[01] Cemitério obsoleto.

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A$AP Rocky — Jukebox Joints

Mesmo que não verbalizasse os pensamentos sobre o passado, Jimin sabia que os anos esquecidos em Busan o consumiam de dentro para fora.

E a ideia de estar voltando exatamente para o cemitério obsoleto o assustava um pouco. Talvez, não tanto quanto deveria, não tanto quanto poderia, mas assustava. Tinha consciência de que ninguém levantaria aquelas questões, bom... Ninguém além dele mesmo.

Por isso, sentado no trem que já o levava para sua cidade natal, o jornalista tentava ocupar-se com o seu trabalho. Suas coisas estavam espalhadas por seu colo e o banco onde estava sentado sozinho, fazendo-o ajustar os fones sem fio nas orelhas com brincos e piercings antes de jogar tudo do que não precisava no momento para dentro da bolsa marrom estilo carteiro.

Ligou o iPad apoiado nas coxas, já procurando o arquivo mais acessado nos últimos dias.

Fight_JKvsNS_3.mp4

Uma vez, Jimin leu que quando se está solitário, você sabe que os outros estão (solitários) também. Então, tudo o que se deve fazer é encontrar outra pessoa solitária para serem solitários juntos.

E, por algum motivo que não lhe parecia nítido ainda, o jornalista sentia que estava a caminho de encontrar alguém daquele tipo.

Isto é, se considerava solitário, mas sentia que JK era também.

Não o conhecia, mas era o sentimento que crescia dentro de si e até mesmo o incomodava. Provavelmente, porque aquela sensação o fez assistir todos os vídeos possíveis do outro rapaz que estavam disponíveis na Internet. Ou porque tudo aquilo o fazia perceber que seu trabalho seria mais complicado e sensível do que esperava em um primeiro momento.

Mordeu a língua de leve, dando play no vídeo antes de perceber que estava recebendo uma chamada de seu irmão mais velho. Mutou o vídeo e conectou os fones ao celular, atendendo.

O vídeo que rodava em seu iPad já estava quase decorado na mente, tantas as vezes que Jimin se pôs a assistir. Mas ele sempre perdia o foco de outras coisas quando estava assistindo, reparando em todos os detalhes que poderiam ter fugido de si nos outros momentos que viu aquela mesma gravação.

Jimin? Tá me ouvindo?

Piscou continuamente, pegando o telefone deixado ao seu lado no assento e aumentando o volume dos fones de ouvido sem fio.

— Sim, desculpe. Me distraí. — respondeu, esperando que seu irmão não entendesse tão rápido qual era o problema. Mas passavam boa parte dos dias juntos, então era impossível que ele não compreendesse.

Você tá vendo aquele vídeo de novo? — não disse nada, fazendo com que ele tomasse seu silêncio como uma afirmação. — Ugh, me dá um pouco de agonia. É muito violento.

Desceu os olhos até o aparelho em seu colo, as cenas da luta passavam e ele só conseguia analisar o rapaz de fios bem escuros e não muito longos que acabavam em mechas azuis. Ele desviava com avidez dos socos oponentes, o olhar parecia analisar tudo ao mesmo tempo que pareciam vidrados em um único ponto. Seus movimentos de ofensiva eram certeiros, julgando doer muito mais do que aparentava e o sorriso dele... Jimin não sabia o que sentir com a ideia de que ele realmente gostava daquilo tudo.

O deixava confuso e meio enojado, mas permanecia muito curioso.

— É interessante. — finalmente respondeu, mas seus olhos ainda estavam presos no vídeo gravado. Sabia que seu irmão não entenderia, afinal, Namjoon estava sem entender nada desde o momento que o mais novo aceitou trabalhar naquela matéria. — Me dá vontade de saber o porquê de ele brigar. Sei lá. Como ele aguenta tantos socos?

Namjoon riu e seu irmão naturalmente imaginou-o dando de ombros.

Espero que descubra tudo isso, até porque precisamos de todo o material possível. — finalmente pausou o vídeo e suspirou. — Eu e Taehyung chegaremos depois de amanhã, ok? Temos que terminar as gravações da reportagem com Jie-noona.

Assentiu, em silêncio, só então percebendo que o outro não conseguia vê-lo. Então suspirou, fitando a janela durante alguns segundos.

— Sem problemas, enquanto isso eu vou entendendo como tudo funciona por lá.

A verdade era que Jimin estava até que tranquilo para a pequena viagem e, por isso, Namjoon estava preocupado pelos dois. — Tem certeza de que não é perigoso?

— Nós já moramos lá, Namjoon, lembra? — riu de forma curta e baixa, quase muda. — Não tem o que temer.

— Sim, nós já moramos lá e é exatamente por isso que eu tenho medo. Nunca foi muito agradável.

Apesar de tentar passar tranquilidade ao irmão mais velho, o jornalista possuía seus receios com o local.

Ajeitou-se no banco do trem, checando o relógio do celular antes de fitar o céu através da janela grande, percebendo que chegaria pouco depois de anoitecer. Suspirou então, lembrando que estava voltando para sua cidade natal depois de anos afastado, sem contatos com ninguém que não fossem seus pais.

E, bem, Park gostaria de estar animado com a volta, mas todas as suas memórias naquela cidade, naquele bairro, estavam repletas de dor, ansiedade e tristeza. Lembrar do passado, para ele, era lembrar de uma dor com a qual ainda não havia aprendido a lidar.

Quando ele terminou o colegial, decidiu morar com o irmão que já estava na capital. Após isso, o jornalista esforçou-se para transformar tudo o que sentia em coisas mais lógicas, práticas e otimistas.

Mas, naquele trem, contando os minutos para estar de volta, nada nele era otimista.

Do Outro Lado Do Ringue | kook+minOnde histórias criam vida. Descubra agora