Dois Corações

Capítulo 10

3 de Dezembro de 1895, Londres

Elisa despertou com a luz do sol em sua face. Sem entender nada, olhou a tia abrindo as cortinas.

— Faremos uma festa hoje à noite! Seu tio possui ótimas novidades. Ainda não sei o que é. Disse ele que será uma surpresa para todos!

— Hoje também é aniversário dele, não?

— Exatamente. Vamos aproveitar a oportunidade para comemorar duas coisas! — respondeu a mulher, colocando um vestido que antes estava apoiado em seus ombros sobre a cama da garota. — Precisa estar impecável, Elisa, importantes nomes da sociedade londrina estarão aqui hoje.

Ahh, como odiava essas cobranças. Precisava sempre estar perfeita, impecável, só para agradar à alta corte. Diversos homens e mulheres que sequer a conheciam. Por que era tão importante a opinião deles sobre ela?!

Apesar de detestar isso, a morena cedeu a todas as vontades da tia. Ajudou a organizar e a preparar o evento. Mal conseguiu parar para relaxar um pouco, as criadas andavam de um lado ao outro da casa, arrumando tudo e certificando-se de que tudo estava certo para causar boas impressões.

A noite chegou, e com ela, dezenas de convidados também. Elisa ainda estava terminando de se arrumar, dando os últimos retoques em seus cabelos.

Enquanto descia os primeiros degraus da longa escada que levava ao hall, avistou a loira que adentrava pela porta da frente. Lembrou-se do ocorrido, não havia a visto desde então, e preocupou-se ao reparar que Alessia estava mais magra. Mas ainda estava primorosa, como sempre.

Liam se dirigiu a ela assim que seus pés tocaram o chão da sala. Em suas mãos havia uma rosa branca, que Elisa teve a certeza de não ter sido escolhida por Alessia.

— São para ti, milady. — disse entregando-as para a jovem, e em seguida beijando sua destra — É um prazer revê-la!

— Agradeço, milord. É muito bom vê-lo também! — respondeu cordial e depois cumprimentou o resto da família Campbell.

Assim que eles se afastaram, a garota se aproximou da loira.

— Como você está?

— Estou bem. — respondeu Alessia com um sorriso fraco.

— Sabe que pode conversar comigo se precisar. — disse sincera.

— Eu sei. Obrigada.

As duas ficaram juntas por um tempo, não falaram muito, apenas sentiram a companhia uma da outra, sem demonstrar muito aos que estavam ao redor.

Apesar da loira estar mais reservada, hora ou outra trocavam alguns olhares, a presença de Elisa trazia mais conforto, e o simples roçar de dedos se tornava seu melhor refúgio.

— Senhoras e senhores, é com imenso prazer que os recebo aqui em minha residência! — a voz de Frederic ressoou pelo salão. — Minha aspiração na arte, sempre foi retomar as propostas artísticas dos antigos gregos, o estilo clássico, em que cada item de minhas composições, sejam pensados e perfeitos, nos mínimos detalhes, belos em sua essência. Para mim, trazer beleza ao mundo é uma missão. Mas não se enganem, é somente pela vitória sobre a apatia que se pode chegar a coisas melhores; é somente pela erradicação e extermínio do que nos torna feios, que se pode criar condições nas quais a beleza seja uma força entre nós. A demonstração da pureza, e do amor divino. Tudo aquilo que nos torna humanamente belos. — Elisa aproveitou que a atenção de todos estava sobre o tio e entrelaçou os dedos aos de Alessia, foi quando pôde tatear algo que parecia um ferimento, e olhou confusa para a loira, que atentamente ouvia as palavras de Sir Leighton: — Quando decidi que seria um artista, meus pais me cercaram de todas as facilidades para que aprendesse a desenhar, eles tinham apenas uma condição: que eu me tornasse um artista eminente. Aproveito hoje este momento para comunicá-los que, é devido à minha arte, e todos os que estiveram ao meu lado, me apoiando durante todos esses anos, minhas irmãs Louise e Sarah, que hoje já não pode estar aqui conosco, assim como meu fiel amigo Anthony Bennet, quem me recordo todos os dias, falecido a apenas alguns meses. Creio que muitos de vocês o conheciam. E, realmente, foi uma grande perda para a Academia Real de Artes. — fez uma pausa — Minha sobrinha Elisa, que desde pequena me fazia ver o lado mais belo da vida. Agradeço a todos vocês por acreditarem em mim. É por isso, que com imensa felicidade e gratidão, convido todos à minha condecoração oficial, pela Rainha Victória, como 1º Barão de Stretton. Conto com a presença de todos, para uma grande festa em minha casa de campo em Kensington, e no dia seguinte, em minha nomeação na Paróquia de St. Mary Abbots. Enviarei um convite formal a cada um. Espero que se divirtam hoje!