Capítulo 16

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Ted também não havia mandando notícias.

Nem Tommy.

A voz do professor soava tão distante que era quase impossível de compreender o que dizia. Nem ouviu o sinal do fim da aula soar pelo colégio. Uma lágrima rolava sobre seu rosto. Também não sentia fome e manteve o celular sempre por perto na esperança que Tommy retornasse uma de suas inúmeras ligações.

Mas ele nunca retornou.

Voltou para casa com os pensamentos ainda envolvendo o sorriso de Tommy e seus dedilhados no violão. Lembranças boas. Lembranças de quando estava bem. Se perguntava como não havia percebido. Tommy era brincalhão quando estavam juntos. Claro que nunca fora muito social, mas era um garoto aparentemente feliz. Gostava de tocar instrumento de corda e pedia para que cantasse nas ligações antes de dormir.

Adam limpou o rosto. Seu queixo tremeu e uma onda de choro veio novamente. Parou o carro e se desmanchou em lágrimas mais uma vez. Tommy não poderia ter tirado a própria vida.

Quando conseguiu conter as lágrimas e ir para casa, sua mãe ainda não havia chegado do trabalho. Tentou preencher a mente com um novo trabalho escolar, mas nada o mantinha focado. Desligou o computador e tomou um remédio para a dor de cabeça que sentia. Se deitou na cama, encolhido, desejando apenas uma ligação de Tommy.

Qualquer notícia.

Já era noite quando acordou. Sentiu sede e resolveu ir até a cozinha. Sua mãe deveria ter chegado. A encontrou subindo as escadas.

-Que bom que acordou - diz ela com um pequeno sorriso triste - Você tem visita.

Apesar de achar estranho, Adam terminou de descer as escadas e foi para a sala acompanhado de sua mãe. Seus olhos não acreditaram no que viu. Tommy estava parado em frente a porta e abriu um pequeno sorriso ainda mais triste quando o viu.

-Tommy!

Adam correu e o apertou fortemente. Tommy não conseguiu retribuir o abraço. Adam o apertava demais. Sentia as lágrimas de Adam e de seus agradecimentos por vê-lo novamente.

Adam se afastou e encarou Tommy ainda o segurando pelos ombros. Tommy estava ali bem na sua frente. E estava vivo. As roupas estavam sujas, o cabelo sedoso e Tommy parecia não ter tomado banho nos últimos dias. Suas orelhas haviam crescido ao redor dos olhos que parecia cansado. Tommy não deveria ter dormido a dias e estava péssimo.

-Estou tão feliz em ver você - Adam disse ainda emocionado por ver o namorado de volta - Fiquei tão preocupado, por que não me atendeu?

-Vendi meu celular - murmurou.

-Por que?

-Eu... Eu precisava de mais, Adam.

Adam deu um passo para trás. Suas mãos seguraram as de Tommy que já estava com os olhos lacrimejados.

-Tommy, eu posso te ajudar.

-Não, não pode. Sou um viciado. Igual ao meu irmão.

-Eu posso ajudar vocês dois.

-Você vai me internar. Eu não quero ir para lá, Adam. Não quero ficar sozinho de novo. Sou um viciado em heroína agora, sou aquilo que você mais odeia.

Tommy se livrou das mãos de Adam. Parecia nervoso.

-Não precisa ser assim, Tommy. Ainda podemos fazer algo para te ajudar.

-Eu fiz coisas, Adam... Fiz coisas que me arrependo muito e isso, Adam, tem me matado todos os dias. Não teve um minuto se quer que eu não tenha pensando em você. Pensando em alguém que poderia ser melhor para você.

-Tommy, é só um momento difícil, me deixa te ajudar - Adam deu um passo à frente e estendeu a mão.

Tommy recuou. Uma lágrima rolou sobre seu rosto. Adam o internaria em um clínica. Ficaria sozinho como ficou no orfanato. Havia tomado uma decisão e colocaria em prática o quanto antes. Não havia escapatória.

Adam fungou. Suas lágrimas ainda caíam uma a outra. Queria poder abraçar Tommy novamente, mas temia que o loiro recuasse mais uma vez. Limpou o rosto e estendeu a mão mais uma vez.

-Por favor, me deixa fazer alguma coisa por você que sempre fez tanto para mim, Tommy. Não suporto te ver assim, você não está sozinho. Eu estou com você. Vamos passar por isso juntos. Eu te amo, Tommy, não vou deixar você. Eu prometo.

Por um momento, um breve momento de lucidez, Tommy sabia que era verdade. Tudo passou a clarear em sua mente bagunçada. Adam sempre esteve do seu lado mesmo não sabendo de nada. Esteve do seu lado enquanto sangrava em uma banheira. Estava do seu lado quando apontou uma arma para a própria cabeça. E estava ali, mesmo tendo ficado sem notícias, Adam estava ali estendo a mão para ajudá-lo. E não parecia odiá-lo como imaginava que seria.

Sua culpa não cabia no bolso. Mas o anel sim.

Tommy colocou a mão no bolso e pegou anel de Adam. Abriu a mão devagar sentindo o peso da pedra em sua palma. Não quis encarar o namorado. Engoliu a culpa em seco e o gosto era amargo. Adam recuou um passo.

-Foi você?... Tommy...

-Foi eu. Eu nunca quis te machucar, Adam... - mesmo com as lágrimas embaçando o rosto, Tommy encarou Adam - Mas eu não posso mais viver com essa culpa. Não posso mais mentir para você e não me sentir horrível por dentro. Aquele foi o momento horrível da minha vida. Não foi planejado, eu juro! Mas... Você e sua mãe surgiu e eu... Eu fiquei apavorado, Adam, sei que nunca vai me perdoar.

O queixo treme e as lágrimas descem sobre o rosto. O medo que sentiu, o cano frio da arma apontado para sua cabeça, o choro de sua mãe... Nunca pensou que Tommy faria aquilo. Um segundo passo para trás. Sabia que Tommy não era perigoso, mas o medo o fazia recuar. Tommy suspirou.

O loiro dá um passo à frente e pega sua mão. Um arrepio gélido corre pela espinha de Adam. Tommy coloca o anel em sua mão.

-Seja feliz, tá?

Sem mais nenhuma palavra, Tommy deposita um beijo na bochecha de Adam e vai embora.

Whataya Want From Me?Onde histórias criam vida. Descubra agora