Ela corre por pastos verdejantes. Ela só sente uma necessidade enorme de correr, como se não tivesse controle de seus próprios pés. Até que eles param em frente a um conjunto de cores que da qual nunca havia visto antes; havia tantas cores que se ela não tivesse ali, certamente aquilo a enlouqueceria. Aquele conjunto colorido dança, como se tivesse vida... será que ele tinha? A menina se emerge dentro das cores, sem medo. Mas, quando ela estava adentrando por completo naquele ambiente ela ouve claramente:
— É hora de retornar, minha menina.
— Mas aqui é tão lindo, ainda nem brinquei...
— Não temas, estarei lá contigo também.
Dito isso os pés da menina correm sozinhos para a direção contrária e em uma fração de segundos seus olhos se abrem.
[...]
Camélia abre os olhos levemente. Sua vista ainda está embaçada, mas ela consegue perceber as lágrimas de sua mãe que ainda não tinha percebido que ela havia acordado. A menina escorrega as mãos para perto das de sua mãe e as tocas com leveza. A mulher abre um sorriso radiante e aperta as mãos da criança com força.
— Meu amorzinho, você acordou querida!
A garota está com a boca seca e a única coisa que ela consegue pedir é água, já que ela havia perdido muito líquido e os médicos não a deixaram tomar água, só molharam seus lábios com um algodão. As enfermeiras fazem uma checagem rápida em Camélia e avisam a mãe que logo o médico viria conversar com elas.
Dona Aurora entra radiante e com uma bexiga rosa em mãos. Ela tenta disfarçar o jeito ansioso na frente da neta.
— Olha quem finalmente acordou?! Nosso bebezinho!
— Mamãe, vovó, quando vou poder ir para casa? — Pergunta Camélia ainda com a voz afetada pelos remédios.
— Logo minha flor, só teremos que conversar direito com o doutor para ele liberar você, tá bom?
A menina só balança a cabecinha. Ela não conseguia parar de pensar naquele conjunto de cores que ela havia visto no seu sonho e naquela voz tranquila e ao mesmo tempo forte como o vento, parecia de alguém que ela conhecia a muito tempo. A voz a acalentava a todo momento..., era um sentimento tão bom que ela só queria ficar ali, com aquela voz.
"Será que a ouvirei novamente?", se questiona a menina ao encarar a janela do quarto de hospital.
O médico adentra o quarto com sua prancheta.
— Olha quem acordou! Camélia, Camélia... belo nome em menina, nome de flor. — ele se vira para a Amélia e pergunta. — É uma flor ela mãe?
— A mais bela das flores!
Todos riem e após a menina cair no sono novamente o médico começa a conversar com as duas mulheres:
— Eu realmente não sei o que aconteceu senhoras...— ele começa dizendo. —, mas, temos um milagre aqui! A menina chegou muito debilitada pelo choque que havia levado na colisão com o carro. Em outros casos, sendo extremamente sincero com vocês, dificilmente ela sobreviveria, ou então, ficaria em coma após a cirurgia. Mas, essa menina passou ilesa por isso... tá certo de que terá que fazer uma fisioterapia para recuperar o movimento total de suas pernas, já que ela machucou o fêmur e quebrou a perna direita, porém isso é de menos! A menina está lúcida e sem sequelas maiores, um verdadeiro milagre.
Um enfermeiro adentra o quarto e chama o médico para fora. Ele se despedi de Amélia e Aurora dizendo que em breve voltaria a conversar com elas.
As três ficam sozinhas dentro daquele quarto. O coração de Amélia está agradecido, mas, ela não sabe ainda bem para quem deveria agradecer. Será que seria para Deus ou aos médicos? Será que ambos?
"Então ele existe?", ela se questiona mentalmente ainda perplexa com a afirmação do doutor, ou melhor mais que perplexa, agradecida. Gratidão é a palavra base para se entender tudo. O que seria de nós sem a gratidão? Afinal, não somos nada. Somos tão frágeis e voláteis, tanto que até a ciência concorda com o Cristianismo nesse ponto. Carl Sagan, mesmo sendo um homem ateu convicto disse uma certa vez: "Somos poeiras das estrelas."
Confirmando o que a bíblia já nos dizia que somos pó!
Ou seja, nada somos. E por esse motivo devemos ser gratos, porque tudo se regenera e pode perder até seu sentindo aqui no mundo. Era basicamente isso que lá no fundo Amélia sabia, só não queria acreditar. Que seu mundo não era uma pessoa, seja ela mais doce, importante, feliz, boa e sábia que fosse, ou até de ligação sanguínea que tivesse. Seu mundo não poderia ser uma pessoa, porque o ser humano é facilmente transformado em poeira, doa o quanto tiver que doer.
Então, se sua filha por obséquio do "destino" não tivesse sobrevivido naquele acidente, o que seria do seu mundo? Ela morreria junto?
Não. Pois o mundo dela, mesmo não aceitando, não era sua filha e tão pouco ela mesma que é pó.
Quem era o mundo dela afinal, caro leitor? Se ela assim como eu e você aí do outro lado, somos poeiras e um dia voltaremos a sê-lo, o que faz dessa nossa breve passagem aqui um mundo? Quem é esse mundo? Será que o conhecemos o suficiente?
Pergunto novamente a ti: Quem é seu mundo?
*Olá amados, como vão?
Mais um capítulo lindinho de Doce Camélia para vocês! Espero que estejam gostando ❤🧡
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Doce Camélia
Romance"O medo consumia Amélia. Afinal, ela era uma mulher grávida, mas ela estava em uma condição que traz mais inseguranças que para outras mulheres: ela era paraplégica." Amélia sempre questionou suas capacidades como pessoa, sua autoestima sempre fora...