[Landon].
Os cigarros tornaram-se uma merda quando percebi que nunca me matariam, depois viraram um charmoso passa-tempo. Não importava o quanto eu afogaria meus pulmões com a fumaça esbranquiçada, ela não me mataria. Nada me mataria. E pela primeira vez sentia-me decepcionado por estar vagando entre os vivos, a morte parecia melhor.
Eu entendi a dor humana de se perder alguém e ter que seguir em frente. Minha garota tinha se tornado um anjo — gostava de pensar nela assim, pura e inocente como quando a vi pela primeira vez —, e eu um mero tormento. Anjos e demônios não eram destinados a ficarem juntos, isso eu entendi também.
Por anos me diverti atormentando meros mortais, vendo-os desesperados com a minha companhia por mais que às vezes eu tentasse ser amigável, mas então ela se foi e eu estava sem rumo. Atormentar não tinha mais graça e nenhuma outra pessoa tinha o brilho e os traços assassinos que minha Alba tinha.
Talvez eu estivesse cansado de toda essa merda de ser um demônio. É, eu estava cansado de ter que acompanhar pessoas, vê-las se transformar em algo totalmente diferente e depois morrer.
A minha pequena ruiva não estava mais vagando comigo pela noite, com sua delicada tatuagem de corvo em homenagem a mim, graças a ela toda família estava livre e eu tinha um coração partido. A dor do coração partido era uma grande merda e eu desejava não ter um, desejava não ter me apaixonado por uma humana e ter aceitado que a minha eternidade era apenas atormentar e levar almas para a escuridão da morte.
Vagar sozinho, fui condenado a isso. Todos os outros tormentos, depois da maldição ser concluída na geração da minha Alba, estavam felizes viajando como humanos por aí e até mesmo tendo pequenos demoniozinhos e eu podia fazer todas essas coisas se o sofrimento de perdê-la me deixasse. Mas não deixou e isso me fez pensar como a minha garotinha inocente antes de ser corrompida pelas minhas maldades.
Mesmo boa e inocente ela tinha seus pontos sombrios, andando pela noite com seus cabelos de fogo, descobrindo coisas que deveriam ser esquecidas. Eu não podia esquecê-la, não conseguia com o meu pobre coração apaixonado, e por isso comecei a vagar como ela faria.
Ela amava água e mesmo odiando praia e toda aquela felicidade humana que emanava do lugar, segui pela areia macia com a luz da Lua me acompanhando e coloquei na cabeça que aquilo seria um momento especial entre mim e a minha garota. Não foi, porque ela não estava comigo, mas foi assim que encontrei Analie Beneditt.
Depois de sentir toda aquela maciez entre os dedos dos pés, segui para um matagal que tinha ali perto das ondas e adentrei uma trilha que me levou até um penhasco. Era exatamente o que ela gostaria. Gostava do perigo, gostava de provocá-lo como se fosse inabalável. Ah, como minha Alba gostava de me provocar.
É claro, ela não estava ali dançando na beirada como uma bailarina encantadora no meio de tanta escuridão. No lugar dela estava outra garota de cabelos enrolados e eu sentia, como a quentura das chamas, o desejo de morte emanando dela.
Analie, o nome dela foi sussurrado pela brisa do vento para mim. E aquilo foi um sinal. Quis ignorar a porcaria do sinal porque não fazia o tipo de anjo da guarda, era um demônio sofrendo pelo amor, mas o anjo estava longe de mim.
Senti tudo nela. Analie não queria mais existir, simplesmente sentia-se como uma boneca que era guiada sem ter vida própria. Para ela, no penhasco, havia a chance da liberdade que desejava e não tinha. Ela estava errada, a liberdade não estava na morte, a liberdade estava nas decisões dela.
── Analie. ── chamei a garota.
Ela não olhou pra mim, deu um passo adiante para ir de encontro com o mar. Segui o passo dela, segurei seu braço e a mantive comigo. Segura, longe do desejo da morte.
── Você não deveria ficar para assistir ── ela disse. Ainda queria se jogar.
── Eu não vim para assistir. Vim para te impedir. ── faria algo bom pela minha doce garota que transformou-se por mim.
Soltei do meu aperto, dei confiança a ela. Queria impedi-la, mas a vida não era minha e Analie poderia fazer dela o que quisesse.
Ficamos ali nos encarando por segundos e foi quando notei o quanto a minha "boa ação" era ridícula. Eu queria morrer, entendia a vontade dela, e estava impedindo-a de se matar. Completamente ridículo.
── Você não me conhece. ── ela disse se afastando de mim e indo em direção ao penhasco.
── Não faça isso. ── falei me aproximando. Por que eu queria tanto salvar aquela garota?
── Fica longe de mim!
── Analie! ── eu gritei, mas era tarde demais. Ela havia caído.
O mar não abraçou o corpo frágil da garota como ela esperava, ele a engoliu. Analie não sentiu a liberdade, a adrenalina de se jogar, a sensação de finalmente alcançar o que queria há tanto tempo. Foi como um acidente, simplesmente caiu por um descuido.
Analie não queria ter morrido assim, ela não poderia morrer assim. Como um corvo livre, pulei da terra firme para o alto e mergulhei na imensidão do mar.
Encontrei o corpo da garota flutuando no vasto azul, ela não se debatia e isso me fez pensar que estava pronta para morrer, que deveria ser sua hora. Analie estava calma porque sentia que a liberdade era aquela no fundo das águas turbulentas, mas não era, e seu fim não poderia ser assim.
Fui de encontro, ela olhou com uma paz que eu não aceitei, a morte estava perto e a garota queria ser carregada para longe de tudo. Eu não deixei, beijei Analie e afastei a morte dando-a mais uma chance de encontrar a liberdade.
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Borboletas da Liberdade.
Short StoryA alma desprende do corpo Tentando fugir de toda insanidade Corpos caem do penhasco Tão leves como plumas e penas Enquanto a alma é presa por pesadas algemas Nessa luta interminável Para sair dessa prisão A morte parece atraente A dor se torna insup...