Capítulo 3

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"Provado fui com fogo

Mas onde está o ouro? 

Sei, somente uma fé que se abalou inabalável é..."

Os Arrais (Outono)

Amélia havia se atrasado.

Na confusão de sua mente ela nem percebeu que as horas haviam passado e que ela já devia estar no caminho para buscar sua pequena.

"Ai... aonde estou com a minha cabeça?", ela se questiona enquanto troca de blusa para buscar Camélia.

Amélia, pega sua bolsa rapidamente e a carteira também. Ela havia ganhado dinheiro com a venda de bolos e pães, então, no caminho pensou em ir em uma padaria com Camélia e comprar os sonhos que ela tanto ama.

"Como essa menina ama doce...", ela pensa enquanto cruza a rua. Amélia solta um sorriso leve, por se lembrar de Camélia toda lambuzada de chocolate. Como ela ama ser mãe, como ela ama sua filha... seu tesouro.

Mas, esse momento doce é interrompido por uma cena dolorida, que deixa evidente que até as mães por mais 'super poderosas' que possam ser, às vezes, não conseguem usar seus poderes como querem.

Amélia vê sua menina sendo atropelada. Ela grita, e corre com a maior pressa possível mesmo com a cadeira de rodas batendo nos buracos do asfalto mal feito. Ela grita, mas sua menina já estava no chão, desorientada e sangrando. Que dor horrível é a que essa mãe sente, um desespero latente.

Ela se vê sozinha, novamente.

— Caméliaaa! Meu benzinho, a mamãe tá aqui tá bom?!

Camélia está desorientada, tudo gira a sua volta..., mas ela tenta não dormir, mesmo com seu corpinho a todo momento dizendo para ela descansar. Ela sentia que não devia, mas ela queria... queria tanto no sono cair.

As pessoas a volta fazem ligações pedindo uma ambulância. Amélia, nada enxerga a não ser o desespero de ver sua filha estirada no chão. Sangrando. O que ela poderia fazer? Ela queria pegá-la dali levá-la para casa, mas não podia.

A ambulância chega, Amélia quer ir com eles, aliás ela deve ir com eles..., mas a ambulância não é adaptada para cadeirantes. O desespero toma conta de Amélia. Como ela iria para o hospital?

Ela chora mais ainda. Então, Amélia vê um homem se aproximando junto de um policial. Esse homem estava com o rosto arranhado e assustado, ele se aproxima timidamente. Até o momento Amélia não prestou atenção em quem havia feito isso com sua anjinha, até o momento.

— Foi... você?! — sua voz sai tremula e com entonações adversas. — Por que fez isso? Por que minha menina?

Amélia grita com o homem. Ela grita exacerbada, como se não restasse nada dentro dela além da dor. Nada.

O homem está chocado e com uma expressão triste. Ele tenta falar alguma coisa, mas sua voz se silencia. O policial então toma partido e tenta acalmar a mãe em sua frente.

— Senhora, por favor se acalme... a viatura é adaptada, iremos levá-la ao hospital, por favor me acompanhe.

Amélia o acompanha e percebe que o outro homem vai junto. Ela é colocada no carro da polícia e juntos se encaminham para o hospital.

[...]

Dona Aurora recebe a ligação de sua filha e perde o chão. Seus olhos ficam inundados de lágrimas e imediatamente ela se encaminha para o hospital. Mas, antes de tudo ela ora. Mesmo com o coração dilacerado e com questionamentos do 'por quê' sua netinha havia de sofrer assim, Aurora reconheceu que ela nada podia fazer, ou melhor, a única e melhor coisa que ela podia fazer era falar com Deus. Então mesmo com o coração ardendo em meio ao desespero, Aurora conversa com seu Pai. Atitude que automaticamente a acalmou.

Ela chega ao hospital, com as mãos trêmulas. Seus olhos procuravam por sua filha e neta em cada cantinho daquele lugar. O local era público e bem grande. Havia diversas pessoas desesperadas, com dor, sangrando..., médicos correndo, enfermeiras e auxiliares agitados. Como ela acharia seus familiares?

Aurora se aproxima da recepção e mesmo agoniada ela fala:

— Moça, por favor quero saber onde minha neta está... ela foi atropelada.

A mulher de branco e cabelos bagunçados a encara e pergunta de forma direta:

— Qual o nome completo da paciente?

— Camélia Oliveira Souza

A mulher estrala os dedos e digita o nome da menina no sistema, a fim de localizar o quarto. Depois de alguns minutos que mais pareceram horas para Aurora, a mulher sem levantar o olhar diz de maneira calma:

— Camélia está na ala cirúrgica. A senhora pode esperar em frente, é indo pela esquerda.

Aurora só consegue balançar a cabeça. O coração dispara a partir do momento que ela ouviu a palavra 'cirurgia'. Não era a primeira vez que ela teve que passar por isso..., mas, mesmo tentando não questionar, seu coração humano ainda sim se perguntava:

"Meu Deus, por quê esse ciclo novamente?"

Ela anda meio tonta pelos corredores que mais se parecem uma imensidão sem fim. Suas mãos estão trêmulas, seu rosto soa de forma abrupta, seu cérebro insiste em enganá-la fazendo com que seus olhos se confundam com algum desconhecido. Até que ouve um grito:

— Mãeee!

Ela reconheceu a voz no mesmo instante. Como havia ela não reconhecer, se o choro partira da boca de sua Amélia, de sua filha?!

Ela corre em direção a filha que estava parada num canto. Seus olhos percebem a aflição da jovem mãe, o medo, a confusão em seu olhar, a raiva...

Tudo envolto em uma só pessoa, em um só ser.

A mulher se agacha e dá um abraço caloroso em sua filha. Daqueles abraços que encontram a alma, aqueles abraços únicos... um afago apertado que esquenta até os corações mais frios.


* Olá amados, como estão? 

Queria saber o que estão achando da obra e o que esperam para o futuro dela... sem mais é isso! 

Beijinhos 

Doce CaméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora