𝗔 "𝗠𝗮𝗻𝘀𝗮̃𝗼" 𝗨𝗿𝗶𝘀

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𝐐𝐮𝐢𝐧𝐭𝐚-𝐟𝐞𝐢𝐫𝐚, 𝟐𝟏 𝐝𝐞 𝐉𝐮𝐧𝐡𝐨 𝐝𝐞 𝟏𝟗𝟖𝟗

Os dois se encontraram no local combinado. Charlotte estava com um vestido vermelho que vinha até o joelho e cabelos soltos, mas o mais marcante naquele dia era o seu sorriso, de fato, nenhum cordão de pérolas ou qualquer brinco de cristal nunca substituirá a beleza do sorriso sincero de uma menininha inocente.

Ela estava com a sua bicicleta, que, na verdade era do seu irmão, mas como ela tinha mãos boas para artesanato, reformou e pintou.

- E aí Stanley! Como vai?

- O-oi Lottie - o pequeno judeu olhou para o chão e sorriu de lado, feliz pela menina ir na sua casa - vamos? Estou animado.

O verdadeiro plano não era, na verdade os dois estudarem o Tenakh juntos, mas sim um encontro da mãe do menino com Charlotte.

Então, os dois corações apaixonados cruzaram as ordinárias ruas da cidade interiorana, elas em sua maioria quase idênticas, em direção a grande mansão Uris que, a propósito, era linda por dentro. Cheia de detalhes como fotografias da infância de Stanley e lustres de cristais.
[...]
Lá estava ela, sentada na sala de estar, lendo um livro qualquer. Cabelos brancos já invadiam a sua cabeça como a neve que cai nos telhados no inverno, mas o seu olhar seguro continuava o mesmo. Uma senhora elegante com lábios finos e sempre bem-vestida. O seu nome? Andrea James Uris.

- Cheguei mãe!

- Olá Stanny ! Olá querida - a mulher cumprimentou a menina, tirando os óculos de leitura que estavam na ponta do seu nariz dando um beijo nela, como se a conhecesse há anos.

- Sou Charlotte Bowers, é um prazer conhecê-la, senhora Uris - a menina sorriu.

- Pode me chamar de Andrea, não precisamos de formalidades.

- O Tanakh em inglês está lá em cima, já volto - o pequeno e introvertido judeu disse subindo as escadas, dando um tempo para a mãe conversar com a menina como estava no seu plano.

- Você é filha do Bunch, né? Ah querida! Eu conheço o seu pai há anos. Você o conheceu faz pouco tempo?

- Sim. Na verdade, moro em Londres com a minha mãe desde que nasci. Esse ano eu insisti para vir aqui conhecer o papai.

- E ... qual o nome dela? - A judia perguntou suando frio, além do mais, aquela era a hora da verdade. A menina de negros cabelos adornados com ondas como o seu pai poderia ser fruto de um relacionamento fora do casamento ou poderia ser filha da sua melhor amiga.

- Genevive, Genevive Jackson. Ela é dona da Empire Jackson, uma empresa de moda, na verdade, uma das maiores de todo o Reino Unido - a britânica respondeu, observando fixamente a senhora, que não parecia estar bem.

Em um minuto milhares de memórias vieram como um raio em sua mente. Lembrou-se de como o sol nunca mais havia nascido o mesmo depois do desaparecimento de Genevive. O bruto rosto de Bunch veio a ela como uma imagem de um assassino. Para ela, o lugar daquele homem era na prisão.

Aquela época pareceu ter sido ontem, quando todos pensavam que o ex-marido houvesse assassinado a própria mulher e tivesse sido encoberto pela polícia. Quatorze anos já haviam se passado de todo aquele pesadelo, e junto com esses quatorze anos a depressão veio. Quando pensava que sua ferida já estivesse cicatrizada, se dava conta de que só havia aumentado.

De repente, Andrea voltou para si e percebeu que a roda da vida começou a girar novamente para a mesma como mágica. Uma lágrima percorreu o rosto com pele um pouco amadurecida.

A mulher começou a tremer como alguns dias antes, logo se levantou, abriu a gaveta de um móvel de madeira escura perto das duas e pegou uma foto um pouco embaçada. Do andar de cima Stanley via as lágrimas da mãe e percebia que nunca a tinha visto com aquele sentimento. Sentimento de felicidade misturado com medo e ansiedade.

- Conhece essa daqui? - Disse entregando o retrato para a menina, que respondeu fazendo um "sim" com a cabeça após perceber que era a mãe no ensino-médio ao lado da própria. As duas eram incrivelmente bonitas e pareciam ter muita elegância para as suas respectivas idades.

- Passei quatorze anos da minha vida pensando que sua mãe estava morta, mas ... não! Como isso pode ter acontecido? - A judia iniciou a chorar, agora de vez, quase não conseguindo parar. Charlotte, por sua vez, abraçou a mesma e se sentiu segura pela primeira vez em Derry. A vida é repleta de primeiras vezes, e essas, são com certeza as melhores - Eu não sabia que ela estava grávida quando fugiu. Seus avós foram embora daqui seis meses depois do desaparecimento, então ... estava tudo planejado?

- Eu realmente não sei, na verdade nem sabia que todos pensavam que a mamãe estava morta, eu preciso esclarecer tudo isso com o papai - ela disse levantando do sofá, ainda com dúvidas sobre tudo o que tinha ouvido. Dúvidas, dúvidas e dúvidas, era isso que a pequena Charlotte mais tinha na sua trajetória.

- Não! Por favor! Não! Eu preciso te contar a história toda, o meu lado da história e o de Genevive também, mas isso é coisa para outro dia. As pessoas geralmente não são o que elas aparentam ser e esse é o caso do seu pai querida, ele já fez coisas horríveis com a sua mãe. Apenas tente ficar longe dele em lembre-se: eu sempre estarei aqui caso precise de ajuda.

- Sabe, a mamãe não está em uma fase realmente boa da vida dela. A vovó faleceu faz três anos e isso desencadeou nela um vício alcoólico. Esse foi um dos motivos de mim mesma ter escolhido vir passar um tempo aqui - a menina disse com um olhar perdido.

- Eu ... eu estou aqui pra isso mesmo! Pode deixar comigo que resolverei tudo - a judia respondeu, agora um pouco mais calma, mas ao mesmo tempo preocupada com o estado da não-falecida Genevive.

- Aqui está o número, vai ser saudável para ela ter uma amizade verdadeira novamente.

Quinze minutos já haviam se passado e Stanley apareceu magicamente com o grosso livro debaixo dos braços. Deu um sorriso de lado, mostrando uma de suas covinhas e começou a lê-lo com a britânica. O tempo passava rápido quando um estava na companhia do outro e, sem nem mesmo perceber a hora do almoço já havia chegado.

Aquela manhã foi com certeza uma das melhores para a Charlotte, que ficou satisfeita em ver o amigo finalmente identificado com alguém no quesito religioso.

                                           [...]

A Extraordinária História de Charlotte Bowers (PRIMEIRA VERSÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora