"Toque a alma das pessoas ao invés de tocar suas feridas. "
- Vilmar Becker
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Settembre, 12
Seus pés encontraram os familiares trilhos como se pertencessem àquele lugar, seguiam em direção ao vagão enferrujado que tanto a agradava. O findar do diurno vespertino entregava um cenário artístico sob os olhos da garota. Acima dela, o céu manchava-se dos tons de violeta ao alaranjado como uma pintura expressada em pinceladas seletas, não podia estar mais bonito.
Ao longe, o Talento do Sul via-se disperso entre as graciosas borboletas que bailavam a cada pequeno movimento dele, como se quisessem aproveitar tudo que a tal pertencia. O reflexo dourado de sua pele entregava-o a divindade que culminava na mais apaixonante feição de maravilha. Os olhos dela, fitos na figura bem definida dele, viram-se preenchidos de surpresa ao notar uma interação inesperada.
Diferente do que ela costumava presenciar, o esculpido estendera sua mão direita como se aguardasse o toque singelo de uma de suas companheiras a repousar sobre o abrigo que ele oferecia. As outras, que permaneciam em sua dança delicadamente vívida, não notaram quando uma curiosa borboleta encontrou-se audaciosa o suficiente para preencher a palma desenhada estendida. Num ritmo calmo, notou-se o tom das asas definidas num branco perolado delongar-se em seus movimentos. De forma sutilmente doce, a pequena criatura se dispôs sobre a palma da arte.
Os olhos dele maravilharam-se num brilho estimado com o toque singelo da pequena criatura e seus lábios ganharam vida num sorriso caloroso, resultando na formação de pequenas depressões nas maçãs de seu rosto. A singela borboleta em sua mão pareceu gostar da reação e agitou suas asas levemente na tentativa de comunicar sua felicidade envolta em satisfação. Naquele momento, nenhuma dança seria mais convidativa a ele, que aquele simples gesto ao qual havia recebido, um toque.
A garota que ao longe observava cada segundo daquela cena, desta feita, viu-se tentada a transpassar os limites estabelecidos por si mesma. Considerou aventurar-se no mar esverdeado que pertencia o brilho das campinas, tocando audaciosamente seus pés descalços na grama. Os cabelos bagunçaram-se ao passar da ventania calma, os olhos possuíam um alvo fixo e sequer vacilavam para encontrar de perto a figura do mármore vivificado.
De forma que pudesse enxergar lateralmente os gestos doces do Talento Meridionale, parou sobre a grama. Quando seus pés findaram seu caminho e viram-se estagnados, a pequena borboleta disposta nas mãos esculpidas dele transfigurou-se bem devagar numa poeira fina e brilhante, que se estendeu em direção ao desconhecido que entregava a brisa, como se ali pertencesse.
Delicadamente, o corpo bem definido do mármore em vida ousou voltar-se na direção da garota. Ela viu-se em choque, atordoada com a cena, seus olhos piscaram várias vezes até que de fato crê-se. O Talento do Sul a via, tão claramente quanto enxergava a si mesmo. Uma a uma, as borboletas que dançavam ao redor dele desapareciam numa opacidade infinita, onde ele sequer entregava a necessidade de notar ou despedir-se daquelas que por tanto tempo foram suas companheiras. Os olhos dele fumegavam vida indômita em labaredas que dançavam no acastanhar de suas íris, as linhas finas que a compunham possuíam um brilho indescritível, estreitamente remanescentes do negror que pertencia o desconhecido. A eficácia de seu sorriso possuía um impacto colossal comparado a tudo que pudesse ser visto em qualquer lugar que acomodasse vida no cosmos, era divino.
A figura feminina sentiu seus olhos carregarem-se de uma emoção desconhecida, o firmamento que consistia em seus pés e pernas, via-se trêmulo diante daquele olhar. Uma pequena lágrima derramou-se sobre suas bochechas, a respiração se tornara pesada num compasso desconhecido. Vagarosamente os lábios dele se entreabriam em satisfação, fazendo cada segundo assemelhar-se a décadas, e então, finalmente, seu tom aveludado enriquecido expressou-se:
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Renascer ao Talento do Sul
Fiksi Penggemar"Ho visto un angelo nel marmo ed ho scolpito fino a liberarlo." Nas palavras precisas traduzia-se: "Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente fui esculpindo até libertá-lo." - Michelangelo Buonarroti (Todos os direitos reservados.)