Capítulo Nove

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Quando Alejandra se levantou na manhã seguinte, Charles já havia saído. Ela desceu até a cozinha carregando sua mala e preparou algo rápido para comer, não estava com fome, mas como não sabia como seria o seu dia, optou por um café da manhã reforçado. Sentou-se à mesa logo em seguida, em uma cadeira que dava as costas para a entrada e, no momento em que ia tomar o primeiro gole de café, ouviu o barulho da fechadura da porta da frente. Presumindo que se tratava de Charles, deixou-se ficar como estava.

— Deus! Não pode ser! Eu estou ficando louca!

O grito apavorado às suas costas fez com que Alejandra gi­rasse a cabeça de repente e se deparasse com uma mulher que devia ter uns cinquenta e poucos anos de idade, morena e baixinha, trazendo numa das mãos uma sacola, que parecia conter alguns pertences pessoais, e a outra pressionada fortemente contra o coração.

— Bom dia, senhora. — Alejandra sorriu.

— Que susto você me deu, menina! Pensei que estava vendo fan­tasmas! — Desabafou com alívio a mulher que acabara de chegar.

— Meu nome é Alejandra Navarro del Castillo. O senhor Wright me deixou ficar aqui por alguns dias, mas já estou de partida. Não quer se sentar e tomar uma xícara de café comigo, enquanto conversamos? Por favor...

A mulher aproximou-se desconfiada e depois de repousar a sacola que trazia numa das cadeiras e sentar-se na outra, agradeceu o convite.

— Meu nome é Maya e eu cuido da casa para o senhor Wright há alguns anos. Eu precisei de uma folga para ficar com minha irmã, que estava muito doente, e eu só deveria regressar na próxima semana, mas... — A mulher se interrom­peu para tomar um gole do café que Alejandra acabara de lhe servir e depois finalizou. — Como ela melhorou e eu não aguentava mais o idiota do meu cunhado, resolvi voltar antes.

— Por que a senhora pensou estar vendo fantasmas? Pare­ceu-me bastante assustada — Disse Alejandra sorrindo.

— Por causa desse casaco, querida. Costumávamos ver sempre a senhora Wright com um parecido a esse. Ela o usava quando estava lidando com a cozinha. Dizia que por ser escuro a sujeira não aparecia...

— Ah, entendo.

— Pois é... Alice era uma pessoa excepcional! Esta casa era cheia de vida no passado. E até mesmo o senhor Wright, que é sempre tão sisudo, sério, não conseguia deixar de sorrir quando estava com ela.

Alejandra não conseguiu esconder uma ponta de ciúme que sentiu ao ouvir aquele comentário. Devia ser mesmo uma mu­lher muito especial para conseguir fazer sorrir um homem como Charles. E pela primeira vez durante todo esse tempo, lhe ocorreu que nunca o havia visto sorrir. E, disfarçando o sentimento que lhe incomodava e ao mesmo tempo a feria, perguntou.

— O que aconteceu com ela?

— Alice morreu em um acidente de carro junto com o filho. Foi horrível... Pensei que ele fosse enlouquecer naquela época. Nunca mais o vi sorrir nesses últimos três anos.

— Quem? O senhor Wright? — indagou Alejandra, duvidando do que ouvira. Havia tido, sim, um momento que ele sorrira. O momento de sua condenação, três anos atrás. — Ele nunca me falou sobre a sua família.

— Sim... A família era tudo para ele, e ele não gosta de tocar no assunto. Ele sofreu muito. E tudo aconteceu poucos dias antes do Natal.

Enquanto a mulher falava, Alejandra lembrou-se do último Natal que passara com Daniel, semanas antes de ser presa, na casa de um casal de amigos que tinham cinco filhos. Fora uma noite muito feliz. E agora ela imaginava como teria sido para ele aquela mesma noite. E sem que desse conta, os olhos se encheram de lágrimas. Para ela, antes de ser presa, essa data sempre havia sido uma época feliz, em que ela celebrava a vida com as pessoas que amava e não se permitia pensar em problemas. E ele havia perdido tudo o que realmente o importava nessa ocasião.

A Pantera [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora