IV

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Congelo aonde estou e mal consigo respirar, sinto que ele está bem atrás de onde estou sentada e todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando eu sinto ele tão próximo, eu odiava quando ele estava tão próximo .

- ham.. ninguém senhor, eu estava falando com Aurora sobre a invasão de hoje

Ana diz enxugando as mãos várias vezes em seu avental, ela fazia isso quando estava nervosa. Ana tinha mais medo de Cristóvão do que eu e sinceramente algo me diz que não era só pelo fato de Cristóvão ser um homem deplorável, eles escondiam um segredo, um segredo que sempre deixava Ana nervosa quando ele estava em sua presença

- Invasão? - ele atravessa a mesa para poder me encarar e eu mantenho minha cabeça baixa - Há séculos não invadem o reino, você estava lá Aurora?

Eu apenas assinto e ele puxa meu queixo para eu encara-lo, aquele simples toque dele na minha pele me fez estremecer

- Ana me deixe a sós, quero ter uma conversa particular com a aniversariante de hoje- ele diz em tom sarcástico a palavra "aniversariante" E eu praguejei mentalmente, Ana sai me deixando ali com ele, ficar sozinha com aquele homem me fazia sentir calafrios e uma sensação horrível e desesperadora

- Não gostei nada das suas aventuras com aquele rapaz hoje de manhã-

Enquanto ele falava eu já me levantava pensando em alguma desculpa para fugir dele e dessa conversa, eu estava com um pressentimento ruim

- Me..me.. me desculpe senhor, não vai mais acontecer

Eu digo andando para trás e a cada passo que eu dou ele avançava dois

- você tem medo de mim pequena, Aurora?

Eu nego com a cabeça e sinto a mesa grande da cozinha atrás de mim e quando eu vejo ele já está com o corpo colado ao meu e nesse momento senti meu ar faltar, eu encarava seus olhos e naquele olhos havia algo que me deixava apavorada, eu não sabia explicar.

- Não tenha medo de mim, Aurora

Ele diz passado as pontas dos dedos sob meu rosto

- Só quero que saiba, que qualquer coisa que tenha com aquele mulecote não irá para frente, você é minha e não é por que atingiu a maior idade que deixará de ser

Ele diz em sussurro com os lábios colados ao meu ouvido e uma lágrima solitária cai, eu não entendia sua obsessão e muito menos suas intenções, mas eu queria fugir e não deixá-lo tão perto e muito menos tocar em mim

- Você não sabe como..

Ele dizia quando é interrompido pela voz fina de sua filha mais velha , pra mim soou como um anjo

-O que está acontecendo aqui?

Ele se afasta de mim bruscamente e eu agradeço a Deus mentalmente

- Nada. Onde está sua mãe?

Ele pega uma maçã e passa por ela

- Na sala de livros
Ela responde antes de seu pai sair da cozinha e eu continuo aonde estou olhando aos meus pés

- Escute aqui sua sonsa, não ouse se deitar com meu pai

Ela diz vindo até mim e segurando em meu rosto bruscamente para que eu pudesse encara-la, era praticamente cópia de seu pai, seus olhos castanhos escuros e seus cabelos loiros muito bem presos lhe davam um ar de superioridade, totalmente diferente de Anne que parecia um anjo, mas idêntica ao pai que era o diabo em pessoa.

- Mas... - tento me explicar e ela me dá um tapa, estalado e doloroso ponho a mão no lugar e a encaro

- Eu sei muito bem que se faz de sonsa, Aurora, mas eu não sou tola, se eu a pegar de novo de gracinhas com meu pai... Não sabe do que sou capaz

Ela diz entre dentes e sai do meu campo de visão, eu ainda estava ali sem acreditar, nunca havia apanhado antes.. bom sempre lutei para que isso nunca acontecece.

Saio dali as pressas e corro, corro para as margens do rio onde eu podia me sentar e me olhar no reflexo da água, a marca do tapa estava lá avermelhado, eu não conseguia entender o que o destino havia reservado a mim, o por quê de eu estar aqui, o por quê dos meus pais terem me deixado e eu ter vindo parar justamente aqui, me sujeitar a tamanha humilhação... se eu apenas tivesse a coragem de fugir, se eu tivesse a coragem de ir embora.

As lágrimas caiam do meu olho e eu choro copiosamente deitada na grama as margens do rio, penso nos meus pais, penso em como tudo seria diferente..sei que eles estão mortos pois se estivessem vivos teriam procurado por mim, eles me amavam e eu sentia e sabia disso. Em meio a tantos pensamentos passados eu acabo pegando no sono ali mesmo.

Acordo com a visão meio embaçada e percebo que já estava em minha cama, olho para cima e vejo belos olhos pretos me encarando

- olá, borboletinha..

Eu sorrio com Luis me olhando como se eu fosse um bebê

- vim buscar mamãe e vi você caída na grama, sono bom em..

Ele passa a mão nos meus cabelos e e sorrio

- O que está fazendo aqui? Se te pegarem no meu quarto eu não quero nem pensar o que podem fazer com você.. e comigo

Ele sorri negando a cabeça e se ajoelha do meu lado na cama

- Mamãe está na porta, eu tinha que te deixar na cama, você sabe... nenhum dos patrões vem ao quarto dos empregados essa hora.

Ele diz e eu assinto e encaro meus dedos lembrando das palavras de Cristóvão mais cedo, eu não queria nem pensar se ele soubesse que Luis sabe onde é meu quarto e que está nele

- Mas me diz, o que houve para você dormir tranquilamente no rio? Tava querendo virar plantinha é-

Ele cutuca minha bochecha e eu dou um tapa no seu ombro

- o dia foi apenas cansativo.. teve a invasão hoje e eu quase fui morta por um soldado deles..

Deixo escapar e me repreendo mentalmente, podia confiar em Luis, mas não queria que ninguém soubesse que um soldado inimigo me ajudou, eu não sabia suas verdadeiras intenções, outras pessoas também não iam entender.

- Que? Como foi isso? Você está bem?

Ele passa a mão no meu rosto e eu rolo os olhos

- Claro que eu estou bem, foi só um susto.. hm.. - mudo de assunto rapidamente- Não pude agradecer direito a você o presente - pego o colar com a borboleta que ele me deu- é a coisa mais valiosa que eu tenho

- Não a de quê.. você sabe que eu faria tudo por você

Ele passa os dedos na minha bochecha e eu encaro seus olhos, eu sabia que ele me olhava com devoção, ele me queria. Seus lábios estavam se aproximando dos meus e eu fecho os olhos e no mesmo instante um par de olhos azuis me vem à mente como um relâmpago e eu abaixo a cabeça o afastando

- Não Lui, não podemos..

Ele suspira e se levanta

- Aurora, eu só queria uma chance de te fazer feliz, eu sei que você é quebrada e tem vários mistérios por trás desse olhar enigmático, mas eu só queria poder te consertar .

Eu passo a mão nos cabelos e o encaro

- Não sou pra você- digo e vejo os olhos dele marejar, aquilo doi meu coração, eu amava Luis e a última coisa que eu queria era magoa-lo

- Tudo bem, nos vemos amanhã-

Ele diz passando as costas das mãos nos olhos

- Lui.. espe... - antes mesmo de eu completar ele já havia saido pela porta me deixando sozinha com meus pensamentos, por quê ainda pensava naquele homem? Por quê ele ainda mexia com a minha cabeça?

Tinha sido um grande aniversário, mas algo dentro de mim mudou desde que eu acordei essa manhã, hoje não seria apenas mais um aniversário e mais um ano comum, algo estava pra mudar e eu não sabia se ia ser para bom ou ruim.

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