Capítulo Dezessete

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Já era madrugada e uma garoa fria e intermitente baixava a temperatura, quando eles finalmente chegaram à casa de Charles. Ele colocou o carro na garagem enquanto ela se adiantou para abrir a porta. Assim que ele entrou na sala, Alejandra pediu que se sentasse e depois falou em um tom misterioso:

— Eu preciso que me faça uma coisa. Mas não me pergunte por quê.

Ele a olhou desconfiado enquanto ela se sentava ao seu lado e perguntou:

— Que coisa?

— Que me deixe interrogá-lo.

— Não estou entendendo...

— Por favor, Charles. Faça o que estou pedindo.

— Mas... por quê?

— Estive pensando na forma como você conduziu o meu interrogatório...

— O que tem isso? — ele interrompeu.

— Há detalhes que preciso saber sobre o acidente e...

Ele prontamente interveio.

— O que aconteceu comigo não tem nada a ver com o seu caso.

— Ah, não? Tem certeza de que o seu estado emocional não interferiu em meu julgamento?

Ele sentiu-se desconfortável com aquela possibilidade e, subitamente, se levantou do sofá e começou a andar nervoso pela sala. Alejandra o segurou por um dos braços o obrigou a parar. Encarando-o, suplicou.

— Por favor, Charles. Fale comigo, me dê uma chance... Talvez essa seja a única chance que teremos de confiar plenamente um no outro...

— E isso por acaso irá nos ajudar a pegar Adam Grayson?

— Não é bem nele que estou pensando... Estou pensando em nós!

Ele permaneceu contrariado, mas não ofereceu resistência quando ela o fez sentar-se numa cadeira. Em seguida, Alejandra se sentou frente a ele, simulando um cenário perfeito para um interrogatório.

— Muito bem. Se isso a faz feliz... — começou ele irônico. — Pode começar com as perguntas.

Ela respirou fundo para tomar coragem e, ligando o gravador que tinha ido buscar na sala de vídeo, fez a pergunta mais difícil.

— Gostaria de que me falasse sobre... a senhora Alice Wright.

Ele ficou em silêncio por um momento e desviou o olhar até fixá-lo em um ponto qualquer da parede. Só então, como se estivesse vendo através dela, começou a narrativa.

— Fomos casados por mais de dez anos e nos amávamos muito. Tínhamos um filho chamado Tyler e éramos felizes.

— E que tipo de pessoa era Alice?

— Muito meiga e gentil... Uma das pessoas mais generosas que eu conheci. Éramos adolescentes quando nos conhecemos no colégio. Naquele tempo eu era um jovem rebelde e sabe Deus o caminho que teria tomado se não tivesse conhecido Alice. Eu vivia di­zendo que qualquer dia abandonaria minha casa e sairia pelo mundo afora em busca de novas aventuras, e isso enlouquecia meus pais. Mas ela também deixou bem claro que jamais me acompanharia e, que se eu a quisesse, o melhor que tinha a fazer era criar juízo e encontrar um emprego. Alice, embora jovem ainda, já era uma pessoa muito sensata — disse ele esboçando um sorriso. — Naquele mo­mento eu descobri que a amava e que não iria embora sem ela para lugar algum. Então decidi entrar para a polícia e poupei meu dinheiro durante três anos para poder me casar com ela.

A Pantera [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora