antes em sua vida ele tinha menos tempo para tudo, um homem de negócios, com a vida acelerada. Mas a idade o havia ensinado a dar valor para esses pequenos momentos - eu deixei você sempre sozinho, sempre te exclui de tudo.

- Não faz isso consigo, você lutou para que eu fique com você, foi o seu melhor - Raphael disse isso colocando a mão levemente no ombro de seu velho. E isso dizia muito sobre ele, Raphael sempre fez o máximo, para ser um fardo leve.

- E de alguma forma estranha, você sempre entendeu tudo tão bem, eu poderia ter te dado mais afeto, posso ainda, mas olha para você, é um homem - ele estava orgulhoso - sempre carregou os olhos da sua mãe, ela era tão forte. E, eu... nossa, eu sou uma merda de pai.

- Talvez meio merda - Raphael disse olhando para as estrelas. Depois de uns instantes contemplando olhou para seu pai, cruzaram olhares e riram muito. Um homem que viveu muito e tinha muito pelo que se arrepender. E seu jovem filho, ainda tão inexperiente e que não carregava rancor pelo seu pai - o que aconteceu com ela?

ANIMA - O cão de guardaOnde histórias criam vida. Descubra agora