III

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- A senhorita está bem? - ouço o dizer me tirando do transe, ele também não tira os olhos dos meus e pisco umas três vezes pra me despertar, não sei o que esse homem causa em mim, é  apenas uma impressão estranha

- Não me mate por favor- eu suplico ainda chorando, o homem me olha com total desdém como se divertisse com aquela situação

- Hoje é seu dia de sorte, infelizmente ou felizmente fui treinado para matar vermes e não mulheres indefesas -

Eu o encaro e arqueio a sobrancelha, ele desce do cavalo e me dá a mão para levantar do chão, eu suspiro e aceito sua ajuda, ainda desconfiada, sempre ouvi histórias de como os soldados do Reino de Newcastle são  violentos e sanguinários, um soldado gentil está totalmente fora do comum.

- infelizmente não pude ajudar sobre o seu vestido, senhorita- ele diz sem tirar seu sorriso de puro desdém do rosto ele está tirando sarro de mim? Eu reviro os olhos e tiro minha mão da sua bruscamente , não sei onde tiro coragem para agir com tamanha grosseria com o inimigo que poupou minha vida, mas sei do meu gênio forte com homens que tiram sarro de mim.

- pois obrigada pela gentileza de não me matar, tenha um bom dia

Digo andando

- Eu posso não te matar, mas alguns colegas não vão ter tamanha compaixão

Ele diz e eu paro no caminho me virando pra ele com os olhos arregalados e ele sorri pra mim de novo, que patife, está me desafiando.

- Vamos, vou te ajudar a encontrar um lugar seguro

Eu suspiro e vou com ele, permanecemos calados durante o caminho todo e eu sinto o olhar dele me avaliando e aquilo me deixa completamente enrrubecida, nem Luis me olha assim .

- o senhor é muito mal educado por olhar uma moça assim - eu digo o encarando também

Observava que ele anda nas ruas com tamanha tranquilidade, não tem medo de algum soldado nosso aparecece, sem contar que ele exala confiança.

- estou apenas curioso, senhorita.

Ele ri e eu observo seu sorriso perfeito, seu cabelo preto entra em um contraste com seus olhos azuis como céu anil, ele é como um príncipe e por um momento eu pensei... fada madrinha? Não, por favor Aurora, não seja tola, isso não é uma conto de fadas.

- Ali é onde todos se esconderam

Ele aponta para um vilarejo

- como o senhor....

Ele me interrompe

- Todos se escondem ali quando tem invasões, mas creio que a senhorita não seja da capital

Eu apenas concordo e ele sobe em seu cavalo

- se cuida menina - diz me olhando de cima abaixo me dando novamente um sorriso cheio de desdém, eu odeio quando fazem me sentir tola.

- ah.. bonito colar- e assim ele vai sem que eu possa dar uma resposta altura a tamanho atrevimento por ele ser tão... intrometido
Corro até o vilarejo e bato na primeira porta que eu encontro, apesar de tudo aquele atrevido tinha razão, eu estava em perigo

- por favor abram, estou perdida- e a porta se abre e um homem com olhos amendotrados me deixa entrar, eu agradeço, por sorte encontro Anne que também estava ali escondida

- Aurora- ela diz e me abraça, ela tremia, estava com tanto medo quanto eu, nunca havíamos presenciado guerras.

- Calma, senhorita estamos bem-

Eu digo e ela me encara

- Onde esteve? Se perdeu? Está bem?- ela diz passando a mão pelos meus ombros como se quisesse me confortar, eu tentava lhe passar tranquilidade com o olhar mesmo me sentindo um tanto surpresa por ela realmente se importar, afeto vindo da família dela eu não esperava

- Eu estou bem, um soldado me ajudou- eu disse por fim, claro que não diria que foi um soldado inimigo, eles me acusariam de traição e não tem nada pior que ir para a forca por traição.

- o que está havendo? Por que essa guerra? - Anne diz e um dos homens a encara

- Newcastle quer tomar o reino- ele passa as mãos pelo cabelo

- O rei está com dívidas e eles vieram cobrar-

Outro homem diz e eu suspiro sem tirar os pensamentos daquele soldado atrevido da cabeça, eu nunca fiquei assim por causa de ninguém e não sabia o que estava sentindo , por que aquele homem e aquele olhar mexeu tanto comigo?

Passou horas até que finalmente pudéssemos ir embora, Anne ainda estava assustada e eu também, assim que saímos daquela casa fomos direto para a carruagem e voltamos o mais rápido possível para casa, a madame ia me matar por eu voltar sem as frutas, mas não sobrou nada da feira, nem uma mísera maçã .

Ao chegar em casa Anne correu direto para os braços da mãe e chorava copiosamente tentando explicar tudo o que houve, sem sucesso já que seus soluços impediam sua voz de dizer algo coerente.

- o que houve, Aurora?- a mãe dela que abraçava a filha e tentava acalma-la me olha com curiosidade

- Uma invasão, madame, Newcastle invadiu o reino e não sobrou nada, infelizmente nem as frutas -

Eu explico e ela rola os olhos como se o que eu tivesse dito fosse de tamanha tolice

- Tudo bem, vá para a cozinha qualquer coisa eu lhe chamo-

Eu assinto e vou até a cozinha e explico o que houve para Ana, ela me olha com curiosidade e preocupação

- Eu não sei Ana, eu não sei o que eu senti, foi algo surreal, foi como se tudo tivesse ficado colorido e tivesse ganhado forma quando aquele homem me olhou daquele jeito-

Eu dizia e suspirava, Ana era como uma mãe e eu confiava nela para lhe contar tudo.

- Aurora, ele é o inimigo, não ouse falar dele dessa forma.. parece que se apaixonou

Eu olho pra ela e rolo os olhos

- claro que não Ana, mas apenas foi algo diferente, nunca havia sentido isso.. você já sentiu isso?

Ela para de mexer a panela e olha pra mim

- Sim, quando eu conheci o pai de Luis, ouça bem minha filha, não volte a pensar nisso, você sabe como o povo dessa casa é, imagina se eles se quer desconfiam desse encontro? Você seria morta em praça pública

Sinto um tremor na minha espinha e me arrepio mais ainda quando escuto uma voz grave atrás de mim

- Quem seria morta em praça pública , Ana?

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