06 | luke peterson

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Eu não quero ser seu amigo, eu quero beijar seus lábios
Eu quero te beijar até perder o ar

Girl in red

— VOCÊ ESTÁ PARECENDO um zumbi — eu disse para Faith, quando finalmente a alcancei nos corredores da faculdade.

A garota estava fugindo de mim — como sempre. Quando avistei ela a três minutos atrás, a poucos metros de distância, ela mudou a direção para que estava indo propositalmente e me deu as costas. E então eu comecei a seguí-la. Dava para ver que ela estava constrangida por estar perto de mim. Vários universitários passavam por mim, chamando meu nome e cumprimentando-me. Eu ignorava todos eles, pois só tinha olhos para Faith.

Esta manhã ela estava usando uma saia lápis preta e um suéter com a gola alta, cobrindo o pescoço longo e elegante. Seus cabelos dourados estavam amarrados em um coque desgrenhado, de forma que diversas mechas lhe caíam sobre os as íris azuis gelos. A pele pálida sob seus olhos estava coberta por olheiras. Ela me ignorou, vasculhando em sua bolsa até que seus dedos se enroscaram em óculos pretos da Chanel e elas os colocou.

— Era brincadeira. Você está maravilhosa, como sempre — eu fui honesto, seguindo-a até o café do outro lado do campus.

Esperei por sua resposta, um rolar de olhos ou talvez um grunhido irritado mas tudo que ela fez foi me ignorar e fingir que eu não estava ali. Achei engraçado. Aparentemente ela não sabia que eu não desistia fácil. Poderia correr atrás dela pelo restante da manhã. Ela entrou na fila e eu fiquei ao seu lado, as mãos enfiadas no bolso. Ela pediu uma dose média de café preto e um pedaço de torta de mirtilo. Eu fiquei com uma caneca de chocolate quente e um muffin porque precisava de açúcar em meu sistema.

Quando a atendente cobrou nossos pedidos em conjunto, presumindo que estávamos juntos, Faith se virou e eu sorri enquanto observava suas costas se distanciar até que ela se sentou em uma mesa vaga no interior do café. Eu paguei e esperei até que a mulher me entregasse um copo de isopor fumegante, uma caneca de chocolate quente e um saco pardo. Segurei tudo com as duas mãos e me sentei em frente a garota loira no banco acolchoado.

Ela estava com os cotovelos em cima da mesa e o queixo apoiado em um dos punhos cerrados. Com a mão livre ela puxou seu café quando o coloquei sobre a mesa e revirou o saco até que achasse sua torta embrulhada em papel filme. Fiquei observando ela comer silenciosamente sem óculos, que agora estavam presos na gola de seu suéter.

— Você vai me ignorar para sempre? — perguntei.

— Não — ela respondeu de boca cheia. Terminou de mastigar um pedaço da torta e engoliu. — Não gosto de falar com pessoas de manhã antes de tomar o meu café. — Ela segurou o copo de isopor com ambas as mãos, bebericando-o e me fitando por cima da borda com os grandes olhos azuis.

— Que bom. Achei que você estivesse zangada comigo. — Levei a caneca de chocolate aos meus lábios e bebi alguns goles.

— Desculpe — ela murmurou, os olhos fixos em seu café. — Não queria agir feito uma idiota. Quanto deu a minha parte?

— Relaxa, coração. Não me importo em pagar seu café da manhã.

— Eu me importo.

A ignorei, Faith era tão teimosa quando queria. Ficamos em silêncio por alguns momentos. Acabei com meu muffin em três mordidas grandes e passei um guardanapo sobre a boca, amassando-o em meu punho e colocando-o dentro do pacote pardo com o emblema da cafeteria para juntar o lixo, Faith fez o mesmo com o embrulho de sua torta. Meu chocolate quente tinha ido goela a baixo também, agora só restava Faith e sua dose média de café preto.

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