Lenira Almeida Heck
Era uma vez duas irmãs chamadas Cloé e Marli. Elas moravam num vilarejo bem distante; Seu pai era o único professor do lugar. A família vivia nos fundos da escola.
Certo dia, a mãe de um colega e amiga da família resolveu levar um presente para Cloé.
O professor foi à janela e...
_ Cloé! Visita para você!
Ao chegar, dona Elizete entregou-lhe uma pequena caixa.
_ Isto é para você. Cuide bem dela.
Dentro, estava uma pequena ave. Suas penas eram brancas como a neve. Contente, Cloé agradeceu o presente, e saiu para mostrá-lo á irmã.
_ Marli! Marli! Olha o que ganhei!
_ Aposto que esta coisa não tem nome nem certidão de nascimento.
_ Ih! É verdade! - Concordo Cloé, saindo em disparada.
_ Dona Elizete! Dona Elizete! Por favor, espere! A senhora esqueceu de entregar a certidão de nascimento da pintinha.
Conhecedora das brincadeiras de Marli, D. Elizete respondeu:
_ Volte e peça para Marli i ao cartório registrá-la.
Cloé voltou e contou para a irmã o que D. Elizete havia dito.
_ Então, vamos chamá-la... "Branquinha".
E assim ficou.
Num piscar de olhos, Branquinha cresceu, engordou e se transformou numa bela galinha, mansa e cacarejante.
Um belo dia, colocou o seu primeiro ovo, que tinha três gemas. A alegria foi geral.
A mãe de Cloé aproveitou as gemas para fazer uma deliciosa torta em homenagem à filha Marli, que estaria de aniversário no dia seguinte.
O pai comprou-lhe um lindo presente.
Ao abri-lo, Marli pulou de alegria.
_ Oh! Um anel de pérola.
Dias depois, as duas irmãs olhavam Branquinha ciscar. La pelas tantas, Marli tirou o anel do dedo e, num descuido, ele escapou-lhe das mãos, indo cair próximo à Branquinha. Depressa, desceu para pegá-lo. Mas não o encontrou.
E procura daqui, procura dali, nada de o anel aparecer.
Aflita, Marli começou a chover e acusar Branquinha de tê-lo engolido. A partir daquele instante, ela não gostou mais da galinha.
Cloé. mais que depressa, pegou Branquinha e correu para junto do pai.
Marli, soluçando, procurou a mãe e contou tudo o que acontecera. Muito tristes, Lembraram da lenda que dizia: quando as ave engolem algum objeto de outro, três dias depois o outro derrete no ventre. E nada puderam fazer.
O caso logo se espalhou pelo vilarejo. Algumas pessoas começaram a seguir Branquinha por toda parte.
Após os três dais, alguém disse:
_ Ih! Marli... Melhor perder as esperança de encontrar o seu anel.
uma tarde, a garota estava escondida atras de uma moita, abrindo o bico da galinha para ver se o anel estava trancado em sua garganta. Outro dia, lá estava Marli examinando o fiofó da galinha.
Cloé tirou Branquinha das mãos da irmã e saiu correndo. Por causa desses e de outros episódios, Cloé não desgrudou mais de Branquinha, mas espanto causou quando começou a levá-la para a igreja.
O padre não gostou nada daquela ideia maluca. Falando baixinho, dizia:
_ Valha-me, Deus! o que será que o bispo vai pensar, quando souber que aqui neste lugar até as galinhas assistem às missas? Com certeza, serei transferido ou considerado louco. Só me faltava isso!
Mas o pior esta para acontecer. As outras crianças, seguido o exemplo de Cloé, também começaram a levar animais para a igreja: galinhas, coelhos, gansos, preás, cachorro, gatos, cabritos, tinha até uma porquinha recém-nascida com um laço cor de rosa no pescoço. Contam que alguém levou um papagaio cantador, que contava a música Mãezinha do Céu.
O Padre, por sua vez, rezava para que o Bispo não aparecesse tão cedo por aquelas bandas.
Uma tarde, o religioso recebeu um telefonema, avisando que o bispo e sua comitiva estavam a caminho.
O santo homem começou a andar de um lado para outro, muito preocupado. Afrito, coreu à casa dos fiéis para pedir que, enquanto durasse a visita do bispo , ninguém levasse os animais para a igreja.
Houve grande revolta. As crianças não aceitaram o pedido. Os pais concordaram com eles, dizendo:
_ Padre, ou levamos as nossas crianças e seus animais de estimação ou não iremos mais à missa.
O sacerdote suplicou:
_ Por favor, não façam isso, pois estarei acabado.
No domingo, os fiéis foram chagando. Traziam crianças e animais. À medida que iam entrando, o bispo franzia a testa, arregalando os olhos e perguntava:
_ Padre, o que significa isso?
_ Eu posso explicar. É que hoje celebramos o dia de São Francisco... Em junho?!
_ E não é?!
_ Padre, o senhor enlouqueceu?!
_ Será que me enganei tanto assim?! Mas já que o erro foi meu, vamos permitir que os animais fiquem; afinal, o que pensará São Francisco? É ou não é, senhor bispo?
O bispo aceitou a situação, e a missa foi celebrada. Ao terminar a cerimônia, a família de Cloé convidou o padre e o bisco para almoçar. A visita se estendeu até o jantar.
No jantar, foram servidos ovos cozidos. De repente, alguém exclamou:
_ Encontrei!
_ O quê? _ perguntou a mãe.
_ O anel.
Todos falaram ao mesmo tempo:
_ O aneeeel?!
_ Eu também mastiguei alguma coisa! _ disse o pai.
_ Será que o bendito anel está se desmanchando!? _ falou o padre _ Até que enfim, acabou o pesadelo!
O bispo, que desconhecia a história do anel, ficou curioso. Também tinha mastigada algo que quase lhe quebrara os dentes.
Ao examinar, viu que não era o anel, mas sim, uma pequenina pérola.
Suspirando, pensou:
_ É milagre! Só pode ser! E guardou-a no bolso.
O fenômeno passou a se repetir em cada ovo que Branquinha botava.
A família, para protegê-la contra a inveja das pessoas, manteve segredo. Marli ganhou outro anel, tão bonito quanto o primeiro.
Cloé e Marli cresceram, mas o mistério do anel de pérola continuou. Muitos bruxos tentaram descobrir o que acontecera, mas nenhum deles conseguiu.
Quanto à Branquinha... Bem, ela teve bastantes pintinhas e viveu feliz, cacarejando, toda animada. Alguns dizem que era encantada, pois nenhuma outra galinha viveu tanto. Mas a história não termina aí, não.
Uma tarde, Cloé estava sentada no mesmo lugar onde todo o mistério havia começado. De repente, alguma coisa chamou-lhe a atenção. Numa pequena fresta, existente ao pé da escada, avistou o anel há muito tempo perdido. A alegria foi geral, e todos foram felizes enquanto viveram.
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Roda de Leitura
ContoUm pequeno livro, criado como resultado de um Projeto de Extensão realizado por alunos do 7º período do curso de Pedagogia da Universidade Metodista de São Paulo (2020). Aqui buscamos escrever alguns contos e pequenos textos para que sejam lidos...