O mundo estava sob meus pés, sob as duas rodas da minha bicicleta vermelha e eu nunca havia me sentido tão livre quanto aquele dia. Os segundos pareciam parar. Apenas eu, Landon e a chuva que encharcava nossos cabelos e deslizava para as nossas faces. O céu estava me beijando em boas-vindas para de volta a vida e a sensação não poderia ser descrita, era única.
Foi naquele momento, exatamente naquele momento, que senti que eu poderia fazer qualquer coisa. Analie ou Ana, poderia percorrer a cidade como se não tivesse rumo e os dias fossem eternos. Tudo pertencia a mim.
Além da liberdade que explodia em meu peito como fogos de artifícios que a presença de Landon trouxe para mim, ele também despertou uma parte sombria que queria ir para os lugares proibidos, aqueles que todos diziam para que nenhuma garota indefesa fosse sem a companhia de uma figura máscula — que ironicamente, em qualquer um dos sentidos que estivessem falando, eu não tinha. O lugar que meus pais me fizeram jurar que eu nunca iria. Não estava sozinha, tinha meu pacote especial do além e ele naturalmente era atraído pela escuridão, não reclamava das minhas escolhas até então e isso era a prova que o juramento deveria ser quebrado.
Escolhi ir para a floresta de Houston. Quando estávamos perto, os dedos esguios de Landon tocaram minhas costas e ele pediu para que eu parasse. Parei porque não perderia a oportunidade de brincar com um tormento.
── Está com medo? ── provoquei.
O corpo magro do tormento aproximou-se de mim e segurou meu braço, pensei que tinha feito algo muito errado ao provocá-lo. Não era eu, era a floresta e percebi isso quando os olhos negros de Landon se prenderam em todas as árvores.
── O que está acontecendo?
── Aqui tem cheiro de morte.
── E qual é o cheiro da morte? ── perguntei curiosa.
── Flores.
Soltei-me do aperto de Landon e segui a pé em direção a floresta, não sentia cheiro algum de flores ou morte. Tudo parecia normal até mesmo quando o tormento gritou para que eu não seguisse, pois, segundo ele, quem trouxe a morte para a floresta poderia estar por perto ainda.
Não dei ouvidos. Segui e entrei na mata, e segundos depois um corvo começou a voar sobre minha cabeça e eu soube que tinha tirado Landon do sério quando o pássaro preto começou a me atacar. Dei alguns tapas nele também, as garras dele me fizeram sangrar como se pequenas agulhas tivessem deslizado pela minha pele.
Suportei o ataque apenas para encontrar uma mulher com as cores vermelho e preto. O resultado de minha aventura. O cheiro de flores.
A morena era linda, traços que nunca tinha visto fora de telas, os cabelos negros e o batom vermelho dando vida a um sorriso hipnotizador. Então, diante de tanta perfeição, lembrei de Landon dizendo que a morte estava em algum lugar. E se ela fosse realmente o motivo da morte estar a espreita, como o tormento me disse?
── Analie. ── ela disse e eu me afastei esbarrando em Landon que já havia voltado a sua forma humana.
── Agora você fica com medo, depois de me desobedecer. ── ele disse com deboche ao fundo.
── Como você sabe o meu nome? ── indaguei.
── Ah, é verdade. ── ela riu jogando as mãos para o alto. ── Quando te conheci você já estava desacordada.
── Do que ela está falando? ── sussurrei para o tormento.
── Analie, te apresento a senhorita morte, mas que prefere ser chamada de Alma Flores. ── ele disse apontando para a mulher que riu.
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Borboletas da Liberdade.
Historia CortaA alma desprende do corpo Tentando fugir de toda insanidade Corpos caem do penhasco Tão leves como plumas e penas Enquanto a alma é presa por pesadas algemas Nessa luta interminável Para sair dessa prisão A morte parece atraente A dor se torna insup...