Fragmentada: Reino de Pesadelos

Capítulo 2

Kalista

Sentada em frente de Ty na carruagem, a observo enquanto ela olha pela janela, seu olhar está triste, melancólico até, sei que ela observa e a residência de nossa família, e que este será seu último dia aqui, pois ela estará na estrada logo pela manhã. Imagino o quanto deve ser difícil, simplesmente deixar para trás o lar onde você viveu por toda suas vida, mas é esse o destinos da grande maioria das jovens de nosso reino, principalmente as nobres.

Desde cedo Ty foi criada tendo em mente que teria duas escolhas ao atingir a maioridade, herdar o posto de chefe da família, ou se casar com alguém influente o suficiente para aumentar a importância da família na sociedade. Como ela não parecia ter interesse ou tato algum para negócios e estratégias, mamãe priorizou então educá-la para ser uma boa esposa de alguém influente. E Ty nunca se queixou, na verdade ela de fato não tinha o mínimo interesse em tomar frente da família quando papai se aposentasse, esse sempre foi um desejo de Tyler.

Mas mesmo depois de completar 20 anos, Ty recusava todas as propostas de casamento que recebia. E ela recebia muitas, de todas as regiões do reino, e até mesmo do exterior vinham candidatos, mas elas recusava todos, o que não era uma surpresa, visto que a importância que nossa família tem no reino. Apesar de ter muitas e muitas opções, nenhum homem havia aquecido seu coração, e Ty continuava a recusá-los, até o dia em que chegou a proposta que ela não poderia simplesmente dizer não. Não se recusa o príncipe herdeiro do trono de Arthlan.

- Como você acha que ele é? - Pergunta Ty sem tirar os olhos da janela. - O príncipe, quero dizer.

Tento me lembrar de como era o príncipe herdeiro, mas a ultima vez que eu o vi fora a muito tempo, éramos crianças, mas já naquela época posso dizer que não íamos muito um com a cara do outro por diversas razões, uma delas era sua prepotência. Mas talvez ele tenha mudado, não teria como eu saber, a região onde moramos apesar de ser relativamente próxima da capital (um ou dois dias de viagem), as notícias que chegam até nós é sempre de terceiros, apenas fofocas. As reais notícias, as importantes quem realmente sabe são o papai e seus subordinados.

- Bem, eu não acho que ele seja uma má pessoa, ouvi dizer que ele era charmoso. - Tentei dizer.

- Sim, eu também ouvi falar desse charme, eu e várias outras garotas que visitam a corte. - Respondeu Tyra ligeiramente incomodada, então ela continuou:

- É que, Kali, ele é o príncipe herdeiro... Um dia se tornará rei... Confesso que eu sonhava com uma espécie de príncipe encantado, mas... não era real, sabe... Eu... eu não quero sei se quero ser rainha Kali.

Dessa vez seus olhos já não estavam na janela, e sim cravados no meu, aflição, insegurança, medo... Tudo isso em um olhar.

Tentando acalmá-la segurei suas mãos nas minhas e falei calmamente:

- Hei, calma. Vai ficar tudo bem. O príncipe não será coroado assim que vocês saírem da cerimônia de casamento, isso só ocorrerá quando o rei não estiver mais em condições de reinar, ou claro, no pior dos casos, quando ele morrer. Além disso, seu casamento ocorrerá somente na primavera do próximo ano, você terá mais de seis meses para conhecer bem seu noivo, se adaptar a corte. - A tranquilizei enquanto afagava suas mão. - Me entristece saber que você estará tão longe, mas você terá uma vida de altíssima qualidade no castelo.

- O tempo desde o recebimento da proposta passou tão rápido... - Contínuo - Já amanhã cedo mesmo você irá partir, não nos veremos até o dia da cerimônia, já que você não me escolheu para ser sua dama de companhia. - Comentei, isso era algo que havia me deixado decepcionada. Como qualquer nobre a espera do casamento na residência do noivo, Tyra tinha o direito e dever de levar ao menos uma dama de companhia, para assegurar suas moral, integridade e essas coisas. Ela poderia escolher qualquer pessoa para estar junto dela até o dia do casamento, mas Tyra havia preferido levar nossa prima, Cindy. Ao ouvir meu comentário final, Ty desviou os olhos e soltou minhas mãos para ajeitar um laço que prendia seu cabelo.