9. A CASA DE ANDRÉ

27 0 0
                                    

Certo dia, meu amigo, André, convidou-me para conhecer sua casa. Eu, então, de muito bom grado, aceitei o convite com muita felicidade. Naquela altura, pouco imaginava a quão inusitada poderia ser visitar uma casa de alguém que era cego de nascença.

Nossa amizade era de tempos atrás, tínhamos intimidade suficiente para que meu querido amigo me convidasse para visitá-lo. Embora muito bem sucedido em sua carreira artística, não possua esposa, filhos ou parentes próximos. Vivia, então, só.

Não me atreveria a concluir que sou o que mais se aproxima de um familiar, mas, com segurança, posso afirmar que o considero parte importante da minha.

Lembro-me como se fosse ontem do dia em que conseguiu alcançar seu sonho de projetar a casa que sempre sonhara, como tudo aquilo que importava para ele: uma casa na medida de suas necessidades e prioridades.

Sem maiores detalhes, sempre soube que aquela casa seria um retrato dele e por muitos momentos me peguei especulando sozinho como seria a casa; quais os valores que a fazia ser tão especial para ele.

Não me atreveria a perguntar-lhe sobre detalhes da casa, afinal, meu amigo André sempre foi uma pessoa muito reservada. Mostrava-se relutante até mesmo para contar histórias de sua vida recente, já aclamada pelo mundo de modo geral.

* * *

Amanheceu o grande dia, finalmente. Os raios ainda sem a totalidade de suas forças reluziam e encandeciam o céu de uma luz alaranjada, intensa. Pouco a pouco o sol crescia sob o manto gelado que a madrugada deixara. Eu, postado frente a tal grandiosidade apreciava aquele espetáculo, como poucas vezes fiz.

Naquela manhã, especialmente, estava com meu pijama azul petróleo. Fui até a cozinha, preparei um café expresso e voltei para a janela de meu quarto para apreciar mais um pouco da sintonia de cores que aquecia meu quarto paulatinamente. O dia nascia especialmente belo àqueles que se dispunham a despertar a tempo para apreciá-lo.

Levantei meu café e o vi sob o brilho cada vez mais forte do sol, via nele seus traços avermelhados mareando dentro da xicara de vidro, enquanto exalava todo o perfume forte e amadeirado que prometia despertar a mente de quem o sorvesse, ao invés de simplesmente apreciá-lo. Aceitei o destino, enquanto quente, o fiz deslizar para dentro de meu organismo.

A essa hora, a grande estrela já havia se erguido o bastante para afugentar a fina camada da noite que sobrara e impunha-se no céu, por inteiro, apresentando-se ao mundo, como a verdadeira força, quente e implacável.

Já não podia olhar para ela, então, apenas fechei os olhos e senti minha pele sendo aquecida. Minha mente vagueava naquele momento até ser despertada pela lembrança de que precisava me preparar.

Virei-me rapidamente, fui até o guarda roupas e o encarei: como me vestir para esta data tão especial. Azul? Não, prefiro aquela peça vermelha, sim, fico tão bem nela, pensei. Vesti-me, quase por inteiro, até que, então, um toque na campainha me fez levantar e buscar entender quem me interromperia nesse momento. Quem ousaria incomodar alguém às 6:00?

Um rapaz, rusticamente vestido com trajes de couro, ainda com o capacete, questionou se falava comigo. Confirmei. Então, entregou-me dois envelopes e orientou-me que deveria ler o menos, antes de pensar em abrir o maior.

Agradeci e, então, antes mesmo de fechar a porta, abri o primeiro envelope:

"Meu caro amigo.
Quero que esse dia seja especial, proporcionando a você um momento para nunca esquecer.
Enviarei um carro para te buscar as 16:00. Peço que não abra o segundo envelope até que seja orientado a fazê-lo.
Assim que o abrir, peço que faça exatamente o que está escrito nele.
Não terei condições de conferir se o cumprirá, mas confio que o fará.
Até,
André"

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 18, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Meu MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora