Prólogo

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31 de março de 1889, Paris

Em uma mesa na área externa de um restaurante parisiense, a jovem de cabelos negros e vestido azul índigo observava a movimentação, naquele dia aconteceria enfim a inauguração do que muitos esperavam; uma torre de ferro com 300 metros de altura em pleno coração de Paris para homenagear os 100 anos de Revolução Francesa.

Ao degustar seu vinho, a morena correu os olhos pelo restaurante até cruzá-los com um par de íris azul-esverdeadas, paralisou. Não sabia explicar aquele sentimento, sentia-se atraída e confusa, talvez culpada, mas não poderia evitar. Lábios rosados curvaram-se em um sorriso de lado ao notá-la observando. Rapidamente desviou o olhar, terminou sua taça e seguiu para o interior do restaurante, ao pagar sua conta e alcançar a porta encontrou do lado de fora os mesmos olhos azuis. Estava encostada na parede com uma postura casual.

– Inglesa, não?

– Sim, milady. A senhorita também, eu suponho.

– Sotaques não mentem – ali estava novamente o mesmo sorriso lateral, fazendo com que Elisa desviasse o olhar para observá-lo.

A jovem trajava um belo vestido de cor verde menta que contrastavam com seus cabelos dourados e olhos claros. Sua pele era levemente rosada, diferente de Elisa que possuía uma aparência mais pálida.

– É um tanto incomum encontrar mulheres sozinhas em restaurantes, principalmente à esta hora, já está quase anoitecendo, milady – disse a loira quebrando o silêncio que se estabelecera.

– Não me parece tão incomum, a senhorita também está aqui, afinal – retrucou com uma pitada de sarcasmo implícita entre as palavras e depois disfarçou: – Gostaria de conhecer a Torre e decidi me alimentar antes.

– Aproveitou a bebida? Os vinhos daqui são maravilhosos.

– De modo algum poderia discordar da senhorita – admitiu.

– Também desejo conhecer o monumento, se não se importar, poderia acompanhá-la? - as sobrancelhas bem desenhadas da moça arquearam-se sugestivamente e o sorriso tão convidativo se fez presente de modo que Elisa jamais seria capaz de recusar.

Apenas acenou positivamente e caminharam juntas até o local. Conversaram brevemente sobre assuntos aleatórios, tudo fluía de forma natural.

– Até onde pretende subir?

– Que tal apenas descobrirmos até onde aguentamos? – respondeu Elisa com uma risada que fez a loira prender a respiração.

Pagaram suas entradas e começaram a subir as escadas que pareciam sem fim, quando chegaram ao segundo andar resolveram ficar por ali mesmo. Ofegantes, as duas procuraram um local para se recostarem.

– Essa vista... é magnífica! – disse a morena quase sem palavras.

– Certamente! Pode-se ver quase toda a cidade!

Ficaram em silêncio por uns instantes, apenas admirando a paisagem. O fim de tarde estava tranquilo e, apesar da movimentação, a maioria das pessoas não quiseram subir devido à altura. Estavam no início do verão, mas a brisa deixava o clima quente mais agradável.

Elisa então desviou seu olhar para observar a loira que sorria de olhos fechados, seus fios dourados voavam fazendo tudo parecer demasiadamente leve. Os tons alaranjados se misturavam perfeitamente com o azul do céu, dando um aspecto de perfeita harmonia refletindo em sua pele que aparentava ser tão macia.

Ela era linda. Mais que isso, perfeita. Os olhos castanhos de Elisa seguiram o caminho do rosto tão perfeito ao pescoço tão delicado, estava próxima o suficiente para sentir seu perfume levemente cítrico misturado à um aroma levemente floral, ao ser inspirado logo percebia-se o toque de canela tão sutil e ao mesmo tempo tão proporcional unindo-se de maneira que trazia a sensação de frescor e calor de uma só vez.

Um suspiro se escapa dos lábios da morena, chamando a atenção da outra e fazendo com que Elisa quisesse correr para muito longe dali, mas ao invés disso ficara presa nos belos olhos que agora a encaravam.

– É realmente uma vista magnífica e o horário parece contribuir, veja que pôr do sol esplêndido! – comentou a loira e esboçou um sorriso para tranquilizá-la ao perceber o nítido constrangimento de Elisa.

Permaneceram ali por mais um tempo até a escuridão da noite se fazer presente e então decidiram ir embora antes que ficasse muito tarde. A jovem de olhos azuis se oferecera para acompanhá-la até sua hospedagem e a morena acabou aceitando depois de muita insistência.

- Chegamos. Agradeço por ter me acompanhado!

– Como eu poderia deixar uma mulher como você retornar sozinha este horário, milady? – disse e logo após observou a rua deserta.

– Como eu? – Elisa questiona confusa.

– Tão... bela.

As duas estavam tão perto que podiam sentir a respiração descompassada uma da outra. Batimentos cardíacos se aceleraram. Ali havia o medo e a culpa, mas o desejo era mais forte. Ambas se atraíam como dois ímãs, era inevitável.

Quando seus lábios se tocaram foi como se uma explosão interna tivesse ocorrido, poderiam nunca mais separar-se. Arrepios percorreram o corpo de Elisa quando a loira tocou sua nuca entrelaçando os dedos em seus cabelos tão negros quanto a noite e a morena levava as mãos em sua cintura. A combinação das duas era perfeita, o encaixe, o ritmo. Ao cessar do beijo, a moça de olhos azuis afastou-se.

– Ficará em Paris até quando?

– Provavelmente partirei pela manhã.

– É uma pena – lamentou a loira e virou-se para seguir seu caminho.

– Espera... não me disse seu nome – lembrou Elisa antes que a moça pudesse estar não mais que alguns passos de distância, novamente voltando a ser alvo de íris azuis que agora estavam escurecidas carregadas pelo desejo.

– Alessia.

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