"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho
e sobre ele lança toda a força de sua alma,
todo o universo conspira a seu favor."
- Johann Goethe
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Luglio, 07
É quase trivial assentar-se à janela de um ônibus e estender-se sobre visões inusitadas, às vezes, momentos passados que marcam nossas vidas ou segundos futuros que podem decidir o restante do caminhar de nossa persona. Porém, habitualmente, por obra do destino, meus olhos fixavam-se no amanhã de um sonho.
O pequeno lugar que ousava chamar-lhe escritório, parecia mais cheio do que nunca ao alvorecer de uma manhã. Os livros abarrotavam-se no chão de forma desorganizada a olhos que não me pertencessem. A poltrona isolada ao fundo encarregava-se de segurar o peso de minha máquina de escrever, e o piano amarronzado, mansamente amontoava-se de poeira. As cortinas mal postas permitiam o brilho solar dispor-se no episódio pitoresco que apresentava o quarto bagunçado, quase como cenário de uma das pinturas de Van Gogh. A mesa de madeira que me era disposta via-se repleta de meus habituais objetos e chá matutino.
Ainda tentava compreender de forma relutante o motivo dos sonhos pragmáticos que me invadiram nas últimas semanas, e convergiam à mesma vertente dos pensamentos insanos e necessários, O Talento Meridionale. Como benção anunciada através do divino em meio ao negror da fria noite, o Talento do Sul, por alguma razão, tornara-se algo além de uma estátua fria disposta em mármore carrarense. Deliberei perder-me na visão caótica do pequeno quarto. O vazio que meus olhos encontravam além dos móveis e objetos mal postos deslumbrou-se numa visão improvável.
Enquanto escutava o doce som de Satie ao meu ouvido, em imaginação, assentei-me subjetivamente na banqueta que compunha meu piano, encarando a mesa vazia do pequeno cômodo. Apanhei meu bloco de desenho improvisado e aproveitei o caminho sinuoso que levava o ônibus para arriscar-me em um desenho trêmulo sobre tal visão.
O lugar era vestido de luz pelo brilho dourado que adentrava a cortina branca improvisada. O tecido rendado vizinho ao seu, decaía sobre a parede branca de forma desajeitada, na cor bege passava despercebidamente ao fundo. Defini as linhas que compunham minha luminária que seguia do chão até uma altura adequada para iluminar a mesa de madeira.
Sobre a mesa, ressaltei as juvenis margaridas brancas que se viam acompanhadas das singelas folhas de samambaia, das quais eu havia conseguido em uma floricultura quase desconhecida. Estavam dispostas em um pequeno jarro de água, inclinadas sobre meu livro de aparência negra. Delineei o lápis e minha pequena caixa de itens aleatórios que gostava de ter por perto, como uma criança que valoriza sua pelúcia. Os óculos de leitura arredondados que dificilmente usava também estavam sobre a mesa. Do lado direito de tal, minhas chaves eram largadas próximas à xícara de chá que permanecia intocada e os DVDs antigos, faziam companhia aos meus fones.
Era exatamente assim que havia deixado o pequeno quarto. Voltei os olhos ao exterior da janela através da cidade afora, na tentativa de tornar mais legível o que minha mente moldava. Calmamente comecei a desenhar a curvatura de seus ombros, O Talento do Sul estava assentado bem ao meio da mesa. Estava contra mim, os olhos fitos na luz frágil que transpassava a cortina, como se pudesse ver através do bloqueio de tal.
Eu podia vê-lo em plenitude, como se pertencesse àquele lugar ou, uma vez outrora, eu houvesse o visto em tal. Ressaltei da forma mais clara possível os pés sobre tênis brancos de pano e uma camisa de mesma cor que marcava bem sua estatura masculina. O cabelo estava cortado e prendia-se numa cor entre o escuro e claro, era magnifico.
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Renascer ao Talento do Sul
Fanfiction"Ho visto un angelo nel marmo ed ho scolpito fino a liberarlo." Nas palavras precisas traduzia-se: "Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente fui esculpindo até libertá-lo." - Michelangelo Buonarroti (Todos os direitos reservados.)