Lenira Almeida Heck
Fifi era a lagarta que nasceu do ovo que alguma borboleta pôs sobre uma folha qualquer. Ao nascer, comia sem parar, tanto que, quando atacava as plantas, não sobrava nenhuma folha sequer.
Mas o tempo passou... Fifi, agora, se preparava para a grande transformação; então saiu à procura de um lugar bem tranquilo.
Depois de caminhar muito, encontrou uma árvore que ficava próxima à toca do Coelho Amarelo.
Lá chegando, subiu, ajeitou-se sobre o tronco e lá ficou, sem comer nem beber, num jejum total.
Ao seu redor, teceu uma casca marrom e, dentro dela, adormeceu por vários dias.
Certa manhã, quando o Coelho Amarelo saía da toca, percebeu que alguma coisa muito estranha estava acontecendo lá em cima do galho. De repente, a casca marrom se rompeu e dela surgiu uma linda Borboleta Azul.
O espanto foi tanto, que o Coelho Amarelo fugiu dali em saltos velozes...
A Borboleta Azul era bela como um anjo, mas muito desengonçada. Suas asas, ainda molhadas, não a deixavam voar. Foi preciso algum tempo para iniciar as primeiras tentativas.
No início, começou voando baixo e bem devagar, com muito cuidado para não se machucar. Outras vezes, era bem atrapalhada, pois, durante os voos, esquecia de bater as asas ou as enroscava uma na outra e, quando isso acontecia, ploft! Caía estatelada. Mas, quanto mais caía, tanto mais insistia.
Com o passar do tempo, a Borboleta Azul tornou-se muito esperta e estava sempre disposta a conhecer novos lugares, tanto que, certo dia, decidiu voar para bem distante muito além das montanhas azuladas que ao longe avistava.
E, assim, embalada pela suave brisa, sobrevoou a imensa planície, rumo ao desconhecido.
A Borboleta Azul sentia-se feliz, muito feliz, tanto que fazia piruetas no ar como se bailasse ao som do vento e do farfalhar das árvores. Enquanto bailava, assim cantava:
Voando no céu azul,
Eu sou feliz, feliz!
Festejando a liberdade
De voar neste mundo sem fim...
Naquelas manhãs de primavera, por toda a parte, as flores se derramavam pelo chão com o seu colorido e perfume. O céu azul era navegado por nuvens brancas, aves e variedades de insetos, no solo, crianças brincando, felizes.
Cansada de voar, a Borboleta Azul pousou sobre um poste sobre um poste e, no alto, ficou a observar o vaivém dos homens.
No início, ficou assustada, mas logo foi se acostumando e passou a admirá-los.
A partir de então, todos os dias, pousava no mesmo lugar só para vê-los passar.
Após longos passeios, a Borboleta Azul procurava abrigo em algum galho frondoso e lá ficava relembrando coisas que tinha visto durante o voo. Um Gesto entre os homens lhe chamou a atenção: duas criaturas se encontraram e, sorrindo, deram-se as mãos.
As Borboleta Azul, mesmo percebendo as diferenças existentes entre as espécies, sentia uma grande simpatia pelos homens, tanto que, se pudesse, entraria no casulo e de lá sairia transformada numa linda mulher, como aquelas que vira passar.
Certo dia, a Borboleta Azul acordou indisposta. Não se preocupou, porque sabia que estava nos dias de pôr os seus ovos. Tranquila, se deixou atrair pelo perfume das flores de um belo jardim. Após saborear o doce néctar, escolheu uma folha nela pôs os ovos.
Mal tinha terminado, sentiu um terrível mal-estar. Suas asas, de repente, ficaram pesadas e suas patas já não lhe obedeciam.
Cambaleando, tentou se formar sobre uma flor. Nesse momento, sentiu alguma coisa prendê-la.
Pela primeira vez, estava próxima do ser que tanto admirava . A sua presença do ser que tanto admirava. A sua presença a encheu de alegria. E, sem nenhuma resistência, se deixou pegar, confiante da bondade humana.
A Borboleta Azul ainda tentou se mexer, mas não conseguiu e ficou imóvel para sempre, porque o seu tempo havia terminado.
Após examiná-la, o colecionador ficou muito contente, por se tratar de uma espécie rara. Em seguida, levou-a para fazer parte de sua coleção.
Entre as tantas que estavam em exposição, a Borboleta Azul era a mais bela, atraindo pessoas de todos os lugares.
Algum tempo depois... longe dali, no belo jardim florido, algumas larvas saíam dos ovos, e um novo ciclo começava.
"As borboletas não dão a certeza de que a vida é um eterno recomeçar."
- Júlia Vehuiah
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Roda de Leitura
Historia CortaUm pequeno livro, criado como resultado de um Projeto de Extensão realizado por alunos do 7º período do curso de Pedagogia da Universidade Metodista de São Paulo (2020). Aqui buscamos escrever alguns contos e pequenos textos para que sejam lidos...