Prólogo

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"para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus." 1Coríntios 2:5

02/07/2011 às 12:00 PM

Ela fecha os olhos e sente todo o ar invadir o seu corpo, e em meio a essa sensação ela apoia suas mãos sobre sua barriga que hoje pesava vagarosamente. A mulher acaricia aquele pequeno embrulho interno que já estava bem grande por fora. Ela, a mulher, eleva seus olhos para o céu quadrado com formato de janela e se deixa cair uma pequena lágrima silenciosa. Aquele dia estava tranquilamente ensolarado apesar de que aquele Sol por mais incrível que se possa parecer, não transmitia calor algum.

Ela se força para sair de frente daquela janela, mas a cadeira de rodas que a transportava trava ao fazer a manobra. De sua boca sai um longo e cansado suspiro que a faz pensar se deveria continuar ali parada ou se deveria insistir. Ela opta pela segunda opção e depois de muito esforço consegue sair do lugar. A jovem mulher encara aquela pequena sala por um longo tempo, já que não tinha certeza do que fazer.

─ Amélia, minha filha você está aí?

Uma voz rouca feminina chama do lado de fora daquela pequena casa de subúrbio. Era a mãe de Amélia, dona Aurora. Amélia se encaminha para a porta e com um pouco de esforço abre aquele pequeno portão. As rodas da cadeira batem com força nos micros buracos daquele chão mal feito do lado de fora da casa.

─ Mamãe, você nem me avisou que vinha... entre por favor!

Dona Aurora, estava carregando consigo várias sacolas pesadas, mas, sabendo da condição de sua filha fez o máximo para não transparecer o cansaço. Ela apoia suas mãos com força na parede ao lado da porta e entra com um singelo sorriso ao rosto.

─ Meu bem, fui ao mercado comprar algumas coisas... ─ ela a encara com um ar de preocupação. ─ aliás, você se alimentou hoje Amélia? Você está de quase 9 meses!

Amélia respira profundamente e se aproxima de sua mãe, a ajudando a guardar as coisas.

─ Mãe não se preocupe eu estou bem. Você nem deveria ter gastado tanto dinheiro assim comigo.

─ Shiu! Caladinha, você é minha filha e eu sei como agir. Sei que está preocupada com seu parto...

─ Mãe, por favor não quero falar nisso.

─ Querida temos que conversar sobre isso sim! Já disse para você não se preocupar esse bebê irá nascer bem e saudável eu tenho certeza disso.

─ Como você pode ter certeza mãe se nem eu tenho?

O medo consumia Amélia. Afinal, ela era uma mulher grávida, mas ela estava em uma condição que traz mais inseguranças que para outras mulheres: ela era paraplégica. Isso a fazia questionar se o parto traria ou não problemas a criança, ou até a ela mesma. Ela queria muito o seu bebê mesmo com todos a sua volta dizendo que ela não teria nenhum tipo de condição de ter um filho, ou de criar um.

─ Eu só sei meu amor.

Dona Aurora está a preparar um belo pão enquanto sua filha arruma as poucas roupas de enxoval que ela tinha. Até que Amélia solta um grito.

─ Amélia, o que houve filha? ─ Dona Aurora diz já largando a massa e indo apressadamente para perto de sua filha.

É aí que ela vê o vestido de Amélia manchado de sangue. A bolsa havia estourado, precocemente. O desespero toma conta das duas. Amélia sente as terríveis contrações tomarem conta de seu corpo. Era como se algo a rasgasse por dentro, a dor era enorme.

Dona Aurora, saí desesperada pela rua gritando ajuda, procurando socorro. Até que um vizinho a escuta e junto de sua esposa as levam ao hospital.

[...]

As dores são insuportáveis e Amélia sente como se estivesse sozinha, tudo gira a sua volta. As vozes ficam distantes e falhas. A única coisa que se passa em sua mente é: meu bebê está chegando! Os médicos a carregam para a sala de parto, naquele momento eles estavam em dúvida entre a cesariana e o parto normal já que a paciente (na visão deles) talvez não aguentasse a dor.

Dona Aurora tenta se acalmar e tranquilizar sua filha, mas, seu coração está saltando para fora de ansiedade, apreensão e curiosidade. Mas, não medo! Ela não tinha medo. Aurora fecha seus olhos e faz uma breve oração mental para Deus. Ela sentia e sabia que Ele protegeria aquelas duas vidas em cima da mesa de cirurgia.

Amélia sente tudo a sua volta de forma mais intensa; por um momento ela pensa que não vai aguentar, que a dor é insuportável demais para ela suportar. Mas, as forças chegam; ela não faz ideia da onde vem essa força, mas ela vem. O médico opta por continuar com o parto normal e grita para ela empurrar com todas as suas forças. Suas mãos soam e parecem que vão escorregar das mãos de sua mãe, mas por incrível que pareça elas não caem. A dor é insustentável, Amélia sente que está perdendo a consciência...

─ Falta pouco mamãe, só mais um pouco, só mais um pouco mamãe... ─ o médico grita para que a Amélia continue a fazer força, e ela procura em seu interior essa força e a encontra, a última força. Ela pressiona e nesse momento vê aquele pequeno embrulho chorando assustado com o mundo.

─ Sua bebê nasceu, mamãe.

Do rosto de Amélia sai um singelo sorriso.

─ Qual será o nome? ─ pergunta a enfermeira ao seu lado.

Amélia encara aquela pequena bolinha e sente uma explosão de sentimentos sair de si. De seus olhos saem algumas lágrimas de agradecimento e mesmo fraca ela diz:

─ Minha linda menina, minha Camélia... ─ é o que ela diz antes de desmaiar. 

Doce CaméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora