Capítulo Sete

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Durante toda a noite Alejandra virou de um lado para outro, incapaz de conciliar o sono. Os ruídos que ouvia, provocados por Charles que se movimentava pela casa, a inquietavam. Naquela noite, ela percebeu claramente o desejo nos olhos dele e sentiu-lhe a reação.

Era fácil para ela reconhecer nos homens a expressão de cobiça e de desejo, uma vez que já tinha sido uma modelo elevada a símbolo sexual. E as palavras de Brown martela­vam-lhe a mente a todo instante: "Se conseguisse atrair esse homem para o nosso lado..."

A princípio ela havia afastado a ideia, mas agora que percebia como ele a queria, pensou que esta poderia ser uma excelente oportunidade de tirar vantagens da situação... Anos atrás ela seria incapaz de uma atitude dessas, mas o tempo na prisão a ensinou que tudo era válido, principalmente quando se tratava de sobrevivência. E ter o filho de volta era para ela a suprema prioridade.

Sentou-se na cama, confusa com os próprios pensamentos.

— Já chega, Alejandra! — Ela se repreendeu, em voz baixa. — Você sempre se comportou como vítima. Está na hora de mudar as coisas...

E, acomodando o travesseiro às suas costas, reclinou-se pe­sadamente enquanto prosseguia na reflexão: "Aquele homem arruinou minha vida e por isso perdi meu filho. Agora, vou fazer com que ele o consiga de volta, custe o que custar!"

(...)

Na manhã seguinte, Alejandra acordou muito cedo. Já tinha terminado o café quando o carteiro chegou com a correspondência. Ansiosa, abriu um dos envelopes, no qual constava o seu nome, e retirou de dentro um cheque. Ao examinar-lhe o valor, deu um suspiro profundo de indignação.

— Não é possível... só isso?

O advogado enviara uma nota esclarecedora justificando que, infelizmente, era só do que o escritório poderia dispor no momento, contudo, esperava conseguir o mais rápido pos­sível a liberação da indenização a que ela tinha direito.

Charles que acabava de entrar na cozinha espantou-se ao vê-la tão zangada. E, aproximando-se de suas costas, comentou espiando por sobre os ombros dela:

— Não é muito, não é?

— Aposto que posso conseguir mais na assistência social — Respondeu ela, girando nos pés e encarando-o de frente.

— Pode até ser. Mas tenho certeza de que se fizer isso terá a imprensa toda interessada na história.

— E o que mais posso fazer? — Ela indagou, gesticulando com os braços abertos.

Charles a encarou hesitante. Uma voz interior lhe dizia que estava entrando em terreno perigoso e que o melhor que faria seria deixá-la ir embora. Porém, antes que ouvisse a razão, os lábios se abriram e ele se ouviu oferecendo ajuda.

— Pode ficar aqui o tempo que quiser.

Ela baixou os olhos, fingindo estar estudando a oferta. Na realidade era tudo o que precisava ouvir. Tinha de levar adiante o plano que bolara durante a noite.

— E então, o que me diz? — Insistiu ele, com ansiedade disfarçada.

Ela deu de ombros.

— Está bem — Confirmou por fim. — Só que irei precisar de algumas roupas. Será que descontaria o cheque para mim?

Ele assentiu com um gesto de cabeça e tomou o cheque das mãos dela, enfiando-o num dos bolsos da calça.

Como ela não tivesse o que vestir para ir ao shopping, ele se apressou em buscar algumas roupas que pertenceram um dia à sua esposa e que ele ainda guardava.

A Pantera [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora