Capítulo Vinte

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A campainha soou com insistência no apartamento de Adam Grayson. 

— Eu já vou! — Repetia em altos brados o homem que mais parecia uma copia mais jovem de Richard Grayson, en­quanto se enfiava no roupão azul e saía do banheiro para aten­der a inesperada visita. E enquanto caminhava, resmungava consigo mesmo sobre quem poderia ser àquela hora da noite.

— Quem é você? — Ele questionou curioso, ao abrir a porta e deparar-se com uma mulher desconhecida.

— Estou admirada de que o senhor não me reconheça, se­nhor Grayson. — Alejandra disse em um tom presunçoso. — Três anos não é tanto tempo assim... Além do que, suponho que tenha boas razões para não me esquecer... — atirou com sarcasmo.

O homem estreitou os olhos e abriu um pouco mais a porta para aumentar a claridade. Depois das dez da noite era costume da administração do prédio diminuir a intensidade da ilumi­nação nos corredores, por questões de economia. Talvez por isso ele não a tivesse identificado logo que a viu. Mas agora, com mais luz, foi possível reconhecê-la imediatamente.

— Ah, é você... — Falou ele num tom desdenhoso. — Ouvi dizer que tinha adquirido a liberdade, mas jamais imaginei que tivesse a coragem de aparecer por aqui!

— Bem... Como vê... Aqui estou. E acho que temos muito o que conversar... — Alejandra foi dizendo e tomando-o de surpresa, manobrou o corpo por baixo do braço que ele mantinha estirado e apoiado na parede e entrou na sala.

Sob o olhar estupefato de Grayson ela se acomodou no sofá, cruzando as longas e bem torneadas pernas, que pareciam ainda mais bonitas com a transparência das meias arrastão. Com os olhos carregados de falsa admiração, percorreu minuciosamente a sofisticada mobília que decorava a sala do apartamento onde Richard Grayson fora encontrado morto.

Depois de refazer-se do impacto da indesejável visita, Adam aproximou-se dela. 

— É melhor que se retire... Não tenho nada a conversar com a mulher que assassinou meu tio.

— Não acha que está sendo ingrato? — Perguntou ela jo­gando uma indireta no ar, enquanto apanhava dentro da carteira de verniz preto que carregava um estojo de maquiagem.

— O que você quer dizer com isso? — Indagou ele com ar inocente.

— Ora, não se faça de bobo! Quem quer que tenha matado Grayson fez a você um grande favor, não foi? A sua situação financeira era muito diferente antes de herdar tudo isto... — lembrou ela, gesticulando com as mãos.

O homem continuou sustentando uma postura indiferente e distante. Depois de dar uma meia-volta pela sala, rebateu com frieza. 

— Considero essa insinuação vaga e atrevida. Me diz, quem é que vai acreditar nas suposições levantadas por uma prostituta de luxo?  

— Pois eu a considero real. — Insistiu ela, com um pequeno espelho nas mãos, retocando o batom dos lábios. — Usar meu corpo como vitrine para que pessoas como as que você costuma sair se interessem por moda nunca me colocou nesta posição de me prostituir, Adam Grayson. E, ainda que eu fosse, é uma profissão muito mais digna do que a de um viciado, desempregado, que costuma perder tudo em jogos de azar. 

A calma com que ela agia, exibindo uma atitude clara de quem estava disposta a ir até o fim com aquela conversa, irritou Grayson. Tomando uma postura mais agressiva, ele ameaçou:

— Se não sair imediatamente vou chamar a polícia! — Para provar a intenção, dirigiu-se até o aparelho telefônico, que se encontrava sobre um móvel adequado na entrada da sala.

A Pantera [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora